A relação entre saúde mental e doenças físicas, especialmente o câncer, é um tema que desperta grande interesse e gera debates na comunidade científica. Muitas pessoas se perguntam se a ansiedade, a depressão e o estresse poderiam influenciar o desenvolvimento de tumores. Estudos recentes têm desafiado essa hipótese, trazendo uma compreensão mais embasada sobre como os fatores psicológicos impactam a saúde física.
O que dizem as pesquisas?
Um estudo publicado na Cancer, revista da Sociedade Americana de Câncer, analisou dados de mais de 320 mil adultos na Europa e na América do Norte. Os pesquisadores concluíram que não havia evidências de que a depressão ou a ansiedade aumentam o risco de câncer em geral, incluindo tipos comuns como câncer de mama, próstata e colorretal.
No entanto, observaram que, em casos específicos, como câncer de pulmão e garganta, a presença de ansiedade e depressão parece estar associada a um risco aumentado. Essa associação, porém, foi substancialmente reduzida quando outros fatores de risco, como tabagismo e consumo excessivo de álcool, foram levados em conta.
Outro estudo, realizado por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, demonstrou que ratos com câncer submetidos a estresse crônico apresentaram um aumento em desenvolver metástases. Essa descoberta sugere que o estresse pode facilitar a propagação do câncer, mas não necessariamente sua formação inicial.
O papel do estresse e da ansiedade
Embora não haja evidências de que a ansiedade ou o estresse possam causar diretamente o câncer, esses fatores podem influenciar a resposta imunológica e o bem-estar geral dos pacientes oncológicos. Altos níveis de estresse emocional após o diagnóstico podem impactar negativamente a capacidade do organismo de enfrentar a doença e responder ao tratamento.
De acordo com o artigo “Como os fatores psicológicos influenciam o surgimento e progressão do câncer?”, publicado na Nature Reviews Cancer, o estresse crônico pode prejudicar a resposta imunológica, tornando os pacientes mais suscetíveis a infecções e complicações durante o tratamento. Além disso, alterações comportamentais induzidas pelo estresse, como alimentação inadequada, consumo excessivo de álcool e sedentarismo, podem comprometer o prognóstico da doença.
A visão dos especialistas
Especialistas em oncologia enfatizam que, embora os fatores emocionais possam influenciar a qualidade de vida dos pacientes com câncer, eles não são considerados causas diretas da doença. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) reforça que os principais fatores de risco conhecidos para o câncer incluem exposição a carcinógenos, como substâncias químicas, radiação ionizante e infecções virais.
Adotar uma abordagem integrada no tratamento oncológico é essencial. Embora a ideia de que a ansiedade causa câncer seja uma simplificação excessiva, há evidências que sugerem que o estresse poderia afetar a progressão da doença em pacientes diagnosticados. Portanto, o suporte psicológico deve ser considerado um elemento fundamental na assistência ao paciente oncológico.
Principais pontos
- Ansiedade e depressão: não há evidências de que aumentem diretamente o risco de câncer;
- Estresse: pode impactar negativamente o sistema imunológico e facilitar a progressão do câncer em pacientes diagnosticados;
- Fatores comportamentais: o estresse pode levar a hábitos prejudiciais à saúde, como tabagismo e má alimentação;
- Importância da saúde mental: suporte psicológico melhora a qualidade de vida e pode favorecer a resposta ao tratamento.
A gestão emocional é uma parte vital do cuidado oncológico. Pacientes diagnosticados com câncer devem ser amparados não apenas em suas necessidades físicas, mas também em sua saúde mental. Programas de suporte psicológico são fundamentais para ajudar os pacientes a lidar com o estresse e a ansiedade associados ao diagnóstico e ao tratamento do câncer.
