Pandemia aumenta casos de esgotamento: saiba como evitar
Saiba o que é burnout, conheça o portal de saúde mental do IDOR e assista a entrevista completa com o o psiquiatra Líbano Abiatar, coordenador da Psiquiatria dos Hospitais Rede D'Or Unidades Brasil e São Caetano no RDtv
No momento em que a pandemia da covid-19 completa um ano no Brasil, com recordes de mortes registradas diariamente, casos relacionados a síndrome de burnout também apresentam uma crescente expressiva nos consultórios médicos, conforme afirma o psiquiatra Líbano Abiatar, coordenador de psiquiatria dos hospitais Rede D’Or São Luiz, unidades Brasil e São Caetano.
O burnout, que em tradução livre significa esgotamento, é definido como um distúrbio psíquico de estresse físico e mental crônico relacionado a condições de trabalho desgastantes. Entre os sintomas da chamada Síndrome de Burnout estão exaustão, sentimento de ineficácia e de falta de realização pessoal e profissional.
Segundo o especialista, o distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema é resultado de um estresse ocupacional crônico, que a pandemia potencializou. “As atribuições da atividade profissional invadiram os lares sem que as pessoas tivessem tempo para se preparar emocionalmente. Isso fez com que houvesse um esgotamento ocupacional e manejo inadequado da atividade profissional”, explica o médico.
Em entrevista ao RDtv, o psiquiatra explica que na síndrome de burnout, há três dimensões que podem ser potencializadas. A primeira é o sentimento de esgotamento e exaustão; O segundo sentimento é o de negativismo, que leva o profissional ao cinismo nas relações de trabalho; enquanto o terceiro é a incapacidade para enxergar propósito com a profissão. “Nestes casos, muitos profissionais deixam de ver algum resultado nos seus esforços. Então o psiquismo e o sofrimento entram em conflito com o que o trabalho proporciona”, explica.
Abiatar relata que a síndrome está presente em todas as profissões, mas aparece principalmente nas que envolvem muita responsabilidade e pressão, como no caso de médicos, enfermeiros e profissionais que atuam na linha de frente de combate à covid-19. “Percebemos no próprio consultório que o volume de pacientes com a síndrome aumentou, justificado pelo volume de trabalho na pandemia”, explica.
Há alguns casos, ainda, de sobrecarga de trabalho provocada pela rotina de home office, potencializada pelo isolamento social, o que fe com que a síndrome se tornasse um problema também para quem vive neste cenário. “Por isso que os professores também entraram para essa conta. Muitos fazem parte da parcela que hoje frequentam meu consultório com a síndrome. Por trabalharem em jornada dupla e às vezes quase tripla, muitos mal conseguem desligar o celular e se desvincular do trabalho, o que causa a exaustão e o estresse”, explica.
Sintomas
Apesar dos sintomas parecidos com os de ansiedade e depressão, a síndrome de burnout pode ser desencadeada por um comportamento perfeccionista em relação ao trabalho, sobrecarga de horários e pressão. Segundo o especialista, sinais como: trabalhar fora do horário do expediente, se dedicar demais à preparação de trabalho aos finais de semana e afastamento do convívio social podem ser alertas para a síndrome.
Tratatamento
A síndrome, segundo Abiatar, pode ser tratada com acompanhamento psicológico especializado (psicoterapia), mas também pode envolver medicamentos (antidepressivos e/ou ansiolíticos). Em alguns casos, requer afastamento temporário do emprego e também mudanças nas condições do trabalho, com retorno gradual de acordo com orientações médicas.
Profissionais de saúde
Mesmo antes da pandemia, o burnout já acometia muitos profissionais, principalmente os que lidam com pressão no seu dia a dia, como os profissionais de saúde. Ao menos um em cada seis profissionais de saúde apresentam sinais de burnout, de acordo com estudo realizado por pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR). A pesquisa foi feita com 715 profissionais de saúde – médicos, enfermeiras, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas – de 36 hospitais públicos e privados do Brasil. Todos eles trabalham em unidades de terapia intensiva (UTIs) por pelo menos 20 horas semanais.
Entre os participantes do estudo, 125 indicaram exaustão emocional, 120 despersonalização e 107 falta de realização profissional – todos sintomas indicativos de burnout. Como um mesmo profissional poderia marcar mais de uma opção no questionário, o estudo conclui que, pelo menos, 125 deles sofriam com o esgotamento no trabalho. O estudo mostra ainda que 134 profissionais apresentam sintomas de ansiedade e 80, de depressão – que podem ou não estar associados ao burnout. A pesquisa foi conduzida antes da pandemia de covid-19, entre abril de 2017 e julho de 2018.
Burnout, depressão e ansiedade
Para diferenciar burnout, depressão e ansiedade, os pesquisadores aplicaram questionários de autoavaliação reconhecidos internacionalmente. A partir das respostas, foi possível identificar a formação de três diferentes grupos, um para cada problema de saúde mental, concluindo que o burnout e os sintomas clínicos de depressão e ansiedade são empiricamente distintos. De acordo com o psicólogo e pesquisador do IDOR Ronald Fischer, na pesquisa, um dos principais indicativos de burnout referia-se ao sentimento de esgotamento no trabalho. Já um dos principais tópicos que indicava ansiedade era ter muitos pensamentos e muitas preocupações a todo tempo. Para identificar a depressão, os pesquisadores atentaram-se a quem não dizia estar muito feliz com a própria vida.
Conheça o portal de saúde mental do IDOR.
Síndrome de Burnout. Entrevista com o psiquiatra Líbano Abiatar, coordenador da Psiquiatria dos Hospitais Rede D’Or Unidades Brasil e São Caetano. Boletim RDtv 15/03/2021, às 16h30.