Transposição das grandes artérias: o que é e como tratar?
Na transposição das grandes artérias, as conexões do coração estão invertidas, fazendo com que o corpo não receba oxigênio suficiente. O tratamento dessa condição envolve cirurgia
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A transposição das grandes artérias (TGA) é uma malformação congênita do coração, na qual as duas principais artérias que transportam o sangue para fora do coração, a aorta e a artéria pulmonar, estão invertidas.
De acordo com dados publicados no Manual MSD, a transposição das grandes artérias é responsável por 5% a 7% das anomalias cardíacas congênitas. Esse defeito congênito do coração exige intervenção médica rápida, pois é umas das principais causas de cianose (coloração azulada da pele por falta de oxigênio) em recém-nascidos.
Isso significa que o sangue rico em oxigênio não é distribuído adequadamente pelo corpo, enquanto o sangue com baixo nível de oxigênio não chega corretamente aos pulmões para ser oxigenado, comprometendo a oxigenação de todo o organismo. Continue lendo para entender mais sobre essa condição, seus efeitos no corpo e as opções de tratamento disponíveis.
O que é transposição das grandes artérias?
A transposição das grandes artérias se caracteriza pela origem trocada das grandes artérias dos seus respectivos ventrículos. De acordo com a Dra. Claudia Pinheiro de Castro Grau, coordenadora da equipe de Ecocardiografia Fetal e Pediátrica da Maternidade São Luiz Star e do Hospital São Luiz Unidade Itaim (SP), essa é a cardiopatia congênita cianótica mais comum ao nascimento e ocorre em cerca de 2% dos recém-nascidos vivos.
“No coração normal a artéria pulmonar responsável por conduzir o sangue não oxigenado aos pulmões emerge do ventrículo direito, e a artéria aorta que conduz o sangue oxigenado para todo o organismo emerge do ventrículo esquerdo. Na TGA a origem das artérias está trocada e a artéria pulmonar nasce do ventrículo esquerdo, enquanto a aorta nasce do ventrículo direito”, explica a especialista.
Na transposição das grandes artérias, as conexões do coração estão invertidas, fazendo com que o sangue sem oxigênio, que deveria ir para os pulmões, seja bombeado diretamente para o corpo. Ao mesmo tempo, o sangue oxigenado que chega ao lado esquerdo do coração volta para os pulmões sem circular pelo corpo. Isso significa que o corpo não recebe oxigênio suficiente, o que é perigoso para o bebê.
De acordo com a Dra. Claudia Pinheiro de Castro Grau, nessa situação podem ocorrer duas circulações separadas:
- Circulação sem oxigênio:
“O sangue que circula no corpo não passa pelos pulmões para receber oxigênio, então o corpo não recebe o oxigênio necessário”, afirma.
- Circulação com oxigênio:
“O sangue oxigenado fica ‘preso’, indo apenas entre o coração e os pulmões, sem chegar ao resto do corpo”, descreve.
A cardiologista destaca que essa alteração ocorre nas primeiras semanas de gravidez, durante o desenvolvimento do coração do bebê. Como resultado, após o nascimento, o sangue circula de maneira incorreta, impedindo que o corpo receba oxigênio suficiente.
Segundo a cardiologista, a causa exata da transposição das grandes artérias (TGA) ainda não é completamente compreendida, acredita-se que seja multifatorial. Isso significa que diversos fatores podem contribuir para o desenvolvimento dessa condição durante a gestação. Entre os fatores de risco, a Dra. Cláudia destaca:
- Diabetes mellitus materno;
- Histórico familiar de cardiopatias congênitas, especialmente em filhos anteriores ou nos pais;
- Maior prevalência em bebês do sexo masculino.
Diagnóstico da transposição das grandes artérias
“A TGA deve ser suspeita durante o pré-natal de rotina no ultrassom morfológico de segundo trimestre e confirmada ou mesmo diagnosticada pelo ecocardiograma fetal, que é um exame atualmente obrigatório durante a gestação”, atesta.
