Os sintomas cardíacos nas mulheres muitas vezes se manifestam de formas diferentes dos homens e são subestimados nas emergências médicas. Saiba como se prevenir.
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Os sintomas de angina e infarto em mulheres são diferentes dos homens e muitas vezes subestimados quando elas são atendidas nas emergências hospitalares. Por isso, você, mulher, deve ficar atenta a uma dor em aperto, que irradia para as costas, parte superior do abdome, na região do estômago, além de cansaço. Essas podem ser as características de infarto nas mulheres, enquanto nos homens a dor mais frequentemente se irradia para o braço esquerdo e mandíbula, com sudorese – sintomas notadamente conhecidos como os sinais de um infarto.
A preocupação com a saúde cardíaca da mulher ganhou uma data: 14 de maio, aprovada em 2022 como o Dia Nacional da Conscientização das Doenças Cardiovasculares na Mulher. O dia foi sugerido pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em 2019, após a Carta das Mulheres e o Projeto de Lei 1136/19, apresentado na Câmara dos Deputados pela deputada federal Mariana Carvalho.
A ‘Carta das Mulheres’, elaborada pelos Drs. Glaucia de Oliveira, Marcelo Queiroga e assinada por mais de 20 cardiologistas, mulheres, entre elas as Dras. Olga Ferreira de Souza e Celi Marques-Santos, sugeriu, entre outras, a criação de um grupo permanente para a promoção e implementação de políticas voltadas para a saúde cardiovascular das mulheres. A carta também objetiva fomentar a participação das mulheres na área de ciências, nos eventos científicos de saúde, mobilizar os meios de comunicação para levar informações contínuas sobre a importância das doenças cardiovasculares (DCV) nas mulheres, seus principais fatores de risco e formas de prevenção etc.
Para celebrar as datas e incentivar o cuidado das mulheres com a saúde cardíaca, leia a seguir quais são as principais doenças cardíacas nas mulheres, os fatores de risco característicos femininos e como se prevenir.
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As doenças cardiovasculares atingem a mulher desde a puberdade à menopausa. As características anatômicas, biológicas e hormonais femininas, assim como os inúmeros fatores de risco, as predispõem ao aumento do risco cardíaco. Situações comportamentais, como o estresse e a jornada dupla, muitas vezes tripla, de trabalho também têm forte contribuições.
Entre as mulheres, as principais doenças cardiovasculares são:
A hipertensão pode atingir a mulher em todas as suas fases de vida. No seu período fértil, é responsável inclusive pelo surgimento da pré-eclâmpsia e pelo aumento da mortalidade durante a gestação. Toda mulher que deseja engravidar e aquelas já grávidas devem acompanhar a pressão arterial e tomar medidas para manter a saúde cardiovascular em dia. A hipertensão arterial é também fator de risco para desenvolvimento da cardiopatia isquêmica, com risco aumentado de infarto agudo do miocárdio (IAM) e derrame (acidente vascular cerebral).
A cardiopatia isquêmica ocorre quando as coronárias, os vasos sanguíneos que nutrem o coração, ficam impedidos de transportar o sangue para o órgão, levando a mulher a ter angina, infarto, arritmia e até insuficiência cardíaca (“falta de força do coração”).
A insuficiência cardíaca ocorre quando o funcionamento do coração está comprometido: ele perde a força, cresce (“incha”) e com isso aparece um cansaço, chamado popularmente de “fôlego curto” e “falta de ar”. As pernas podem inchar e o paciente tem dificuldade em dormir deitado.
Comum ser relatada como “coração acelerado” ou “batedeira no coração”. A fibrilação atrial (FA) é a arritmia mais comum na mulher; nesta arritmia, os batimentos ficam irregulares e acelerados, comprometendo o funcionamento do músculo cardíaco. O paciente pode sentir também dor no peito, falta de ar e cansaço. Além disso, quando esta arritmia ocorre, pode haver a formação de um coágulo no coração; se ele soltar, pode haver um derrame (AVC). A fibrilação atrial é uma das principais responsáveis pelos casos de AVC nas mulheres.
Há dois tipos de AVC, chamados também de “derrame”. O mais comum é quando há uma obstrução nas artérias; neste caso, falta glicose e oxigênio e os neurônios morrem por isquemia, o chamado infarto cerebral. As duas causas mais comuns são as placas de gordura (aterosclerose) e os coágulos. Há ainda o tipo hemorrágico, no qual o vaso sanguíneo se rompe e há um sangramento intracraniano, o que pode deixar sequelas graves. A pressão alta e os aneurismas são as causas mais comuns deste tipo de AVC.
