Valvulopatias: o que são, causas, diagnóstico e tratamento
As valvulopatias são condições que afetam as válvulas cardíacas, prejudicando a capacidade do coração de bombear sangue de forma eficiente. O envelhecimento é a causa mais comum dessa condição.
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As valvulopatias são alterações que afetam as válvulas do coração, estruturas essenciais para o funcionamento adequado do órgão. Essas válvulas garantem que o sangue flua na direção correta, evitando refluxos e garantindo a eficácia da circulação.
Quando uma ou mais válvulas apresentam problemas, a capacidade do coração de bombear sangue adequadamente pode ser comprometida, levando a sintomas que variam de leves a graves.
De acordo com um estudo publicado na ABC Cardiol, a insuficiência mitral primária crônica está entre as valvopatias mais comuns em todo o mundo. Neste texto vamos abordar o que são valvulopatias, causas, diagnóstico e tratamento. Continue lendo e entenda.
O que são valvulopatias?
Valvulopatias são doenças que acometem as 4 válvulas cardíacas: aórtica, mitral, tricúspide e pulmonar, prejudicando o funcionamento do coração. Dr. Cleverson Zukowski, cardiologista intervencionista, coordenador do serviço de hemodinâmica da Rede D’Or, explica que essas válvulas funcionam como comportas que se abrem e fecham a cada batida cardíaca, garantindo uma circulação sanguínea coordenada e eficiente.
As valvulopatias podem ser classificadas como primárias ou secundárias, dependendo de sua causa. “Nas valvulopatias primárias, o defeito estrutural está na própria válvula, em seus folhetos e estruturas adjacentes. Nas valvulopatias secundárias, uma doença na estrutura do próprio coração, seja no ventrículo, seja no átrio, ou mesmo em uma grande artéria que sai do coração, como a aorta, promove alterações secundárias nas válvulas cardíacas, decorrentes da geometria cardíaca”, descreve Dr. Zukowski.
As valvulopatias podem se manifestar de duas formas principais: estenose e insuficiência ou regurgitação. Dentro dessas categorias, existem subgrupos específicos.
Na estenose ocorre quando a válvula não abre completamente, restringindo o fluxo sanguíneo. “As válvulas são mais enrijecidas, calcificadas e consequentemente não abrem adequadamente, dificultando a passagem de sangue pelo coração”, ressalta.
Na insuficiência ou regurgitação ocorre quando a válvula não fecha adequadamente, permitindo que o sangue volte no sentido oposto. “No momento que deveriam se fechar, não o fazem adequadamente por problemas em sua estrutura, permitindo regurgitação de sangue, que normalmente não deveria ocorrer naquele momento”, explica o cardiologista.
Nos subgrupos específicos dos tipos mais comuns de valvulopatias estão:
Estenose mitral:
A estenose mitral é mais comum em mulheres, representando cerca de 66% dos casos, e na maioria das vezes tem origem reumática. “A válvula mitral, que recebe sangue rico em oxigênio, vindo dos pulmões, está mais fechada que o habitual. Com isso, o sangue fica represado na circulação pulmonar, promovendo um quadro por vezes de dificuldade respiratória”, descreve Dr. Cleverson Zukowski.
Estenose aórtica:
A prevalência da estenose aórtica em idosos com mais de 75 anos é estimada entre 3% e 5%. “A válvula aórtica está mais fechada e espessada que o habitual, dificultando a saída de sangue do coração para todo o corpo. Com isso, existe uma sobrecarga de pressão ao ventrículo esquerdo para ejetar o sangue para todo o organismo”, explica.
Insuficiência mitral:
“A válvula mitral não fecha adequadamente, e com isso permite a regurgitação de sangue para o átrio esquerdo e circulação pulmonar, promovendo sobrecarga dessas estruturas”, ressalta Dr. Zukowski.
Insuficiência aórtica:
“A válvula aórtica não fecha adequadamente no momento que deveria se fechar, e com isso ocorre regurgitação de sangue que foi ejetado na aorta (artéria que deveria conduzir esse sangue a todo o organismo) de volta ao coração, promovendo uma sobrecarga de volume ao órgão”, aponta.
