As buscas por uma vacina contra o novo coronavírus ocorrem de maneira acelerada. Hoje, mais de uma centena de estudos estão em andamento, alguns já na fase de testes em seres humanos.
Uma das pesquisas mais relevantes, conduzida pela Universidade de Oxford, é coordenada no Brasil pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e conta com a participação do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) em todo o processo de seleção, aplicação da vacina, registro e análises dos dados coletados na população que será estudada no Rio de Janeiro. O Brasil é o primeiro país fora do Reino Unido a iniciar os testes em seres humanos, a partir de junho.
Apesar da mobilização global, ainda existem questões sem resposta. Falamos sobre o assunto com os pesquisadores Fernando Bozza, do IDOR, e Rodrigo Amancio, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE) .
Quando haverá uma vacina contra a COVID-19?
O tempo médio para o desenvolvimento de uma vacina varia entre 18 e 24 meses.
Hoje, como todos os esforços mundiais são para combater a COVID-19, o processo pode ser acelerado. Mas é pouco provável que tenhamos uma vacina disponível em menos de um ano.
Em que países a vacina contra o coronavírus está em teste?
Além do Brasil, os países onde há testes em pessoas são China, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Austrália.
A comunidade científica, em todo o mundo, está direcionando esforços para o desenvolvimento da vacina contra o SARS-CoV-2.
Como serão os testes no Brasil da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford?
Serão recrutados cerca de 2.000 voluntários entre profissionais que trabalham diretamente com pacientes infectados pela doença, sendo 1.000 no Rio de Janeiro e 1.000 em São Paulo.
No Rio de Janeiro, os testes ficarão a cargo do Instituto D’Or, e a Rede D’Or cobrirá os custos da pesquisa. Em São Paulo, os testes serão conduzidos pelo Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais da Unifesp.
Quero tomar a vacina da Universidade de Oxford, que está em teste no Brasil. Como faço?
Na fase de testes, a vacina será aplicada apenas em profissionais de saúde do Rio de Janeiro e de São Paulo. Poderão participar voluntários soronegativos, ou seja, que ainda não tenham contraído o vírus da COVID-19. A seleção será feita pelo IDOR e pela Unifesp.
Há outras vacinas em estudo no Brasil?
Sim. A Fiocruz está trabalhando em uma vacina conjunta para imunizar contra Influenza (vírus da gripe) e SARS-CoV-2 (vírus da COVID-19).
O Laboratório de Imunologia do Incor (Instituto do Coração, do Hospital das Clínicas da USP), também pesquisa uma vacina para o novo coronavírus.
Esses esforços são fundamentais, mas demandam tempo. Os estudos ainda estão nas fases iniciais de desenvolvimento.
Quando a vacina contra o coronavírus estará disponível para todos no Brasil?
Ainda não é possível prever. Isso depende de uma série de fatores, como o tempo até que a vacina seja desenvolvida e a capacidade de se produzir a vacina no país, já que a demanda mundial será alta.
Por que fazer uma vacina leva tanto tempo?
Os testes para criar uma vacina são muito rigorosos. É preciso ter certeza de que a vacina funciona e que não trará efeitos indesejados.
Se o vírus tem uma grande capacidade de mutação, isso também é uma dificuldade a mais para as pesquisas.
Por fim, ainda que já exista uma vacina testada e eficaz, é necessário tempo para produzir e distribuir a vacina em larga escala.
Em caráter de emergência, é aceitável pular etapas para apressar o acesso à vacina?
Pular etapas é pouco provável. As etapas podem, porém, ser aceleradas ou simplificadas.
A pandemia faz com que unamos esforços para que tenhamos uma solução segura e eficaz dentro do menor tempo possível.
A vacina da gripe protege contra a COVID-19?
Não. A vacina contra influenza não protege diretamente contra o coronavírus.
No entanto, ao evitar outras infecções pulmonares, o indivíduo diminui o risco de desenvolver complicações e quadros mais graves de COVID-19.
A vacina contra o coronavírus de uso veterinário é eficaz em pessoas?
Não. O vírus da COVID-19 faz parte de uma grande família de vírus, que inclui o referido coronavírus canino. No entanto, são geneticamente distintos. Por isso, a vacina direcionada ao coronavírus em cachorros não confere proteção ao coronavírus que atinge as pessoas.