Artigo de Ricardo Brizzi, um dos responsáveis pelo setor de cirurgia cardiovascular e endovascular do Norte D'Or
Já é sabido que os problemas vasculares estão entre os fatores de risco do novo coronavírus. Segundo uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular com médicos associados, 39% dos entrevistados tiveram pelo menos um paciente infectado pela Covid que apresentou um quadro de trombose venosa ou embolia. O aparecimento do problema vem variando de acordo com cada indivíduo. Algumas pessoas foram acometidas durante a infecção e outras até 45 dias depois do diagnóstico inicial.
É importante entender que a trombose pode ser venosa ou arterial, de acordo com a parte da circulação que atinge. Normalmente, os pacientes que desenvolveram a forma mais grave, que estavam internados, tiveram um comprometimento arterial. A trombose venosa ocorreu em uma proporção maior em pessoas que estavam se tratando em casa, com infecções menos agressivas.
Nem todas as pessoas que apresentaram trombose tinham problemas circulatórios anteriores, e muitos estavam com idade entre 30 e 60 anos. Não eram idosos. Anticoagulantes estão sendo usados no auxílio do tratamento da infecção quando há evidências de formação de trombos pulmonares também.
A trombose, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é um dos problemas cardiovasculares que mais mata no mundo. Trata-se da formação de coágulos no interior das veias e artérias, que causam a obstrução total ou parcial dos vasos.
Muitas pessoas ainda possuem dúvidas a respeito da relação da trombose com varizes e por isso o medo da covid quando já apresentam o problema. As varizes podem levar à trombose, mas não é uma regra. A variz é uma veia dilatada na qual o sangue circula mais lentamente, o que favorece a coagulação. E é quando um coágulo impede o fluxo sanguíneo que ocorre a trombose. Mas nem todo paciente que tem varizes vai ter trombose, mas o risco é maior.
Vale lembrar que as varizes não são só uma questão estética, a doença precisa ser tratada, já que as veias dilatadas podem estar associadas a complicações mais graves como processos inflamatórios na pele como tromboflebite, feridas como úlceras varicosas.
A afirmação de que só os idosos têm problemas de trombose, não é verdade. A trombose venosa, que acomete principalmente os membros inferiores, pode aparecer em pessoas jovens, com idades entre 20 e 45 anos. Para diagnosticar a doença é preciso um exame clínico dos sintomas, exames laboratoriais são importantes para descartar as doenças que cursam o estado de hipercoagulação e a realização de um eco Doppler venoso que é um ultrassom que examina o vaso que está obstruído.
Quem desenvolve a doença tem uma alteração em um dos componentes da tríade de Virchow. Essa tríade é formada questões relacionadas ao estado de hipercoagulação, lesão da parede arterial, lesões mecânicas em cima da veia levando a uma lesão endotelial e a estase sanguínea, que é a diminuição da velocidade no interior da veia, levando a uma maior propensão da formação de coágulo. Qualquer um desses três fatores pode propiciar o aparecimento da trombose. No caso do Covid 19, a infecção propicia uma hipercoagulação sanguínea. Quem já possui problemas circulatórios deve ficar mais atento.
Por: Ricardo Brizzi, Angiologista e Cirurgião Vascular. É membro da Sociedade de Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro. É um dos responsáveis pelo setor de cirurgia vascular e endovascular do Hospital Badim, do Hospital Israelita e Hospital Norte D’Or.