O impacto causado pela pandemia da COVID-19 pode provocar medo e ansiedade. Afinal, crianças, jovens e adultos precisaram enfrentar, repentinamente, a privação de liberdade e o receio de contágio. Tudo mudou.
Agora outro desafio se aproxima: retomar a rotina, com a tendência do fim da quarentena.
Ainda não há consenso quanto à data ideal para o relaxamento do isolamento social. Mas muitas pessoas compartilham da dúvida: como amenizar o estresse para que a vida volte ao normal, depois do turbilhão provocado pelo novo coronavírus?
Para ajudar você a encarar o período que teremos pela frente, elencamos as recomendações de Débora Genezini, psicóloga da clínica OncoStar.
Como lidar com a ansiedade no retorno ao trabalho?
O ser humano tem capacidades adaptativas incríveis, mesmo que às custas de dificuldade e sofrimento. Mas todo recomeço pós-crise exige delicadeza, observação e suporte mútuo entre as pessoas. É como se estivéssemos feridos, uns mais e outros menos, mas todos precisarão de cuidados. Paciência será necessária, autocobranças não serão positivas.
Como estratégia para lidar com a possível ansiedade no retorno ao trabalho, uma dose de dados de realidade objetivos é um dos primeiros caminhos. Ou seja, siga evitando contato e muita proximidade, realizando medidas de higiene e dosando a sua exposição. Pessoas com sintomas da COVID-19 devem se recolher.
Diante da ansiedade, podemos paralisar ou tentar superá-la ativamente. Não existe o jeito certo ou errado. Mas se as dificuldades paralisarem você, procure auxílio de um profissional.
Enviar os filhos para a escola pode também gerar insegurança tanto nos pais quanto nas crianças. O que fazer?
É importante que a escola assegure as medidas de proteção. Os pais precisam também empoderar os filhos com informações adaptadas à capacidade de compreensão delas sobre cuidados necessários.
Para as crianças, em ambivalência com o desejo de rever amigos e brincar, pode vir um sentimento de angústia e ansiedade ao saírem de casa e se separarem dos pais, figuras de segurança.
É como um retorno de férias com uma contingência específica. Exigirá readaptação. Quem tiver a condição da volta gradativa – por exemplo, dia sim, dia não –, ou diariamente, mas com horas a menos de permanência, poderá ser positivo.
Com a volta à rotina, os efeitos negativos provocados pelo isolamento social devem diminuir?
De imediato, é possível que pareça libertador retomar o cotidiano, mas o contato com alguns “escombros” deixados pela crise talvez traga sentimentos desconfortáveis vividos no isolamento. A COVID-19 será assunto de todos os ambientes e falar deve causar alívio – no entanto, se a dose com o tema for demasiada, pode provocar angústia.
Se, mesmo após a volta ao trabalho, sinto-me triste ou desmotivado, isso pode ser um problema de saúde?
Não representará, necessariamente, adoecimento emocional, mas uma resposta emocional frente às demandas da vida.
É preciso avaliar o impacto desses sentimentos na funcionalidade, na capacidade de autocuidado, nas relações interpessoais. A duração e intensidade dos sintomas é quem vai apontar para a necessidade ou não de ajuda profissional.
É importante avaliar pessoas que já tinham questões emocionais antes da crise ou que podem estar vivenciando um luto pela perda de alguém pelo coronavírus. Esses são casos que precisam de abordagem mais cuidadosa.
Tive COVID-19 e, por isso, sou tratado de forma diferente por colegas. Como devo agir?
Se alguém sofrer retaliação por ter vivenciado a COVID-19, a melhor saída é a psicoeducação. Não vale o embate. É algo do irracional do outro que está acionado. Portanto, pacificamente, vale a pena fornecer informações a respeito da doença para a pessoa que questiona você.