Esses tumores podem afetar diferentes partes do organismo e têm se tornado foco de atenção devido a avanços significativos no diagnóstico e nas opções de tratamento, o que tem contribuído para uma melhora expressiva nas perspectivas de vida dos pacientes.
O que são tumores neuroendócrinos?
Os tumores neuroendócrinos podem se desenvolver em diversas partes do corpo, como pâncreas, pulmões, intestino, estômago, apêndice e glândula tireoide. Devido à sua capacidade de secretar hormônios, os TNEs podem causar uma ampla gama de sintomas hormonais, variando conforme o tipo e a localização do tumor. Além disso, o comportamento desses tumores é bastante variável: alguns são indolentes, com crescimento lento e menor risco de esplhar, enquanto outros têm comportamento mais agressivo, com rápido crescimento e tendência à metástase, o que demanda tratamentos intensivos e multidisciplinares. Essa diversidade na apresentação e comportamento dos TNEs representa um desafio para o diagnóstico e o tratamento, exigindo abordagens personalizadas que considerem a localização, funcionalidade e grau de agressividade de cada tumor.
Quais são os tipos de tumores neuroendócrinos?
Tumores Neuroendócrinos Bem Diferenciados (Grau 1 e Grau 2):
- Grau 1 (baixo grau): Caracterizam-se por um índice de proliferação (Ki-67) de até 2% e um número reduzido de mitoses (menos de 2 por 10 campos de alta ampliação). Esses tumores geralmente têm crescimento lento e baixa agressividade.
- Grau 2 (grau intermediário): Apresentam um índice de Ki-67 entre 3% e 20% e entre 2 a 20 mitoses por 10 campos de alta ampliação. Esse grau indica um crescimento um pouco mais rápido, mas ainda moderado, com comportamento mais agressivo do que os de grau 1.
Carcinomas Neuroendócrinos (Grau 3):
- Grau 3: Conhecidos como carcinomas neuroendócrinos de alto grau, esses tumores apresentam um índice Ki-67 acima de 20% e mais de 20 mitoses por 10 campos de alta ampliação. Eles são mais agressivos e apresentam rápida proliferação, sendo associados a maior potencial metastático e pior prognóstico.
Subclassificação pela Funcionalidade:
- TNEs Funcionais: Secretam hormônios que podem causar síndromes clínicas específicas, como a síndrome carcinoide (associada a rubor facial e diarreia) em tumores produtores de serotonina.
- TNEs Não Funcionais: Não produzem hormônios ativos, sendo muitas vezes assintomáticos até atingirem tamanhos maiores ou causarem obstrução local.
Subclassificação pela Localidade:
Tumores Neuroendócrinos Gastrointestinais (TNEs GI)
- Características: Representam a maior parte dos tumores neuroendócrinos, desenvolvendo-se ao longo do trato gastrointestinal, especialmente no intestino delgado, reto, estômago e cólon. Em geral, são tumores de crescimento lento (indolentes), o que permite um prognóstico mais favorável em muitos casos. A maioria dos TNEs GI é bem diferenciada, podendo ser funcional (com produção hormonal que causa sintomas específicos) ou não funcional.
Tumores Neuroendócrinos Pulmonares
- Características: Correspondem a aproximadamente 25% dos TNEs e surgem nas vias respiratórias, particularmente nos pulmões e brônquios. Assim como os TNEs GI, esses tumores variam em grau de agressividade e podem ser funcionais ou não funcionais. A classificação inclui subtipos como os carcinoides típicos e atípicos, com comportamento biológico variado, desde crescimento lento até padrões mais agressivos.
Tumores Neuroendócrinos Pancreáticos (TNEs Pancreáticos)
- Características: Desenvolvem-se nas células neuroendócrinas do pâncreas e são classificados em funcionais e não funcionais. Tumores funcionais secretam hormônios específicos, como insulina ou gastrina, que podem causar síndromes clínicas específicas, enquanto os não funcionais frequentemente permanecem assintomáticos até se tornarem grandes o suficiente para causar sintomas compressivos ou obstrutivos. O comportamento pode variar de crescimento lento a mais agressivo, dependendo do grau de diferenciação celular.