Insuficiência tricúspide:
“Essa válvula, diferentemente das outras descritas, está do lado direito do coração e deveria coordenar a passagem de sangue pobre em oxigênio, trazido pelas veias ao coração, para os pulmões oxigenarem esse sangue”, descreve o cardiologista.
Quando não se fecha adequadamente, a regurgitação do sangue de volta às veias promove congestão de órgãos nobres como fígado, rins, além de promover inchaço no corpo, principalmente nas pernas.
Tanto a estenose quanto a insuficiência sobrecarregam o coração e, se a valvulopatia não for tratada, o paciente pode evoluir para um quadro de insuficiência cardíaca.
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Causas das valvulopatias
As valvulopatias podem ter diferentes origens. Algumas são congênitas, resultantes de defeitos na formação das válvulas durante a gestação. No entanto, de acordo com o Dr. Cleverson Zukowski, a maioria é adquirida, ocorrendo como consequência do envelhecimento, de infecções que afetam as válvulas ou de reações imunológicas exacerbadas a essas infecções, como na febre reumática.
“A causa mais frequente, sem dúvidas, é o próprio envelhecimento, que promove uma degeneração das estruturas cardíacas”, destaca.
O envelhecimento pode causar alterações nas válvulas cardíacas, principalmente no caso das valvulopatias secundárias. Isso ocorre porque fatores de risco que sobrecarregam o coração ou provocam um infarto podem afetar indiretamente as válvulas.
Condições como hipertensão, colesterol alto, diabetes, sedentarismo e tabagismo também podem prejudicar o funcionamento do coração de maneira geral, o que, por sua vez, pode afetar a saúde das válvulas cardíacas.
Sintomas das valvulopatias
Os sintomas das valvulopatias variam de acordo com a gravidade e o tipo de válvula afetada. Inicialmente as valvulopatias são silenciosas, e o paciente pode não apresentar qualquer sintoma.
Quando os sintomas estão presentes, os sinais mais frequentes incluem:
- Falta de ar;
- Desconforto torácico;
- Tonturas;
- Desmaios;
- Inchaço das pernas;
- Palpitações;
- Fadiga.
Diagnóstico das valvulopatias
O diagnóstico das valvulopatias é realizado por meio de avaliações clínicas e exames complementares. “A suspeita vem a partir do exame clínico do cardiologista, que pode se deparar com um sopro cardíaco ao auscultar o paciente. A principal causa desse ‘barulho’ que o médico ouve com seu estetoscópio é a alteração ao fluxo de sangue que a valvulopatia promove”, destaca Dr. Cleverson Zukowski.
O ecocardiograma é o exame inicial e essencial para a avaliação das valvulopatias. De acordo com o Dr. Zukowski, é um procedimento complementar amplamente utilizado na prática clínica do cardiologista, permitindo identificar com precisão a presença da doença e determinar sua gravidade.
“A partir dele, a realização de outros exames é importante, a depender do estágio em que a doença se encontra. Alguns desses exames podem ser: teste ergométrico, tomografia cardíaca, ressonância cardíaca e cateterismo“, aponta.
Tratamento das valvulopatias
O tratamento das valvulopatias depende do tipo e da gravidade do problema. “Normalmente, até o estágio classificado como moderado, essa doença é acompanhada clinicamente, com exames e medicamentos que combatem a consequência dessas doenças ao organismo’, diz Dr. Zukowski.
Quando a valvulopatia avança para o estágio importante, ou severo, deve-se pensar em um tratamento corretivo, seja por cirurgia cardíaca, seja por correção através de um cateter. “A valvulopatia é um problema mecânico, que requer uma correção mecânica, como uma plastia dessa válvula doente ou mesmo a troca dela por uma prótese valvar”, explica.
