O risco de doenças cardiovasculares em pessoas com HIV
O HIV enfraquece o sistema imunológico, aumentando a vulnerabilidade a infecções e elevando o risco de doenças cardiovasculares
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O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) ataca o sistema imunológico, enfraquecendo a capacidade do corpo de combater infecções e doenças. Embora os avanços no tratamento antirretroviral tenham permitido que pessoas com HIV vivam por muitos anos com qualidade de vida, o impacto em longo prazo da infecção e do tratamento podem trazer novos desafios. Um dos mais preocupantes é o aumento do risco de doenças cardiovasculares.
Dados do Ministério da Saúde apontam que cerca de um milhão de pessoas esteja vivendo com HIV no Brasil. Ainda segundo dados do Ministério da Saúde, nos últimos dez anos, mais de 52 mil jovens entre 15 e 24 anos com HIV desenvolveram AIDS. De acordo com estatísticas da UNAIDS, em 2023, aproximadamente 630 mil pessoas morreram em todo o mundo devido a doenças relacionadas à AIDS.
O Dia Mundial da Luta Contra a AIDS, comemorado no dia 1º de dezembro, é uma oportunidade para reforçar a importância do diagnóstico precoce, do tratamento contínuo e da conscientização sobre todas as implicações da doença, incluindo o risco de doenças cardíacas. Continue lendo e saiba mais sobre o risco de doenças cardiovasculares em pessoas com HIV.
HIV/AIDS
O HIV é um vírus que ataca o sistema imunológico, enfraquecendo as defesas do corpo e tornando-o mais vulnerável a infecções e doenças. Se não tratado, pode evoluir para a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, popularmente conhecida como AIDS, estágio mais avançado da infecção, na qual o sistema imunológico está gravemente comprometido.
A conscientização e o diagnóstico precoce são essenciais para o controle da doença. Embora ainda não exista cura, com os cuidados adequados, incluindo tratamento antirretroviral, mudanças no estilo de vida e monitoramento médico regular, é possível minimizar esses riscos e melhorar a qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV e a reduzir significativamente o risco de transmissão.
Essa condição crônica requer acompanhamento contínuo, e uma das complicações mais importantes que devem ser monitoradas é o risco cardiovascular.
Risco de doenças cardiovasculares em pessoas com HIV
Dr. Paulo Furtado, médico infectologista que atua na Rede D’Or desde 2011, explica que a infecção pelo HIV desencadeia um processo inflamatório persistente no organismo de forma geral e consequentemente no sistema cardiovascular através de uma ativação imune. Diversos mecanismos associados ao próprio vírus são considerados responsáveis por contribuir para o desenvolvimento de complicações cardiovasculares.
“A terapia antiretroviral permite controlar esse processo inflamatório e reduzir os riscos cardiovasculares inerentes à doença”, complementa.
De acordo com o infectologista, que atua no Hospital Niterói D’Or (RJ), a doença cardiovascular tem múltiplos fatores de risco relacionados ao estilo de vida como:
- Sedentarismo;
- Obesidade;
- Alimentação não saudável;
- Ausência de atividade física;
- Diabetes;
- Tabagismo;
- Consumo excessivo de álcool, entre outros.
“A infecção pelo HIV passa a ser mais um elemento que irá contribuir para o risco desse tipo de problema. Portanto, é necessário dentro do tratamento incentivar a mudança de hábitos de vida do paciente”, destaca o especialista.
As doenças cardiovasculares mais comuns entre pessoas com HIV são aquelas que afetam os vasos sanguíneos, como a aterosclerose, e suas complicações, incluindo a doença arterial coronariana e a insuficiência cardíaca. Isso se deve ao fato de que, embora o tratamento antirretroviral seja essencial para controlar a infecção, ele pode aumentar o risco de alterações metabólicas, como colesterol elevado, resistência à insulina e ganho de peso, todos fatores que elevam o risco de doenças cardiovasculares.
Apesar de os medicamentos antirretrovirais manterem o vírus sob controle e permitirem que as pessoas com HIV vivam mais e com qualidade, a infecção ainda provoca uma inflamação no corpo, mesmo que em menor intensidade.
É importante ressaltar que o risco cardiovascular é significativamente maior entre os pacientes que não recebem tratamento. O infectologista explica que a terapia antirretroviral inibe de forma eficaz a replicação viral, reduzindo o processo inflamatório crônico desencadeado pela doença.
“Pessoas que não sabem serem soropositivas e não estão sob tratamento têm maior chance de comprometimento do sistema cardiovascular. A população sexualmente ativa deve incorporar a pesquisa de HIV em seus exames de rotina anual independentemente da faixa etária”, aconselha.
Sintomas de doenças cardiovasculares em pessoas com HIV
Os sintomas de doenças cardiovasculares em pessoas com HIV podem ser os mesmos de qualquer outro indivíduo, incluindo:
- Dor no peito;
- Falta de ar;
- Palpitações;
- Tontura;
- Fadiga.
“Os sinais não dependem do elemento HIV em si, pois podem comprometer qualquer paciente com fatores de risco. Esses fatores serão analisados através da consulta médica dada pelas queixas apresentadas pelo paciente, do exame físico e dos exames laboratoriais. Destaca-se nesses exames laboratoriais a alteração dos valores de gordura sanguínea e de açúcar”, explica Dr. Paulo Furtado.
Prevenção de doenças cardiovasculares em pessoas com HIV
A prevenção de doenças cardiovasculares em pessoas vivendo com HIV envolve uma combinação de mudanças no estilo de vida e monitoramento médico.
Entre as principais orientações para reduzir o risco de doenças cardíacas em pessoas com HIV, Dr. Furtado destaca:
- Mudança de hábitos de vida;
- Busca por uma alimentação saudável;
- Abandono do tabagismo;
- Busca por atividade física regular;
- Adesão ao tratamento com as consultas médicas regulares.
“O controle do paciente é feito através de consultas semestrais ou anuais, nas quais é realizada a investigação de fatores de risco pela anamnese médica e exame físico em conformidade a cada paciente. Quando é grande a suspeita de doença cardiovascular, o cardiologista passa a ser de grande parceria no estadiamento do risco e na realização de exames mais complexos”, reforça.
Tratamentos para reduzir o risco de doenças cardiovasculares em pacientes com HIV
O acompanhamento de pessoas com HIV deve ir além do controle da carga viral. É necessário que os médicos monitorem regularmente os fatores de risco para doenças cardiovasculares, incluindo exames de colesterol, glicemia e pressão arterial.
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Dr. Paulo Furtado ressalta que novas opções de medicamentos estão sendo disponibilizadas no mercado. “No passado alguns antiretrovirais estavam associados a doenças cardiovasculares. Felizmente foram deixados de lado em função do aparecimento de novas drogas com baixo potencial de efeitos cardiovasculares”, afirma.
Ele enfatiza que, atualmente, os antirretrovirais de primeira linha utilizados no tratamento não estão relacionados a esses eventos. “Temos também como avanços o uso de novas estatinas e fibratos para tratamento de dislipidemias e hipoglicemiantes para controle de disglicemias”, complementa.
Se você ou alguém que você conhece vive com HIV e está preocupado com a saúde cardiovascular, não hesite em buscar orientação profissional. Agende uma consulta na Rede D’Or e converse com um especialista que poderá esclarecer suas dúvidas e elaborar um plano de tratamento adequado às suas necessidades.
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