Nos casos sem diagnóstico prévio, a Dra. Claudia explica que iniciam a suspeita sinais como:
- Presença de cianose (cor azulada da pele e mucosas);
- Saturação baixa de oxigênio na oximetria;
- Dificuldade respiratória com aumento da frequência respiratória;
- Extremidades frias.
“A confirmação do diagnóstico é realizada pelo ecocardiograma”, complementa a cardiologista.
Tratamento da transposição das grandes artérias
O tratamento da transposição das grandes artérias é essencial e envolve cirurgia. “A cirurgia corretiva para TGA, chamada cirurgia de troca arterial ou cirurgia de Jatene, é indicada o mais cedo possível após o nascimento, geralmente na primeira semana de vida. Essa urgência é necessária para garantir que o bebê receba oxigênio adequado no sangue e para prevenir danos aos órgãos”, destaca a Dra. Claudia.
A especialista explica que o procedimento padrão é a troca arterial (cirurgia de Jatene), que envolve reposicionar as artérias para suas localizações normais. Em casos nos quais há defeitos associados, como comunicação interatrial ou comunicação interventricular, é necessário realizar o fechamento dessas aberturas. Quando há coartação da aorta, é preciso ampliar a região de estreitamento na aorta descendente para garantir um fluxo sanguíneo adequado.
“Outra técnica cirúrgica pouco realizada atualmente é a cirurgia de Senning, na qual não é realizada uma correção funcional da circulação sem a troca das artérias para posição normal”, apresenta.
Em casos de emergência, antes da cirurgia definitiva, podem ser realizadas intervenções por cateterismo, como a atriosseptostomia com balão, que aumenta o tamanho da comunicação entre os átrios, melhorando a oxigenação do sangue até que a correção definitiva seja feita.
“A administração temporária da prostaglandina endovenosa imediatamente após o nascimento está indicada para manter o canal arterial aberto e auxiliar na oxigenação do sangue até a realização da cirurgia”, destaca.
A Dra. Claudia Pinheiro de Castro Grau explica que embora seja um procedimento complexo, a cirurgia de Jatene é altamente eficaz e tem o potencial de salvar a vida de muitos recém-nascidos. “A taxa de sucesso é excelente, especialmente em centros especializados, com taxas de mortalidade durante a cirurgia em torno de 1% a 5%”, aponta.
De acordo com a cardiologista, a mortalidade pode aumentar se o bebê tiver outras complicações associadas, como defeitos cardíacos adicionais ou se a cirurgia for feita tardiamente.
“É extremamente difícil sobreviver com transposição das grandes artérias sem nenhum tipo de tratamento, especialmente em longo prazo, sendo uma condição gravíssima devido aos baixos níveis de oxigênio no corpo”, alerta.
Quando um bebê nasce com transposição das grandes artérias (TGA), ele não recebe oxigênio suficiente, apresentando sintomas nas primeiras horas de vida, sendo um dos principais a pele azulada (chamada de cianose), especialmente nos lábios e nas extremidades. Além de ter dificuldade para respirar, ficam cansados facilmente (até mesmo ao mamar), e muitas vezes sonolentos ou irritados. No entanto, o corpo do recém-nascido possui algumas conexões naturais que, por um tempo, podem permitir a passagem de oxigênio de maneira limitada. O forame oval e o canal arterial são essas conexões.
Mesmo que esses mecanismos possam fornecer algum oxigênio temporariamente, o bebê ainda precisa de tratamento imediato, para corrigir o problema e garantir uma oxigenação adequada.
Se o seu filho foi diagnosticado com transposição das grandes artérias durante a gestação ou se você percebeu sinais no seu bebê como a pele azulada ou fraqueza após o nascimento, é fundamental buscar atendimento especializado o quanto antes. Agende uma consulta com um dos cardiologistas da Rede D’Or para garantir um diagnóstico preciso e o tratamento adequado para o seu filho.