Fibrilação atrial e AVC: qual a relação?
A fibrilação atrial (FA) é uma das arritmias cardíacas mais comuns e aumenta o risco de acidente vascular cerebral (AVC). No Dia Mundial do AVC entenda essa relação
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A fibrilação atrial (FA) é uma das arritmias cardíacas mais comuns e está diretamente associada ao aumento do risco de acidente vascular cerebral (AVC). De acordo com um estudo publicado no Brazilian Journal of Health Review, a fibrilação atrial afeta cerca de 33 milhões de pessoas no mundo.
Um outro estudo publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, aponta que a ocorrência da fibrilação atrial tem aumentado devido ao envelhecimento da população, especialmente entre aqueles com mais de 60 anos.
Em comemoração ao Dia Mundial do AVC, celebrado em 29 de outubro, é fundamental alertar a população sobre a gravidade dessa condição. Elaboramos este texto para você entender a relação entre a fibrilação atrial e o AVC, além de conhecer as formas de prevenção e tratamento para reduzir os riscos. Continue lendo e confira.
O que é a fibrilação atrial?
De acordo com o Dr. Christian Luize, cardiologista especializado em eletrofisiologia invasiva, a fibrilação atrial caracteriza-se por uma irregularidade nas batidas do coração, que pode gerar sintomas desagradáveis, como palpitações.
“A fibrilação atrial é uma das várias arritmias que ocorrem nas cavidades superiores do coração, conhecidas como átrios. É uma importante desordem do ritmo, que afeta de 2 a 4% da população, aumentando sua prevalência com o avanço da idade”, descreve o especialista, que também é membro da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac).
Segundo o arritmologista, a irregularidade do ritmo causada pela FA, promove uma perda de sincronia das contrações, gerando estagnação sanguínea no interior dos átrios e formação de coágulos. “Esses trombos podem se desprender, trafegar pela corrente sanguínea e obstruir as pequenas artérias de vários órgãos do corpo, como cérebro, intestino, rins e pernas, levando a consequências graves”, explica.
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O que é o AVC?
O acidente vascular cerebral ou derrame, como é popularmente conhecido, ocorre quando o fluxo de sangue para uma parte do cérebro é interrompido ou reduzido, privando as células cerebrais de oxigênio e nutrientes.
Existem dois tipos principais de AVC: o isquêmico, causado por um bloqueio em uma artéria que leva sangue ao cérebro, e o hemorrágico, resultante do rompimento de um vaso sanguíneo no cérebro.
Segundo a Sociedade Brasileira de AVC (SBAVC) a mortalidade por AVC no Brasil cresceu. O número de óbitos passou de 112 mil em 2023.
Qual a relação da fibrilação atrial com o AVC?
A fibrilação atrial está fortemente associada ao risco de acidente vascular cerebral (AVC) devido à formação de coágulos sanguíneos dentro dos átrios, especialmente no átrio esquerdo.
“A irregularidade das batidas do coração causada pela fibrilação atrial gera uma dessincronia das contrações, determinando batimentos ineficazes que promovem a lentificação do fluxo sanguíneo dentro dos átrios. Essa estagnação sanguínea permite a formação de coágulos dentro dessas cavidades, especialmente dentro de uma estrutura chamada apêndice atrial esquerdo”, descreve Dr. Christian Luize.
O cardiologista ressalta que uma das consequências mais preocupantes é o deslocamento desses coágulos, que podem circular pela corrente sanguínea e bloquear artérias em diversos órgãos. “Um dos destinos desses trombos é o cérebro e, quando obstruem suas artérias, podem gerar um acidente vascular cerebral (AVC) ou derrame, com consequências graves, como a paralisia dos movimentos do corpo”, destaca.
Outro detalhe que o Dr. Luize define como muito importante é que o derrame causado pela fibrilação atrial tende a ser mais severo e incapacitante do que o AVC de outras origens, o que torna o tratamento dessa arritmia tão importante.
“Se um desses coágulos se desprender, ele pode ser levado pela corrente sanguínea até o cérebro, onde pode bloquear uma artéria cerebral, causando um AVC isquêmico”, alerta.
