Doenças cardiovasculares são complicações graves em pacientes com diabetes
Alguns medicamentos usados para tratar o diabetes também oferecem benefícios protetores para o coração.
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A prevenção cardiovascular em pacientes com diabetes é essencial para melhorar a qualidade de vida e aumentar a longevidade. O controle do diabetes vai além da regulação da glicemia: é fundamental incluir cuidados com o coração e o sistema circulatório. Ações preventivas e acompanhamento médico rigoroso são chaves para uma vida mais saudável e segura para quem vive com diabetes.
No dia 14 de novembro é celebrado o Dia Mundial do Diabetes, data fundamental para promover a conscientização sobre a prevenção cardiovascular para reduzir as mortes por doenças cardíacas entre pessoas com diabetes.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, as doenças cardiovasculares estão entre as complicações mais graves do diabetes. Um estudo conduzido pelo EndoDebate em colaboração com a Revista Saúde revelou que até 80% das pessoas com diabetes podem desenvolver essas condições.
A prevenção cardiovascular é uma medida indispensável para pessoas com diabetes que buscam uma vida longa e saudável. Dados da Sociedade Brasileira de Diabetes reforçam que pessoas com diabetes possuem um risco duas vezes maior de sofrer um infarto agudo do miocárdio.
Continue lendo e entenda a importância dos cuidados contínuos e do acompanhamento médico para pessoas com diabetes.
Por que o diabetes aumenta o risco de doenças cardiovasculares?
O diabetes, especialmente o tipo 2, está associado a altos níveis de glicose no sangue, que danificam os vasos sanguíneos e aumentam o risco de aterosclerose. Além disso, essa condição está frequentemente ligada a outros fatores de risco cardiovascular, como hipertensão, colesterol alto e obesidade. Esses problemas combinados aumentam a probabilidade de desenvolver doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais.
Os pacientes com diabetes tipo 1 também enfrentam um risco elevado de complicações cardiovasculares, especialmente quando a doença dura mais tempo. As complicações vasculares tendem a se manifestar devido ao efeito cumulativo da hiperglicemia ao longo dos anos.
A Dra. Luciana Lopes, endocrinologista nos hospitais Copa D’or e Copa Star, no Rio de Janeiro, enfatiza que tanto os pacientes com diabetes tipo 1 quanto com tipo 2 precisam de acompanhamento rigoroso e de estratégias de prevenção cardiovascular para minimizar esses riscos.
“Os pacientes com diabetes tipo 2 têm a incidência de doença cardiovascular e de acidente vascular isquêmico aumentada em duas vezes a quatro vezes, e a mortalidade aumentada em 1,5 vez a 3,6 vezes. O diabetes tipo 2 também aumenta o risco de insuficiência cardíaca, doença arterial periférica e complicações microvasculares”, complementa a especialista.
Além da associação com os problemas cardiovasculares, o diabetes também pode ser um dos principais causadores de doença renal crônica.
De acordo com a Dra. Luciana, quando os rins são afetados pelo diabetes, aumenta o risco de complicações cardiovasculares, incluindo:
- Morte cardiovascular;
- Angina;
- Infarto agudo do miocárdio (IAM);
- Acidente vascular cerebral (AVC);
- Revascularização;
- Internação por insuficiência cardíaca (IC).
“Pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) têm aproximadamente 2 vezes mais risco de desenvolver insuficiência cardíaca quando comparados a indivíduos sem DM2”, destaca a Dra. Luciana.
A ligação entre os rins e o coração é muito forte. Ainda que a pessoa com diabetes cuide do coração, a presença da doença renal crônica eleva o risco de problemas cardíacos. Por isso, quem tem diabetes precisa de um cuidado especial para proteger tanto os rins quanto o coração, além de fazer um acompanhamento médico contínuo para evitar outras complicações graves.
Assim como hipertensão arterial, dislipidemia (colesterol elevado), sedentarismo, tabagismo, obesidade e histórico familiar, o diabetes também é um dos fatores de risco para a aterosclerose. “A doença aterosclerótica é uma condição cardiovascular que se caracteriza pelo acúmulo de placas de gordura nas paredes das artérias, o que pode levar a um fluxo sanguíneo reduzido ou bloqueado, no cérebro, ocasionando a doença arterial coronariana e cerebral”, descreve.
Prevenção cardiovascular em pacientes com diabetes
Para reduzir o risco de doenças cardiovasculares, é fundamental que pessoas com diabetes adotem medidas de prevenção cardiovascular. O controle da glicose é essencial, pois manter os níveis de glicemia sob controle ajuda a minimizar os danos nos vasos sanguíneos e o risco de complicações cardiovasculares.
“O controle da glicemia, os níveis de hemoglobina glicada (Hba1c) estão bem correlacionados com a diminuição das complicações microvasculares e com desfechos cardiovasculares. É importante alcançar a meta do controle glicêmico sem causar hipoglicemia“, alerta.
Além do controle da glicose, a Dra. Luciana Lopes destaca outras medidas importantes na prevenção cardiovascular em pessoas com diabetes. São elas:
– Monitorar e tratar a pressão arterial se necessário:
“Pessoas com diabetes (DM) são consideradas de alto risco, mesmo na fase de pré-hipertensão, independentemente da presença de fatores de risco, lesões de órgão-alvo, doença renal do diabetes (DRD) estágio 3 ou doença cardiovascular (DCV)”, destaca.
