Os anabolizantes podem causar hipertrofia e insuficiência cardíaca, arritmias, surgimento de placas nas artérias que podem levar ao infarto ou AVC, entre outros.
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Os anabolizantes são substâncias sintetizadas a partir de hormônios como a testosterona, responsável pelo desenvolvimento das características masculinas, e que têm papel fundamental no aumento de massa muscular, força, energia e capacidade de concentração. No entanto, usado de forma indiscriminada e acima dos limites, provoca efeitos nocivos ao coração e a outros órgãos.
Entre os problemas cardíacos causados pelos anabolizantes estão a hipertrofia cardíaca, insuficiência cardíaca, arritmias, surgimento de placas de gordura nas artérias (aterosclerose), que podem levar ao infarto ou AVC, entre outros.
Em abril de 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma nova resolução que veta a prescrição médica de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes com finalidade estética, para ganho de massa muscular e ou melhora do desempenho esportivo em atletas tanto amadores quanto profissionais.
Para entender melhor como os anabolizantes afetam o coração (e outros órgãos), quais os riscos, os efeitos no corpo do homem e da mulher e quando eles podem ser prescritos, consultamos a Cardiologista Dra. Tathiana Balthazar que é Médica Rotina da Unidade Cardiointensiva e Coordenadora do Serviço de Ergometria no Hospital Caxias D’Or, no Rio de Janeiro.
As “bombas”, como também são conhecidos os anabolizantes, atuam no sistema cardiovascular causando efeitos como:
“O coração é um músculo. Se os anabolizantes fazem com que os músculos do braço, por exemplo, fiquem desenvolvidos, isso também acontecerá com o coração”, explica a médica. A hipertrofia do músculo do coração é uma doença e atrapalha seu funcionamento.
O uso dos anabolizantes predispõe a alterações do ritmo cardíaco, o que pode causar palpitações, dor, falta de ar e até mesmo algumas com risco de morte!
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Ocorre a diminuição da força de contração, que pode ser irreversível. Sem força, a pessoa sente cansaço extremo, falta de ar, as pernas incham e não consegue mais realizar atividades simples do cotidiano.
Ocorrem em razão da formação de coágulos. Os maiores riscos são coágulos causando trombose na perna, embolia pulmonar e derrame (AVC).
“A ação do uso de anabolizantes pode ocasionar o aumento do colesterol ruim e queda do colesterol bom, elevando o risco de eventos cardiovasculares como infarto, AVC e morte”, ressalta Dra. Tathiana.
Pode causar o estreitamento dos vasos sanguíneos e retenção de líquidos, ocasionando o aumento da pressão arterial. Com pressão alta, há risco de perder a função renal, a acuidade visual e aumento no risco de infarto e derrame.
Apesar dos malefícios para a saúde, o uso de anabolizantes tem se tornado cada vez mais comum com a popularidade do estilo de vida fitness nas academias.
Dados da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) estimam em 3,3% a taxa de prevalência global de uso de anabolizantes de toda a população ao longo da vida. Entre os homens, a taxa de prevalência foi contabilizada em 6,4%, enquanto para as mulheres foi de 1,6%.
“Os efeitos colaterais dos hormônios anabolizantes são multissistêmicos (acomete todo o corpo), daí a reprovação da utilização para fins estéticos e para melhoria de performance por diversas sociedades médicas, incluindo Endocrinologia, Cardiologia, Geriatria, Urologia, Ginecologia, Dermatologia, Medicina do Esporte, entre outras”, afirma a cardiologista, citando as especialidades que se uniram para solicitar ao CFM uma ação contra o uso recreacional de hormônios.
Também em conjunto, algumas entidades de saúde mantêm o projeto “#BombaTôFora”, que tem papel educacional de prevenção ao uso de esteroides anabolizantes e similares e atua fornecendo ferramentas de informação sobre os malefícios decorrentes da utilização dessas substâncias.
Além do coração, o uso de anabolizantes pode trazer efeitos colaterais para todo o organismo, tais como:
“Como está sendo ofertado o hormônio, o organismo encara como sendo ‘desnecessária a produção’ e entra em um estado de inércia, o que em longo prazo pode gerar deficiência permanente e necessidade de suplementação contínua”, explica a cardiologista.
A médica alerta que o usuário de esteroides seja ele homem ou mulher se tornará em última instância um dependente químico.
“Isso porque ele se torna cada vez mais dependente daquela substância e pode inclusive apresentar sintomas neurológicos com alterações de comportamento como agressividade, alucinações e psicoses.”
Segundo a especialista, na mulher os efeitos adversos mais relatados e temidos são:
No homem, os principais efeitos colaterais em longo prazo são:
E também outros efeitos como surgimento de acne e desenvolvimento das mamas, o que é chamado de ginecomastia.
A médica afirma que isso é uma incógnita.
“Sabemos que os efeitos colaterais e complicações podem ser dose independentes, ou seja, podem surgir logo no primeiro ciclo e as consequências podem ser permanentes. No geral, quanto maior o tempo de uso, a dose e a resposta ao hormônio maiores serão as complicações e o risco de reversão é menor”, explica.
De acordo com Dra. Tathiana, o princípio médico básico ao prescrever qualquer medicação se baseia no binômio: benefício X risco. Ela explica que qualquer intervenção médica só pode ser empregada quando há um embasamento científico que mostre ao profissional que os benefícios ultrapassam os riscos.
“Até o momento, não temos qualquer evidência segura em relação ao uso de anabolizantes em pacientes que não têm hipogonadismo, (deficiência na produção desses hormônios)”.
A suplementação do hormônio pode ser recomendada diante de uma deficiência androgênica comprovada, isto é, quando os níveis sanguíneos do hormônio testosterona estão abaixo do normal, sendo assim considerado como hipogonadismo primário.
De acordo com Dra. Tathiana, o hipogonadismo primário é definido quando a produção hormonal não acontece por um problema no eixo hormonal do organismo. Já o hipogonadismo secundário é o que acontece nos usuários crônicos de hormônio. “Em pacientes que não tem hipogonadismo (deficiência na produção desses hormônios) ocorre o bloqueio da produção do hormônio no corpo em resposta ao uso do hormônio sem indicação”, completa.
A médica destaca que por esse motivo é importante que a deficiência seja diagnosticada de forma correta e inequívoca e que haja um nexo causal entre a deficiência e a queixa do paciente.
O uso de qualquer substância, incluindo medicamentos, sem prescrição médica pode trazer consequências irreversíveis. Se você tem alguma dúvida sobre sua produção hormonal, agende uma consulta com nossos especialistas.