Câncer de ovário epitelial: diagnóstico e avanços nas terapias-alvo

O câncer de ovário, epitelial é um dos tipos mais prevalentes de câncer ginecológico, representando cerca de 95% dos casos diagnosticados. Este tipo de neoplasia se origina nas células epiteliais que revestem os ovários e possui características distintas que influenciam seu diagnóstico e tratamento.

O que é o Câncer de Ovário Epitelial?

O câncer de ovário epitelial é um tumor maligno que, ao longo do tempo, pode se disseminar para outras partes da cavidade abdominal, dificultando o tratamento e comprometendo as chances de cura. Existem cinco subtipos principais desse câncer:

  1. Seroso: O mais comum e agressivo, geralmente diagnosticado em estágios avançados.
  2. Mucinoso: Caracterizado pela produção de muco, pode ser mais raro.
  3. Endometrioide: Associado frequentemente a endometriose.
  4. Células Claras: Geralmente apresenta características mais agressivas.
  5. Tumores Indiferenciados: Apresentam uma morfologia menos definida.

A classificação precisa do subtipo é crucial, pois pode impactar diretamente o prognóstico e a escolha do tratamento.

Diagnóstico precoce

No Brasil, a estimativa é que mais de 60 mil novos casos de câncer de ovário sejam diagnosticados anualmente, com uma previsão de 73.610 novos casos para o triênio 2023-2025, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). A detecção precoce é fundamental para melhorar o prognóstico, pois muitos casos são diagnosticados em estágios avançados.

Os sinais que podem indicar a presença da doença incluem:

  • Dores abdominais persistentes
  • Aumento do volume abdominal
  • Alterações nos hábitos intestinais (como constipação ou diarreia)
  • Dificuldade para comer ou sensação de saciedade rápida
  • Mudanças nos hábitos urinários (como urgência ou aumento da frequência)

O diagnóstico do câncer de ovário epitelial é complexo e geralmente requer uma abordagem multidisciplinar que combina diversos métodos de avaliação. Os passos típicos no processo diagnóstico incluem:

  1. Exame Físico: O médico realiza um exame físico completo, que pode incluir a palpação do abdômen e da pelve para detectar qualquer massa ou aumento do volume abdominal. Sinais como dor ou sensibilidade também são avaliados.
  2. Ultrassonografia Pélvica ou Transvaginal: A ultrassonografia é uma das principais ferramentas de imagem utilizadas para avaliar os ovários. A ultrassonografia transvaginal é particularmente eficaz, pois fornece uma visualização mais detalhada dos ovários e estruturas pélvicas. Ela pode ajudar a identificar cistos, massas ou outras anomalias que possam indicar a presença de câncer.
  3. Tomografia Computadorizada (TC): A TC é empregada para obter imagens detalhadas da cavidade abdominal e pélvica. Este exame ajuda a determinar o tamanho do tumor, sua localização e se há envolvimento de órgãos adjacentes ou metástases.
  4. Análise de Marcadores Tumorais: A dosagem de marcadores tumorais no sangue é uma parte importante do diagnóstico. O CA-125 é um dos marcadores mais conhecidos associado ao câncer de ovário. Embora não seja específico para o câncer de ovário (podendo estar elevado em outras condições), níveis elevados de CA-125 podem indicar a presença da doença e são utilizados para monitorar a resposta ao tratamento e a recorrência da doença.
  5. Biópsia e Cirurgia Exploratória: Se os exames iniciais sugerirem a presença de câncer, uma biópsia do tecido tumoral pode ser realizada para confirmar o diagnóstico. Isso pode ser feito por meio de uma biópsia por aspiração com agulha fina ou durante uma cirurgia exploratória, onde uma amostra do tumor é removida e analisada em laboratório. A cirurgia exploratória não só permite a confirmação do diagnóstico, mas também pode ser terapêutica, permitindo a remoção de tumores quando apropriado.

Histórico Familiar de Câncer de Ovário

Mulheres com parentes de primeiro grau (mãe, irmã, filha) que tiveram câncer de ovário estão em maior risco de desenvolver a doença. É recomendável que essas mulheres discutam com seus médicos sobre estratégias de monitoramento mais intensivas, incluindo a realização de exames de imagem e testes genéticos, se necessário.

Síndromes Genéticas

Mulheres que têm mutações conhecidas em genes como BRCA1 e BRCA2, que aumentam o risco de câncer de mama e ovário, devem ser acompanhadas de perto e considerar opções de rastreamento e, potencialmente, intervenções preventivas.

A conscientização sobre os sinais e sintomas do câncer de ovário, juntamente com a realização de exames regulares, pode levar a diagnósticos mais precoces, o que é fundamental para melhorar as taxas de sobrevida e os resultados de tratamento.

Avanços nas terapias-alvo para o câncer de ovário epitelial

Nos últimos anos, houve avanços significativos no tratamento do câncer de ovário, especialmente com o desenvolvimento de terapias-alvo. Essas terapias representam uma revolução no tratamento oncológico, permitindo uma abordagem mais precisa e personalizada, visando diretamente as células tumorais e minimizando os efeitos colaterais.

Os inibidores de PARP, como olaparibe e niraparibe, são exemplos de medicamentos que têm mostrado resultados promissores no tratamento do câncer de ovário epitelial avançado. Inicialmente, esses fármacos eram indicados para pacientes com mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, mas agora estão sendo utilizados em uma população mais ampla, incluindo aquelas sem essas mutações.

Esses medicamentos atuam inibindo a capacidade das células cancerígenas de reparar danos no DNA, levando à morte celular. Estudos recentes demonstraram que a terapia contínua com inibidores de PARP após a quimioterapia pode reduzir significativamente o risco de recidiva e aumentar a sobrevida livre de progressão em pacientes com câncer recém-diagnosticado em estágio avançado.

Essas terapias atuam diretamente nas células cancerígenas, impedindo sua capacidade de reparar danos no DNA e as eliminando. Estudos têm demonstrado que o uso contínuo desses medicamentos após a quimioterapia pode reduzir o risco de recidiva da doença e aumentar a sobrevida sem progressão em pacientes com câncer recém-diagnosticado em estágio avançado.

Além disso, a pesquisa em torno do bevacizumabe, um anticorpo monoclonal que inibe o crescimento de vasos sanguíneos que alimentam os tumores, também está em desenvolvimento. Quando utilizado em combinação com outras terapias, como imunoterapia e quimioterapia, o bevacizumabe pode oferecer novos caminhos no tratamento de pacientes com câncer de ovário epitelial.

Revisão médica:

Dra. Fernanda Frozoni Antonacio

Oncologista Clínica

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