Adotar um estilo de vida saudável, abandonar o fumo, manter o peso corporal, controlar os níveis de colesterol, realizar exercícios físicos e fazer acompanhamento médico regular são hábitos imprescindíveis para cuidar da saúde do coração.
“É necessário criar meios de divulgação para que as mulheres tenham o conhecimento de que mulher infarta e pode infartar ainda jovem, mulher tem AVC mais do que o homem e, ao modificar seus hábitos de vida, ela muda sua história, aumenta sua sobrevida e se torna mais saudável e feliz”, afirma Dra. Celi Marques-Santos, cardiologista clínica do Hospital São Lucas D’Or – Regional Sergipe e ex-presidente do Departamento de Cardiologia da Mulher da SBC (biênio 2020-2021).
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As doenças cardiovasculares são classificadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a principal causa de mortes no mundo.
O Relatório de Estatística Cardiovascular do Brasil, emitido pela SBC, aponta que cerca de 45% de todos os óbitos por doenças crônicas não transmissíveis no mundo, mais de 17 milhões são causadas por doenças cardiovasculares. No Brasil 72% das mortes são decorrentes das doenças crônicas não transmissíveis, sendo 30% devido às doenças cardiovasculares.
A sobrevida da mulher depois de um infarto do miocárdio, por exemplo, é de apenas 5,5 anos, quando para os homens é de 8,2 anos, segundo relatório da Associação Americana de Cardiologia.
Para recomendar a prevenção é necessário que o clínico e o cardiologista reconheçam os fatores de risco cardiovasculares da mulher, principalmente os fatores potencializadores, específicos, de risco.
“Utilizar os algoritmos para as devidas classificações em risco muito alto, alto, intermediário e baixo, reclassificar se necessário o risco intermediário e baixo e estabelecer, o mais precoce possível, as devidas orientações cardiológicas”, instrui Dra. Celi.
De acordo com a cardiologista, todo esse conhecimento precisa ser divulgado, ensinado e praticado, universalmente.
“A prevenção e o tratamento de doenças cardiovasculares em mulheres necessitam de sistemas de saúde robustos apoiados por profissionais com conhecimento das especificidades das cardiopatias em mulheres, além de esforços coordenados com parcerias produtivas entre a sociedade política, tanto da área privada e pública, médicos, pesquisadores e a comunidade de modo geral”, destaca.
Com informações de fácil alcance e profissionais especializados para atender às demandas específicas das doenças cardiovasculares na mulher, é possível informar e esclarecer a população e, principalmente, as mulheres sobre os fatores de risco cardiovasculares e a importância do diagnóstico e tratamento precoce.
“O Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia vem trabalhando em produção científica, posicionamentos, webinars, lives, cursos de educação continuada e inúmeras ações multidisciplinares, para impulsionar, difundir o conhecimento, tanto para os profissionais de saúde quanto para a população geral sobre a saúde cardiovascular da mulher”, afirma a médica.
Na população em geral a maioria das mortes prematuras poderiam ser evitadas com o controle de quatro fatores de risco:
De acordo com a Dra. Celi, alguns fatores têm efeito de risco mais acentuado nas mulheres. Ela divide esses fatores em 3 tópicos:
Apesar de se tratar de fator de risco que afeta a população em geral, a diabetes, por exemplo, de acordo com a Dra. Celi, confere à mulher risco 45% maior em relação ao homem.
Mulheres fumantes também possuem 25% mais risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares em comparação ao homem, segundo a especialista.
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São fatores que afetam o psicológico e em consequência podem afetar a saúde do coração:
Essas condições podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares em longo prazo ou ainda piorar os problemas cardíacos já existentes.
“Esses fatores promovem inflamação, disfunção endotelial, o aparecimento da aterosclerose subclínica, disfunção autonômica, disfunção imune, antecedentes que conduzem às doenças cardiovasculares, representados por infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, morte súbita cardíaca, fibrilação atrial e demência”, explica a médica.
A manifestação da doença cardiovascular na mulher é diferente da manifestação no homem. Segundo Dra. Celi, 64% das mulheres que morrem subitamente por doença coronária, por exemplo, não têm sintomas prévios.
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A abordagem incorreta ou o desconhecimento público podem, inclusive, fazer com que muitas mulheres sequer procurem um médico. Na doença isquêmica (angina e infarto) é relativamente frequente a mulher ter a doença sem evidência de obstrução coronariana importante.
“Fatores como estresse emocional, mental e psicossocial desencadeiam mais isquemia na mulher se comparado ao homem, que tem o estresse físico como preponderante”, completa.
Como vimos, os riscos de problemas cardíacos nas mulheres podem ser aumentados devido a algumas condições e seus sintomas são diferentes dos que são propagados como sintomas clássicos, por isso, ter seu check-up em dia é fundamental.
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