Quem tem problema no coração pode jogar futebol?
Cardiologista alerta para a importância de uma avaliação médica completa antes de se engajar em atividades físicas intensas
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O futebol é um dos esportes mais populares do mundo e, para muitos, uma forma divertida de manter a saúde em dia. No entanto, para pessoas com problemas cardíacos, surge uma dúvida importante: quem tem problema no coração pode jogar futebol?
Se você tem um problema no coração e deseja jogar futebol, a resposta não é simples. O mais importante é realizar uma avaliação médica completa antes de se engajar em atividades físicas intensas.
Neste artigo, vamos explorar as considerações necessárias sobre a prática de futebol para quem tem doenças cardíacas, os riscos envolvidos, e como a atividade física pode ser adaptada para pessoas com essas condições.
Problemas cardíacos e o impacto do futebol
Médica cardiologista assistente no Hospital São Luiz Morumbi e do Hospital Santa Isabel, ambos em São Paulo, Dra. Alana Osterno explica que as doenças cardíacas são variáveis, podendo ter desde acometimentos simples como uma insuficiência discreta de uma válvula cardíaca até arritmias importantes com risco de morte. “A liberação da prática de esportes deve ser individualizada de acordo com a doença do paciente, sua gravidade, assim como dos sintomas apresentados”, declara.
Os problemas cardíacos mais restritivos para a prática do futebol incluem:
Doenças das válvulas cardíacas
As doenças das válvulas cardíacas com acometimento moderado ou grave podem sobrecarregar o coração, aumentando o risco de complicações durante atividades físicas intensas.
Arritmias cardíacas:
O uso de anticoagulantes em casos de arritmias aumenta o risco de hemorragias, especialmente durante esportes de contato, como o futebol. As arritmias também podem ser desencadeadas pelos esforços intensos, como os exigidos no futebol, que podem precipitar arritmias graves, com risco de morte súbita. (INCLUIR TEXTO Morte súbita: saiba como prevenir essa condição QUANDO ENTRAR)
Cardiomiopatia hipertrófica:
A cardiomiopatia hipertrófica é uma condição que pode causar arritmias e desmaios durante atividades físicas intensas, representando risco elevado para os atletas.
Anomalias coronarianas congênitas:
A falta de fluxo sanguíneo adequado para o coração causada pela doença coronária pode ser exacerbada por exercícios intensos, aumentando o risco de infarto ou arritmias.
Implante de marca-passo:
Condições cardíacas que necessitem de implante de marca-passo podem ser um impeditivo para jogar futebol, pois a prática de esportes pode interferir no funcionamento do marca-passo e aumentar o risco de complicações, como trauma no local de implantação.
Hipertensão arterial (pressão alta):
Pacientes com hipertensão de difícil controle precisam ter atenção redobrada, pois a pressão elevada durante o exercício pode resultar em complicações cardiovasculares graves, como AVC ou infarto.
Miocardite:
A miocardite, uma inflamação do coração, enfraquece o músculo cardíaco e aumenta o risco de insuficiência cardíaca e arritmias durante o esforço físico.
“Pacientes com acometimentos importantes como hipertensão pulmonar severa ou doenças valvares graves costumam ser restritos em atividades competitivas”, complementa.
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A prática de futebol é uma atividade de alta intensidade e competitiva, o que requer um desempenho maior do coração. “Pessoas com doenças cardíacas não diagnosticadas podem apresentar sintomas durante a atividade, como falta de ar, dor no peito e desmaios; além do que a atividade pode desencadear, em casos mais graves, até mesmo infarto e arritmias com parada cardíaca“, explica a cardiologista, que também atua como médica diarista responsável pela UTI Cardiológica no Hospital Santa Isabel (SP).
De acordo com a especialista, indivíduos com condições cardíacas pré-existentes que jogam futebol podem enfrentar elevação significativa da pressão arterial, risco de arritmias graves, infarto e até parada cardíaca.
