Daniel Herchenhorn será o único representante da América Latina em grupo formado por uma das mais importantes revistas médicas do mundo
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Há um mês o oncologista Daniel Herchenhorn foi surpreendido com um e-mail da revista inglesa Lancet, uma das publicações de maior prestígio da área médica. O periódico forma comissões para debater temas atuais relacionados à saúde e pela primeira vez vai discutir este importante assunto, que é o câncer de próstata. Herchenhorn recebeu o convite para participar e será o único representante da América Latina em um grupo composto por 27 médicos. São oncologistas, radiologistas, cirurgiões, epidemiologistas, entre outras especialidades, vindos da Índia, África e principalmente dos Estados Unidos, Canadá e Europa.
“A ideia da Lancet de criar essa comissão vem ao encontro de uma necessidade de repensar como estamos lidando com o câncer de próstata em caráter mundial, pois essa doença é um problema de saúde pública”, destaca o oncologista. O câncer de próstata é o mais frequente entre os homens, depois do câncer de pele e é a segunda causa de morte por câncer em homens no Brasil, com mais de 14 mil óbitos. Segundo estimativas do INCA, mais de 65 mil novos casos devem ser diagnosticados até o fim deste ano, sendo que, no mundo, serão mais de 1,3 milhão de novos diagnósticos.
O trabalho ainda está em um estágio inicial. Houve uma primeira reunião por videoconferência, justamente para estabelecer métodos de trabalho e prioridades. Os membros foram divididos em subgrupos e foram feitas as primeiras sugestões. Segundo Herchenhorn, que é oncologista da Oncologia D’Or e tem uma relevante experiência em grupos de pesquisa, existe um grande interesse da comissão de fazer uma revisão científica de questões que eventualmente tenham sido pouco abordadas, bem como realizar estudos que possam apresentar novas diretrizes no cenário do diagnóstico e tratamento do câncer de próstata.
“É um grupo que reúne a oportunidade de colaboração internacional e multidisciplinar e tem como foco principal gerar transformação, seja no cenário médico ou de propor possíveis mudanças de ação política em relação à doença”, destaca. Para ele, um tema fundamental é o de como melhorar o acesso às melhores práticas de diagnóstico e tratamento. “É um desafio fazer com que as pessoas tenham acesso ao que existe de melhor na medicina e isso é um problema no mundo inteiro”, relata o oncologista que ainda lamenta o fato de não existir no Brasil uma política de saúde destinada à prevenção e ao tratamento do câncer de próstata e de outros tumores comuns como o câncer de pulmão, mama e cólon.
Herchenhorn também espera que possa dar mais destaque à incidência da doença nas pessoas mais idosas, bem como aproveitar esse esforço internacional para criar laços que estimulem e favoreçam o desenvolvimento de pesquisas no Brasil e na América
Latina. “Será uma oportunidade de dar mais visibilidade aos estudos que são feitos por aqui”, afirma o oncologista que é um dos fundadores do grupo de pesquisa de câncer genitourinário da Latin American Cooperative Oncology Group (Lacog).
A participação na comissão da Lancet também é um reconhecimento a sua carreira e ao trabalho que realiza há 20 anos na área de câncer de próstata. Herchenhorn já participou de dezenas de estudos e colaborações internacionais e foi por muitos anos pesquisador e chefe do serviço de Oncologia Clínica do Instituto Nacional de Câncer (INCA). “Eu me dedico a pesquisas há duas décadas e será uma grande realização se a comissão alcançar a visibilidade pretendida e gerar uma relevante repercussão”, afirma.