Outros Tumores Neuroendócrinos Raros
- Características: Embora menos comuns, TNEs podem surgir em outras regiões, incluindo:
- Glândula tireoide: Tumores medulares da tireoide.
- Pele: Câncer de células de Merkel, um tumor neuroendócrino cutâneo raro e agressivo.
- Glândulas suprarrenais: Feocromocitoma, que pode produzir catecolaminas e levar a hipertensão grave.
- Timo: Tumores neuroendócrinos tímicos, que são raros e de comportamento variável.
Cada um desses tumores apresenta particularidades em seu comportamento, sendo que os avanços no diagnóstico e nas terapias têm permitido abordagens mais específicas para cada tipo, melhorando o manejo clínico e o prognóstico.
Quais são os sintomas de tumores neuroendócrinos?
Os sintomas dos tumores neuroendócrinos (TNEs) variam amplamente de acordo com sua localização, tipo e capacidade de produzir hormônios. Podem incluir:
- Diarreia ou constipação: Comum em TNEs gastrointestinais funcionais, devido à produção hormonal que afeta o trato digestivo.
- Dor abdominal: Frequentemente causada por tumores que pressionam estruturas adjacentes.
- Perda de peso inexplicada: Pode ser resultado de alterações metabólicas ou do efeito dos hormônios liberados.
- Rubor facial: Característico de tumores que secretam serotonina, como os carcinoides, resultando em vermelhidão repentina e sensação de calor.
- Aumento da frequência cardíaca: Observado em casos de feocromocitoma, devido à liberação excessiva de catecolaminas.
- Alterações nos níveis de glicose no sangue: Típico dos tumores pancreáticos funcionais, que podem produzir insulina ou glucagon, afetando o equilíbrio de glicose.
Além disso, a produção hormonal dos TNEs pode simular outras doenças, como síndrome de Cushing ou diabetes, o que complica o diagnóstico e frequentemente leva a uma avaliação tardia. Em muitos casos, esses tumores são identificados em estágios avançados, após a manifestação de sintomas persistentes ou incidentalmente em exames de imagem de rotina.
Como é feito o diagnóstico dos tumores neuroendócrinos?
O diagnóstico dos tumores neuroendócrinos (TNEs) envolve uma combinação de exames e análises laboratoriais, que ajudam a identificar a localização, o tipo e a funcionalidade do tumor:
- Exames de imagem: Técnicas como tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RM) e PET-Scan são fundamentais para visualizar o tumor e determinar sua extensão. O PET-Scan com DOTATOC ou DOTATATE, em particular, é útil para localizar TNEs que expressam receptores de somatostatina.
- Testes hormonais: Análises de sangue e urina são usadas para medir os níveis de hormônios e substâncias específicas (como serotonina, cromogranina A, e ácido 5-hidroxiindolacético) que podem estar elevados em TNEs funcionais. Esses testes ajudam a confirmar a atividade hormonal e identificar o tipo de tumor.
- Biópsia: A coleta de uma amostra do tecido tumoral permite análise histopatológica, essencial para determinar a diferenciação celular e o grau do tumor. A biópsia também pode incluir imunohistoquímica para identificar marcadores específicos das células neuroendócrinas.
Esses métodos diagnósticos, combinados, fornecem informações essenciais para o planejamento do tratamento e a definição do prognóstico dos TNEs.
Sobre o PET (tomografia por emissão de pósitrons) para tumores neuroendócrinos
A tomografia por emissão de pósitrons é uma técnica de imagem avançada amplamente utilizada para o diagnóstico, estadiamento e monitoramento de tumores neuroendócrinos (TNEs) e outros tipos de câncer. A PET usa traçadores radioativos para detectar alterações metabólicas e bioquímicas nas células, oferecendo uma visão funcional do corpo e dos processos tumorais, ao contrário das tomografias computadorizadas (TC) e ressonâncias magnéticas (RM), que mostram principalmente aspectos anatômicos.