Os sinais de alerta de problema no coração que uma pessoa deve observar ao jogar futebol são:
- Dor no peito ou no braço;
- Tontura;
- Falta de ar;
- Palpitação;
- Desmaio.
“Em caso de sintomas como os citados, a pessoa deve parar imediatamente a atividade e solicitar ajuda para buscar atendimento médico a fim de ser submetida a uma avaliação clínica minuciosa e, quando necessário, fazer exames complementares”, alerta Dra. Alana.
Quando é a hora de consultar um cardiologista?
Antes de começar qualquer atividade física intensa, como o futebol, é fundamental consultar um médico cardiologista, especialmente para quem tem histórico de problemas cardíacos.
“Quando se trata de alguém com histórico de doenças cardíacas, seu cardiologista irá aconselhar se a prática de futebol é permitida e realizará orientações a fim de reduzir os sintomas durante a atividade e as chances de eventos graves”, afirma Dra. Alana.
A cardiologista explica que a avaliação médica irá definir a existência de doenças cardíacas, sua gravidade e as limitações que devem ser impostas a partir de dados clínicos, exame físico e dos exames que forem julgados como importantes para auxílio no diagnóstico, como por exemplo, eletrocardiograma, ecocardiograma e teste ergométrico.
“Sempre que alguém desejar iniciar uma atividade física é de fundamental importância passar por uma avaliação inicial com um cardiologista para conhecimento de possíveis doenças que tragam risco durante a atividade e que possam ser tratadas, como doenças congênitas ou hereditárias”, complementa.
Com a orientação adequada de um cardiologista, pode ser possível adaptar a prática do futebol para se ajustar à condição específica de cada paciente. “A prática de atividade física, como o futebol, ajuda os pacientes na melhora do condicionamento físico, no melhor controle da pressão, dos níveis de açúcar e gordura no sangue, e na perda de peso, que por sua vez tendem a colaborar no melhor controle de doenças cardíacas”, destaca Dra. Alana Osterno.
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Como reduzir o risco de complicações cardíacas durante a prática do futebol?
Em alguns casos, pessoas com problemas no coração podem jogar futebol, mas com adaptações. Crianças com problemas cardíacos, por exemplo, também podem jogar futebol com segurança após avaliação minuciosa de um especialista sobre o tipo e a gravidade da condição cardíaca da criança.
De uma forma geral, para reduzir o risco de complicações cardíacas durante a prática do futebol Dra. Alana orienta:
- Manter a hidratação;
- Ter momentos de descanso durante a prática do esporte;
- Evitar exposição prolongada ao calor;
- Passar por uma avaliação com o cardiologista antes do início da prática de atividades físicas.
“Se surgirem sintomas, sempre interromper imediatamente a prática e procurar auxílio médico”, orienta.
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No caso de pacientes com doenças prévias, é importante manter o seguimento regular com seu médico, o uso adequado das medicações e a realização dos exames de rotina para garantir o bom controle das doenças.
“Estudos atuais sugerem que a participação em esportes competitivos, como o futebol, pode ser permitida naqueles com cardiopatias congênitas não reparadas menos graves, desde que tenham testes de exercício com bons resultados e mantenham acompanhamento regular com o médico”, explica Dra. Alana.
Sobre as crianças, é importante orientar os pais a seguir as atividades que forem liberadas pelo médico, sem extrapolar as orientações, manter seguimento com consultas de rotina, assim como manter uso das medicações e explicar sobre quais sintomas são preocupantes e precisam gerar alerta.
“Vale salientar sobre a importância de existirem desfibriladores automáticos (DEA) em locais onde há prática de futebol e realizar treinamento básico de reanimação cardiopulmonar entre os praticantes da atividade, equipe e familiares”, destaca.
Se você tem um problema no coração e deseja jogar futebol, lembre-se de consultar um especialista para garantir que qualquer atividade física seja realizada de forma segura. Agende sua consulta com um cardiologista da Rede D’Or.