O cardiologista conta que, até há alguns anos atrás, a cirurgia cardíaca convencional (de “peito aberto”), era a única opção para corrigir adequadamente uma válvula doente. Mas avanços significativos recentes, permitem que muitas dessas condições sejam tratadas atualmente por meio de técnicas minimamente invasivas ou até mesmo pelo implante de válvulas por cateter, inserido pela virilha.
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Dr. Cleverson Zukowski ressalta que a principal inovação no tratamento dessas doenças foi a introdução de técnicas que utilizam cateter. Por meio de um pequeno furo na região da virilha, é possível tratar de maneira eficaz patologias em todas as válvulas cardíacas.
“A patologia mais consolidada com esse tipo de tratamento é a estenose aórtica, mas outras doenças, como estenose e insuficiência mitral, têm apresentado já há alguns anos respostas excelentes com os dispositivos transcateter. Mais recentemente, a insuficiência tricúspide tem sido também tratada com novos dispositivos, com resultados favoráveis ao melhorar a qualidade de vida desses pacientes”, celebra.
O objetivo do tratamento, seja por meio de cirurgia ou por técnicas com cateter, é restaurar completamente a qualidade de vida dos pacientes, corrigindo totalmente o problema. “Os cuidados principais são com prevenção e adequado tratamento de infecções, para que a prótese valvar implantada se preserve”, afirma.
Prevenção das valvulopatias
A prevenção das valvulopatias envolve a adoção de hábitos saudáveis que protejam o coração e as válvulas cardíacas, além de monitorar condições que possam prejudicar o funcionamento das válvulas.
O controle da pressão arterial é essencial. A hipertensão é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças nas válvulas cardíacas “A pressão alta tem causa multifatorial, mas decorre principalmente de enrijecimento da parede de artérias e retenção renal de sódio”, explica.
Para a prevenção e controle das valvulopatias Dr. Cleverson Zukowski orienta:
- Adotar uma alimentação saudável, sem muito sal;
- Praticar atividade física;
- Manter um sono adequado.
Manter os níveis de colesterol adequados ajuda a prevenir o desgaste das válvulas cardíacas. O controle do diabetes também é essencial, pois a glicose elevada pode danificar os vasos e as válvulas.
A prática regular de exercícios físicos fortalece o coração, ajuda a controlar fatores de risco e previne o sedentarismo. Além disso, evitar o tabagismo diminui o risco de doenças vasculares que afetam as válvulas.
O tratamento precoce de infecções que podem levar à febre reumática também é importante para proteger o sistema cardiovascular. A febre reumática decorre de uma infecção bacteriana na garganta que se dissemina principalmente quando as condições sanitárias não são adequadas.
“A reação do organismo a essa infecção pode promover um acometimento grave das válvulas cardíacas. Portanto, boas condições sanitárias e uso, quando corretamente indicado, de antibiótico para o tratamento dessa infecção são fundamentais para a prevenção da febre reumática”, indica.
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Pacientes com valvulopatia experimentam um impacto negativo considerável em sua qualidade de vida. À medida que a doença avança, eles começam a se limitar nas atividades diárias devido ao cansaço e à fadiga. “Muitos tendem a pensar que esse cansaço vem do avanço da idade, mas a causa por vezes é uma valvulopatia não tratada”, alerta.
Enquanto a valvulopatia de grau avançado não for tratada de forma definitiva, a prática de atividades físicas intensas deve ser evitada. Na maioria dos casos, os pacientes têm dificuldade para se exercitar devido às limitações impostas pela condição. “Após o adequado tratamento, esses pacientes podem praticar atividade física, poucos dias após a correção por cateter, e geralmente um mês após cirurgia”, explica Dr. Cleverson Zukowski.
Realizar exames regulares e consultar um cardiologista ajuda na detecção precoce de problemas nas válvulas, permitindo tratamento antes que se agravem. Essas medidas ajudam a prevenir a ocorrência de valvulopatias e mantêm a saúde do coração. Se você apresenta algum dos sintomas mencionados no texto, agende uma consulta com um cardiologista D’Or.