Para TNEs, o PET-Scan é frequentemente realizado com radiofármacos específicos que identificam os receptores de somatostatina presentes na superfície das células neuroendócrinas, como o PET com DOTATATE (ou DOTATOC). Esse radiofármaco, marcado com o isótopo Gálio-68, se liga aos receptores de somatostatina nos TNEs, permitindo que as células tumorais sejam visualizadas com maior precisão. Esta abordagem é particularmente eficaz para TNEs bem diferenciados, nos quais os receptores de somatostatina são altamente expressos.
Principais Radiofármacos Utilizados no PET
- Gálio-68 DOTATATE/DOTATOC: Preferido para TNEs bem diferenciados, pois se liga fortemente aos receptores de somatostatina nas células neuroendócrinas. Esse exame permite um mapeamento detalhado dos tumores que expressam esses receptores, tornando-o essencial para a avaliação da extensão da doença e a possibilidade de tratamento com radioterapia com peptídeo (PRRT).
- Fluorodeoxiglicose (18F-FDG): Utilizado para TNEs de alto grau e agressivos, nos quais a glicose é metabolizada em alta taxa. Tumores mais indiferenciados ou de crescimento rápido respondem melhor a esse tipo de PET, que detecta atividade metabólica aumentada, característica dos tumores agressivos.
Vantagens do PET para Tumores Neuroendócrinos
- Precisão no estadiamento: O PET-Scan oferece informações precisas sobre a extensão do tumor, incluindo metástases que podem não ser visíveis em exames convencionais.
- Avaliação da resposta ao tratamento: O PET pode monitorar mudanças metabólicas no tumor durante e após o tratamento, ajudando a avaliar a eficácia das terapias.
- Identificação de candidatos para PRRT: Como o PET com DOTATATE/DOTATOC avalia a presença de receptores de somatostatina, ele ajuda a identificar pacientes que podem se beneficiar da radioterapia com peptídeo.
O uso do PET representa um avanço significativo no diagnóstico e tratamento dos tumores neuroendócrinos, permitindo estratégias mais personalizadas e eficazes para o manejo da doença.
Avanços no tratamento dos tumores neuroendócrinos
O tratamento dos tumores neuroendócrinos (TNEs) é determinado pelo tipo, localização, tamanho e estágio do tumor, e a abordagem costuma ser personalizada. Entre as principais opções terapêuticas estão:
Cirurgia: É a abordagem inicial preferida para tumores localizados, com o objetivo de remover completamente o tumor e minimizar a chance de recorrência. A cirurgia pode ser curativa em casos de TNEs de crescimento lento e localizados, com poucas metástases.
Terapias alvo: fármacos como everolimus e sunitinibe são usados em TNEs avançados ou metastáticos. Essas terapias atuam bloqueando as vias de sinalização que promovem o crescimento tumoral e a formação de novos vasos sanguíneos, contribuindo para o controle do tumor e extensão da sobrevida dos pacientes.
Radioterapia com Peptídeo (PRRT): sta técnica inovadora usa radioisótopos ligados a peptídeos específicos para direcionar a radiação diretamente às células tumorais neuroendócrinas. O PRRT, especialmente com Lutécio-177 DOTATATE, é altamente eficaz para TNEs que expressam receptores de somatostatina, preservando tecidos saudáveis. Estudos têm demonstrado que o PRRT pode não apenas reduzir o tamanho do tumor, mas também melhorar a qualidade de vida e o prognóstico.
Quimioterapia: indicada principalmente para TNEs agressivos e de alto grau (pouco diferenciados), especialmente em casos onde o tumor já se espalhou. A quimioterapia pode ser eficaz na redução do crescimento de TNEs rapidamente proliferativos, oferecendo controle temporário da doença.
Tratamento hormonal: medicamentos como octreotida e lanreotida são eficazes para TNEs funcionais, ajudando a controlar a produção hormonal excessiva que causa sintomas debilitantes. Esse tratamento melhora o bem-estar do paciente, reduzindo sintomas como rubor facial, diarreia e alterações metabólicas.
Embora os tumores neuroendócrinos sejam uma categoria rara de câncer, os avanços no diagnóstico precoce e as novas terapias têm proporcionado melhores prognósticos. A descoberta de tratamentos mais específicos, como a PRRT, demonstra o quanto a medicina personalizada está progredindo para oferecer opções mais eficazes e menos invasivas.