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O médico torceu o nariz enquanto via o resultado do teste ergométrico.
– É, seu Hélio… o seu exame está bastante alterado. A boa notícia é que ele nos ajudou a entender as suas dores no peito e nos indica o próximo passo a ser dado: vou solicitar um CATETERISMO.
Aquilo foi um baque para o paciente. Ele esperava que um “remedinho” resolvesse tudo. Mas cateterismo?
– Você acha mesmo que eu tenho que fazer esse tal de cateterismo?
– Acho, não. Tenho certeza – respondeu com firmeza o médico.
– E como é isso, esse negócio de cateterismo?
– O cateterismo é um exame contrastado das artérias do coração. Ele é realizado por um especialista chamado hemodinamicista. Com uma agulha ele vai puncionar a artéria do seu pulso ou da sua virilha, colocar uma bainha e por ela introduzir um cateter que chegará ao seu coração para injetar contraste em suas coronárias direita e esquerda. Com isto veremos a sua “árvore” coronariana.
O seu Hélio tinha 69 anos era muito medroso, tinha medo até de tirar sangue para fazer exame, e estava ficando muito assustado com essa história
– Mas… enfiar uma agulha na virilha? Isso não é perigoso? O primo de um amigo meu fez esse exame e morreu.
– O cateterismo é um exame muito seguro, realizado por médicos experientes como aquele para quem vou lhe encaminhar. O índice de complicações é muito baixo, ainda mais se compararmos com o risco da doença obstrutiva coronariana.
– Certo, mas para que serve esse exame? – ainda assustado, mas começando a se render.
– No seu caso eu estou solicitando pela suspeita de que o senhor tenha angina, causada pelo entupimento em uma ou mais de suas coronárias. Estes entupimentos podem levar ao infarto e aí é um corre-corre para fazer o cateterismo e não queremos isso, não é mesmo? – e percebendo o medo do paciente acrescentou – O senhor sabia que se faz cateterismo até em crianças, em casos de doença congênita do coração?
– Entendi, mas eu faço o cateterismo, e daí?
– O cateterismo vai dizer se o senhor tem realmente alguma obstrução nas suas coronárias e nos indicar o melhor tratamento para o seu caso: se remédios apenas serão suficientes, ou se será necessária alguma intervenção cirúrgica ou angioplastia.
Seu Hélio sabia que tinha algo errado mesmo e se convenceu a realizar o cateterismo. O exame mostrou várias obstruções. Ele colocou quatro pontes e recuperou qualidade de vida.
Ele mudou hábitos e nunca mais teve nenhum problema cardíaco, vindo a falecer aos 82 anos, por outra causa.
Como eu sei disso? Eu era esse médico. E o seu Hélio era meu pai.
Dr. Cláudio Ramos da Costa
Coordenador do Serviço de Cardiologia do Hospital Rio Mar (RJ) – Rede D’Or São Luiz