Riscos da automedicação para o coração
A automedicação pode trazer graves consequências ao coração.
Confira quais são esses riscos e quais doenças podem surgir a partir dessa prática.
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A automedicação é muitas vezes vista como uma solução para o alívio imediato de alguns sintomas, mas o ato de se medicar por conta própria pode trazer graves consequências ao organismo, principalmente para o coração.
Dia 5 de maio, Dia Nacional do Uso Racional de Medicamento, é uma data criada para alertar a população quanto aos riscos à saúde causados pela automedicação, uma das principais responsáveis pelos altos índices de intoxicação por remédios.
Neste texto, você vai conhecer quais são os riscos da automedicação para o coração, quais doenças podem surgir a partir desse ato e quais hábitos estão associados a essa prática. Confira.
Automedicação: 3 riscos para o coração
Os principais riscos cardíacos causados pela automedicação irracional, de acordo com o cardiologista Coordenador do Serviço de Cardiologia do Hospital São Lucas, da Rede D’Or em Aracaju (SE), Antônio Carlos Sousa, são:
- Mascaramento de sintomas: o remédio reduz os sintomas, mas não controla a doença, que continua a fazer mal silenciosamente; com isso, pode haver também retardo ou erro no diagnóstico.
- Seleção incorreta de medicamentos que podem agravar a doença ou produzir outras enfermidades fatais.
- Não conformidade com as diretrizes, comprometendo, portanto, o tratamento, assim como gerar acúmulo de medicamentos, expiração de validade e armazenamento inadequado, prejudicando as propriedades químicas dos fármacos.
Segundo o especialista, a automedicação pode, inclusive, contribuir para o surgimento de outros problemas.
“Pacientes de alto risco como os cardiopatas devem evitar, completamente, a automedicação. O uso de anti-inflamatórios não esteroides, como o ibuprofeno e diclofenaco, pode causar hemorragia digestiva, insuficiência renal e até parada cardíaca”, destaca.
Ele aponta ainda que alguns ingredientes contidos em suplementos alimentares podem, também, promover arritmia cardíaca e disfunção ventricular (falta de força no músculo cardíaco). Por isso, sempre que comprar um suplemento, é importante ficar atento à composição.
No consultório médico é comum ver um paciente que faz uso de um medicamento para tratar a hipertensão (pressão alta) trocá-lo por conta própria. Um cenário típico é ouvir “dicas” dos amigos e querer usar o mesmo remédio que eles, mesmo sem prescrição ou orientação médica.
“Embora essa prática seja muito frequente, ela não deve ser feita, porque existem peculiaridades da doença, do doente e dos medicamentos que precisam ser levadas em consideração no ato da prescrição. Por exemplo, a espironolactona é um fármaco anti-hipertensivo que aumenta o nível de potássio sanguíneo, que, portanto, pode trazer consequências sérias para uma pessoa com problemas renais (renal crônico) que faz o seu uso de forma inadvertida”, alerta o cardiologista.
Dr. Sousa ainda chama atenção sobre o uso indiscriminado do AAS, medicamento de uso bastante popular. “O benefício da aspirina na prevenção secundária do infarto agudo do miocárdio (IAM) e do acidente vascular encefálico (derrame) está bem consolidado. Todavia, o seu uso indiscriminado está associado a sangramentos muitas vezes fatais, notadamente os intracranianos (cerebrais) e os gastrointestinais.”
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A automedicação no Brasil e no mundo
Uma pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU) apontou que, até 2050, 10 milhões de pessoas poderão morrer por ano devido a doenças resistentes a medicamentos em razão do uso exagerado ou inadequado dos remédios.
“Segundo o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), da Fiocruz, 70% da população brasileira realiza automedicação”, diz o cardiologista.
Um estudo apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia com dados de 51 hospitais públicos e privados de 21 cidades do Brasil apontou que 30% dos casos de insuficiência cardíaca pioram com o uso incorreto de remédios.
Hábitos que podem levar à automedicação
O especialista destaca que a Autoaferição Não Orientada da Pressão Arterial (ANOPAR), realizada geralmente com equipamento automático do próprio paciente, não obedecendo a nenhum protocolo preestabelecido e com as medidas feitas aleatoriamente, por decisão própria, pode se associar à automedicação.
“O diagnóstico da hipertensão arterial deve ser feito mediante aferição da pressão arterial, através do uso de um aparelho esfigmomanômetro calibrado e observando-se as regras estabelecidas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Eventualmente pode ser necessário aferir a pressão arterial com o auxílio de uma das técnicas padronizadas, a Monitorização Ambulatorial da pressão arterial (MAPA) ou Monitorização Residencial da Pressão Arterial (MRPA)”, destaca. Na MRPA, o paciente irá realizar medidas da pressão arterial em si, porém com um aparelho específico, confiável, assim como seguindo horário e regras para essa medida, o que é diferente da ANOPAR.
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O especialista destaca um estudo, do qual foi orientador, que constatou que os hipertensos que praticavam ANOPAR se associavam à maior prática de automedicação (57,9%), tanto entre usuários do SUS como da rede suplementar de saúde.
Ele salienta que apesar de atraente pela facilidade de aquisição dos aparelhos, sobretudo os digitais, e das realizações de aferição da Auto Medida da Pressão Arterial (AMPA), esse método apresenta uma série de limitações, tais como:
- Falta de calibração e qualidade insatisfatória de alguns instrumentos;
- Metodologia de aferição da pressão não padronizada;
- Interferência de situações estressantes e momentâneas vivenciadas pelo paciente.
“Não existe uma uniformidade na literatura quanto ao real benefício desse método em aumentar a adesão ao tratamento anti-hipertensivo. Tem sido sugerido, também, que a utilização da AMPA é mais comum em hipertensos ansiosos e associa a automedicação e maior procura por atendimentos em unidades de urgência”, ressalta.
Reações adversas causadas pela automedicação
As reações adversas mais comuns causadas pelo uso indiscriminado de algum medicamento são:
- náuseas (enjoo);
- vômito;
- vertigens (tonteira);
- dor de cabeça;
- palpitação (coração acelerado).
“Diante de um desses sintomas, o paciente deve procurar, imediatamente, auxílio médico para evitar agravamento do quadro clínico”, alerta.
A automedicação, assim como a interrupção do uso de medicamentos sem orientação médica, também é prejudicial para o paciente. O cardiologista exemplifica a situação de um paciente com hipertensão arterial.
“Por ser uma doença crônica, não transmissível, e, preponderantemente assintomática, a hipertensão arterial costuma evoluir com alterações estruturais e ou funcionais em órgãos-alvo, como coração, cérebro, rins e vasos. Conhecida como ‘assassina silenciosa’. Portanto, por não sentir sintomas, muitos pacientes não aderem ao tratamento, tornando-se vítimas do infarto agudo do miocárdio e, sobretudo, do derrame”, complementa.
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Se você já aferiu a sua pressão com equipamento que tem em casa e identificou que ela pode estar alta, procure um especialista para um diagnóstico assertivo e para que você tome uma medicação adequada. Nunca se automedique!
Converse sempre com o médico sobre seus sintomas e reações aos seus medicamentos. Nunca pare ou troque o remédio sem antes consultar o médico. Conte com os especialistas da Rede D’Or para cuidar da sua saúde.
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