A saúde mental tem ganhado relevância nas últimas décadas, com estudos que evidenciam sua influência direta na saúde física e na qualidade de vida. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo enfrenta algum transtorno mental, e a pandemia de COVID-19 intensificou esses números. No Brasil, dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) indicam que 10% da população sofre de depressão, uma das principais causas de incapacitação global.
No contexto oncológico, o impacto da saúde mental é ainda mais evidente. Pacientes diagnosticados com câncer enfrentam não apenas os desafios físicos da doença e do seu tratamento, mas também um grande peso emocional e psicológico. Assim, o Janeiro Branco, uma campanha dedicada à conscientização sobre saúde mental, assume uma importância relevante para alertar pacientes, familiares e profissionais sobre o papel da mente na jornada oncológica.
O diagnóstico de câncer provoca uma série de reações emocionais intensas, como medo, tristeza e ansiedade, sendo a depressão reconhecida como o transtorno psiquiátrico mais comum entre pacientes com câncer. De acordo com informações do estudo “Depressão e câncer”, publicado no Archives of Clinical Psychiatry, a taxa de depressão entre pacientes oncológicos varia entre 22% e 29%. Essa variabilidade é influenciada por diversos fatores, incluindo o tipo e estágio do tumor, a presença de dor, a condição física do paciente e o suporte social disponível. A relação entre depressão e câncer é preocupante, pois a condição está associada a um pior prognóstico e ao aumento da mortalidade.
Além disso, sentimentos de tristeza e desespero podem inibir a busca por cuidados adequados, dificultando o reconhecimento da depressão em pacientes oncológicos. Essa situação é agravada pelo fato de que muitos pacientes não relatam seus sintomas emocionais, levando a um ciclo vicioso que pode comprometer ainda mais sua saúde.
Os dados revelam ainda que a presença de dor e metástases aumenta a prevalência de depressão. Por exemplo, em outro estudo específico para câncer de mama, publicado no The BMJ, 50% das mulheres com câncer de mama precoce apresentaram depressão, ansiedade ou ambos no primeiro ano após o diagnóstico. Esses números destacam a necessidade urgente de monitoramento psicológico contínuo e intervenções adequadas durante o tratamento oncológico.
Portanto, é essencial que os cuidados oncológicos integrem suporte psicológico, promovendo uma abordagem biopsicossocial que considere tanto os aspectos físicos quanto os emocionais da doença.
Ressalta-se que, nesse contexto, o papel da família é imprescindível para a saúde mental na jornada oncológica, principalmente na identificação de sinais de sofrimento emocional do paciente. Como principais cuidadores, eles estão em posição privilegiada para identificar sinais de alerta, como:
- Alterações no humor;
- Mudanças nos hábitos;
- Isolamento social;
- Dificuldades cognitivas (problemas de concentração ou de memória).
A orientação de um profissional de saúde mental é fundamental ao notar esses sinais. Psicólogos e psiquiatras especializados em oncologia oferecem suporte tanto ao paciente quanto à família, ajudando no enfrentamento das adversidades emocionais e contribuindo para a adesão ao tratamento.
Cuidar da saúde mental é essencial para um bom prognóstico do tratamento contra o câncer. Mais do que um elemento complementar, o bem-estar emocional é um componente integral nessa jornada. No Janeiro Branco, faz parte do nosso trabalho promover a conscientização sobre o tema e incentivar o acesso a redes de apoio e a profissionais capacitados.
Ao cuidar da mente, aumentamos as chances de uma evolução clínica positiva, alcançando qualidade de vida durante e após o tratamento.