No Brasil, a expectativa de vida deu um salto nas últimas décadas. Segundo o IBGE, em 1980, de cada mil pessoas que chegavam aos 60 anos, 344 alcançavam os 80 anos; em 2019, eram 604. Quanto disso pode ser atribuído a avanços na medicina? Difícil medir, mas não há por que duvidar que a inovação deu contribuição decisiva.
Olhando o futuro, há razões para uma expectativa otimista diante da revolução tecnológica na saúde. De um lado, ciência e tecnologia colocam à disposição recursos como genômica, nanotecnologia, robótica, inteligência artificial, medicamentos inteligentes, telemedicina —e estabelecimentos de saúde investem pesado para incorporá-los e melhorar os desfechos clínicos. De outro, temos comunicação móvel, internet, aplicativos e dispositivos que envolvem cada vez mais o paciente na condução do tratamento.
Graças às inovações, cresceu nossa capacidade de atuar sobre comportamentos e atenuar fatores que elevam a carga de doenças como obesidade, diabetes, hipertensão e tabagismo. É nesse território que, com apoio da tecnologia, se pode atacar na raiz os gastos excessivos com saúde. Para se ter ideia dos ganhos que se pode obter, nos EUA estima-se que esses “fatores de risco modificáveis” respondem por 27% dos gastos em saúde, segundo o artigo “Health-Care Spending Attributable to Modifiable Risk Factors in the USA”, publicado em outubro do ano passado na revista Lancet.
O caminho da inovação não é livre de perigos. Há, por exemplo, os riscos do excesso de tratamento ou de tecnologias não testadas o suficiente. Antídotos contra esses males são a gestão eficiente da saúde e a adoção de critérios rigorosos de incorporação tecnológica com base em custo-efetividade. Olhando-se o panorama da saúde no Brasil, fica evidente que o compromisso do setor assistencial com a inovação proporciona uma medicina mais efetiva, de menor sofrimento, com redução no tempo de internação e aumento da qualidade e da expectativa de vida das pessoas.
De fato, muitas vezes, a tecnologia na saúde é aditiva em custos. A solução para isso não é restringir a incorporação necessária, mas aperfeiçoar o modelo de cuidado para direcionar os recursos de forma eficiente. Tamanha é a importância da inovação para o desenvolvimento e a sustentabilidade da saúde que ela não deve ser tratada como pauta exclusiva deste ou daquele segmento, do setor público ou do privado. Ela é um objetivo a ser perseguido por toda a sociedade.