Pacientes com fibrilação atrial têm um risco até cinco vezes maior de sofrer um AVC em comparação com aqueles sem essa arritmia. Por isso, a identificação e o manejo adequado da fibrilação atrial, incluindo o uso de anticoagulantes para prevenir a formação de coágulos, são essenciais para reduzir o risco de AVC em pessoas com essa condição.
Como a fibrilação atrial aumenta o risco de AVC?
“O mecanismo através do qual a fibrilação atrial causa AVC é determinado pela desorganização das batidas do coração. O ritmo normal do coração (ritmo sinusal) é organizado, regular e harmônico, permitindo que o sangue esteja em constante movimento alimentando nossos órgãos”, explica Dr. Christian Luize.
Segundo o cardiologista, a fibrilação atrial é caracterizada pela desorganização do ritmo cardíaco, tornando-o irregular e caótico. Essa irregularidade faz com que os átrios batam de forma ineficaz, resultando na má circulação do sangue e sua estagnação nessas câmaras. Isso favorece a ativação da cascata de coagulação, levando à formação de coágulos que podem se desprender, circular pela corrente sanguínea e obstruir pequenas artérias do cérebro, provocando um AVC.
O médico explica que o risco de AVC em pacientes com fibrilação atrial é avaliado por escores que calculam a probabilidade de um derrame com base em vários fatores. Esses escores ajudam os médicos a decidir quando iniciar tratamentos para prevenir AVCs.
De acordo com Dr. Luize, os principais fatores que aumentam o risco de AVC em pacientes com fibrilação atrial incluem:
– Infarto prévio;
– AVC anterior;
– Insuficiência cardíaca (coração fraco);
– Idade avançada (quanto maior a idade, maior o risco).
Para os pacientes com risco elevado, a utilização de anticoagulantes orais é a principal estratégia preventiva. Não usar esses medicamentos quando indicados pode aumentar significativamente o risco de AVC (derrame). “Desta forma, seguir a orientação médica e fazer uso criterioso das medicações é fundamental para o sucesso do tratamento e diminuição do risco de acidente vascular cerebral”, complementa.
Além disso, um conceito mais recente que avalia a “carga de FA”, ou seja, o tempo total que um paciente permanece em ritmo de fibrilação atrial, tem sido utilizado como ferramenta adicional na avaliação do risco de eventos.
Quanto maior o tempo em FA, maior é o risco de formação de coágulos, que podem obstruir artérias, incluindo as do cérebro, levando a um AVC. Portanto, seguir as orientações médicas e usar os medicamentos conforme prescrito são essenciais para reduzir o risco de complicações graves.
Prevenção do AVC em pacientes com fibrilação atrial
O componente principal na prevenção do AVC em pessoas com fibrilação atrial é o uso de anticoagulantes orais. “Hoje, temos à disposição os novos anticoagulantes, medicações que são administradas por via oral e com posologias bastante confortáveis (uma a duas vezes ao dia, dependendo do anticoagulante prescrito)”, descreve o Dr. Luize.
Os novos anticoagulantes são tão eficazes quanto a warfarina, um medicamento bastante conhecido para prevenir coágulos sanguíneos. Segundo o Dr. Christian Luize, a grande vantagem dos novos anticoagulantes em relação a warfina, é que eles não precisam de monitoramento constante com exames de sangue regulares para verificar seus efeitos. Isso torna o uso dos novos anticoagulantes mais conveniente e confortável para os pacientes.
Quando o uso de anticoagulantes não é uma opção ou não está funcionando bem, existem outras alternativas. Uma delas é o uso de dispositivos especiais que são colocados no coração para fechar uma pequena área chamada apêndice atrial esquerdo, que é onde os coágulos geralmente se formam. Esses dispositivos ajudam a prevenir a formação de coágulos e, assim, reduzem o risco de AVC.
A fibrilação atrial e o AVC estão intimamente ligados, e a prevenção é o melhor caminho para reduzir os riscos. Para prevenir e controlar a FA, é importante manter a pressão arterial, o colesterol e o diabetes sob controle, evitar fumar e consumir álcool em excesso, além de praticar exercícios regularmente.
A fibrilação atrial (FA) pode ser diagnosticada com exames como eletrocardiograma (ECG), monitoramento Holter e ecocardiograma. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado da FA podem salvar vidas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Agende uma consulta com um cardiologista.