– Tratar o colesterol de acordo com o risco cardiovascular:
O tratamento visa reduzir eventos e a mortalidade cardiovascular. “Os pacientes com diabetes necessitam com frequência de medicações de uso crônico e contínuo para que cada fração do colesterol alcance as metas recomendadas de acordo com o risco cardiovascular”, aponta.
Além disso, por terem maior risco de doenças cardiovasculares, as metas para o colesterol podem ser mais rígidas em comparação com pessoas sem diabetes.
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– Praticar atividade física regular:
“A prática regular do exercício físico, orientado por profissional qualificado, conseguindo alcançar 150 minutos por semana é o mais importante nos pacientes com diabetes com o objetivo de melhorar o controle glicêmico, reduzir o risco cardiovascular, melhorar o bem-estar-físico e mental e ajudar no controle do peso”, aconselha.
– Tratar a obesidade/controlar o peso corporal:
A manutenção do peso normal não só previne complicações cardíacas em quem tem diabetes, como também melhora muito a glicemia (níveis de glicose no sangue).
“Ter entre os focos o controle do peso e o tratamento da obesidade, que é uma doença crônica e progressiva”, orienta.
– Não fumar:
O tabagismo aumenta significativamente os riscos cardiovasculares. Abandonar o cigarro traz benefícios imediatos para a saúde do coração e para a circulação.
– Controlar o uso de bebidas alcoólicas:
O consumo de álcool em excesso pode elevar a pressão arterial e os triglicerídeos, aumentando o risco de doenças cardíacas.
– Conhecer seu histórico familiar de doenças cardiovasculares:
Saber sobre doenças cardíacas na família (INCLUIR QUANDO ENTRAR TEXTO: A influência genética no risco de doenças cardíacas) ajuda a identificar riscos e a tomar medidas preventivas adequadas.
– Controlar o estresse:
O estresse crônico pode prejudicar a saúde cardiovascular. Práticas como meditação, mindfullness e exercícios físicos ajudam a reduzir o estresse.
– Melhorar a qualidade e a duração do sono:
Dormir o suficiente é vital para a saúde do coração. Um sono adequado auxilia na recuperação e no funcionamento do sistema cardiovascular. Além da duração, é importante que o sono tenha qualidade e os pacientes devem estar atentos à presença de apneia do sono. Quem ronca muito à noite e/ou acorda com sensação de cansaço (“sono mal dormido”) deve passar por uma avaliação em um médico com atuação em sono.
– Acompanhamento médico regular:
O acompanhamento com uma equipe multidisciplinar ajuda a monitorar a saúde, detectar complicações cardiovasculares precocemente, ajustar tratamentos, além de oferecer orientações sobre hábitos saudáveis. Pacientes com diabetes que conseguem manter sua hemoglobina glicada próximo da meta tem menos risco de complicações cardiovasculares com o passar dos anos.
– Adotar uma alimentação saudável com uma dieta equilibrada:
A endocrinologista orienta a adoção de uma alimentação equilibrada e personalizada, rica em fibras e com a quantidade adequada de proteínas (considerando a função renal do paciente), além de evitar alimentos ultraprocessados e gorduras saturadas.
“A orientação nutricional para o paciente com diabetes deve ter como base a alimentação equilibrada. Os objetivos são os de atender às necessidades nutricionais, atingir metas glicêmicas, obtenção e manutenção do peso saudável, contribuir para o controle da pressão arterial e dos lípides séricos, atuando na prevenção das complicações associadas ao diabetes”, acrescenta.
Tratamento e controle do risco cardiovascular no diabetes
De acordo com a endocrinologista Dra. Luciana Lopes, existem medicamentos que podem ajudar no controle dos fatores de risco cardiovascular em pacientes com diabetes, como estatinas para regular o colesterol e medicamentos para manutenção da pressão arterial. Além disso, alguns medicamentos usados para tratar o diabetes também oferecem benefícios protetores para o coração.
“Ao escolher uma medicação para tratar o diabetes tipo 2 não nos importa apenas o controle glicêmico, mas é importante também que diminua o risco cardiovascular, que atue protegendo o rim do paciente, além de atuar na diminuição do peso e no tratamento da Doença Hepática Esteatótica Metabólica“, destaca a especialista.
A Sociedade Brasileira de Diabetes recomenda a avaliação do risco cardiovascular em adultos com diabetes tipo 2 antes de determinar a estratégia de uso dos medicamentos antidiabéticos.
De acordo com a especialista, medicamentos inibidores do SGLT2 (iSGLT2) e agonistas do receptor do GLP-1 (AR GLP-1) oferecem benefícios importantes para a saúde do coração e dos rins em pessoas com diabetes tipo 2 (DM2) que estão em alto risco.
“Reduções de 10% em eventos CV com os iSGLT2 e de 14% com os AR GLP-1 são obtidas em pacientes de alto risco. Estas se estendem a subgrupos com ou sem história de eventos CV prévios. Em face a esses benefícios, o uso dessas duas classes (aqui chamadas de antidiabéticos de 1ª linha – AD1) passa a ser preconizado para pacientes de alto risco com DM2, independentemente do nível de HbA1c”, aponta.
É fundamental que pacientes com diabetes mantenham um diálogo aberto com seus médicos sobre as opções de tratamento. Cada paciente é único, e a personalização do tratamento pode fazer toda a diferença na jornada rumo a uma vida mais saudável e equilibrada.
Não hesite em discutir suas preocupações e expectativas com um médico. Agende uma consulta com um dos nossos especialistas e encontrem juntos a melhor abordagem para cuidar da sua saúde.