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Os gastos per capita com saúde aumentam ano a ano em todo o mundo acima da inflação. As razões do fenômeno são várias. A consequência, em síntese, é uma pressão contínua sobre orçamentos domésticos e corporativos, o que constitui um alerta para o futuro da saúde.
É imperativo, diante desse cenário, que líderes do setor de saúde assumam o compromisso de agir para mitigar, conter ou diminuir os custos da assistência sem pôr em risco a qualidade. Creio que prevenção das doenças e aumento da eficiência das instituições são a melhor resposta a esse desafio. Em artigo nesta Folha, apontei a importância do aumento de escala para diluir custos e tornar a assistência mais acessível. Hoje, destaco três vetores que concorrem para melhorar resultados clínicos e de custeio: organização das redes assistenciais, coordenação dos cuidados e transformação digital.
Pacientes em geral não são especialistas em saúde. Precisam ser orientados sobre como prevenir-se das doenças. E merecem informações precisas sobre os tratamentos, como serão conduzidos, as instituições envolvidas, os exames e os medicamentos, as internações e as consultas de acompanhamento que serão necessárias. Essa orquestração deve ser feita intra e entre redes, organizada pela coordenação do cuidado e potencializada pelas revoluções que a transformação digital possibilita.
A organização das redes pressupõe infraestrutura e pessoal suficiente e adequadamente alocados. As redes de exames diagnósticos, de consultórios e de hospitais precisam estar organizadas e interconectadas para que o paciente flua por elas sem redundância de intervenções, com rapidez e segurança, construindo seu processo de cura. Essas redes no dia a dia guardam pouca semelhança operacional entre si e, por isso, o foco tem de ser dirigido à sua estruturação e integração.
Com redes bem estruturadas e integradas, a inteligência clínica deve ser posta a serviço dos pacientes e todo seu processo de cuidado deve ser detalhadamente descrito, acompanhado e coordenado por equipes multidisciplinares concentradas na observância do tratamento e num processo de cura mais efetivo. Isso agiliza o trabalho, reduz possibilidades de erro, garante desfechos clínicos melhores e modelos de remuneração baseados em valor. Todos ganham —o paciente, a instituição de saúde e o sistema de financiamento.
O terceiro fator para a melhoria da relação custo-efetividade é a transformação digital. Amostras do seu poder transformador são a telessaúde, o diagnóstico remoto, os prontuários eletrônicos e os repositórios unificados de dados dos pacientes. Organizar redes, integrá-las e coordenar o cuidado de grande número de pacientes é tarefa que requer ferramentas digitais poderosas e bem modeladas. Quando os dados de prontuários forem interoperáveis entre as instituições, o processo decisório dos médicos contará com melhores informações e haverá um salto qualitativo na assistência em geral.
O leque de ações possíveis é grande e há diversos movimentos para aumentar a eficiência de parte de hospitais, clínicas, laboratórios e operadoras de saúde. Nós fazemos nossa parte. Esse é um caminho que exige compromisso, investimentos e ação. Os resultados desse esforço serão um sistema mais sustentável, uma assistência mais acessível e melhores resultados clínicos para os pacientes.
Fonte: Folha de São Paulo