As complicações mais graves da diabetes são as doenças cardiovasculares. Aprenda a gerenciar os riscos.
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A diabetes é uma doença crônica que afeta 10,2% da população brasileira, de acordo com a pesquisa Vigitel Brasil 2023. O Diabetes Mellitus é uma condição caracterizada pela elevação dos níveis de glicose no sangue (hiperglicemia), resultante de defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no diabetes. Outros problemas de saúde sérios enfrentados pelos pacientes com diabetes são a perda da acuidade visual, incluindo cegueira, amputação de membros, dores neuropáticas e insuficiência renal crônica com risco de diálise. O diabetes é a causa mais comum de cegueira, amputação de perna e diálise de causas não traumáticas no Brasil!
A diabetes pode causar uma série de problemas de saúde que aumentam o risco de doenças cardíacas. Neste artigo, exploraremos como a diabetes contribui para problemas cardíacos e as melhores práticas para gerenciar esses riscos.
A diabetes, quando não gerenciada adequadamente, aumenta o risco de doenças cardíacas através de uma combinação de danos aos vasos sanguíneos, pressão alta, desequilíbrios lipídicos, inflamação crônica, resistência à insulina, neuropatia (problemas nos nervos periféricos) e obesidade.
Médico endocrinologista do Hospital São Lucas, da Rede D’Or em Aracaju (SE), Dr. Francisco Pereira aponta que os níveis elevados de glicose no sangue podem causar:
O médico destaca que a doença coronária é a principal causa de insuficiência cardíaca no mundo moderno.
“A associação de outros fatores de risco cardiovascular nos pacientes diabéticos, especialmente a hipertensão arterial e dislipidemias, caracterizadas pelos níveis elevados de colesterol, é determinante para a maior incidência de eventos cardiovasculares nesses indivíduos quando comparados aos não diabéticos”, ressalta.
A diabetes e outros fatores de risco cardiovascular, como dietas inadequadas, sedentarismo, tabagismo e consumo excessivo de álcool, são considerados como pertencentes a um “terreno comum” nas causas das doenças cardiológicas.
“As doenças cardiovasculares são uma das mais importantes complicações do diabetes mellitus tipo 2. Indivíduos diabéticos apresentam o dobro do risco de morrer por causa cardiovascular quando comparados à população geral”, garante o especialista.
De acordo com Dr. Francisco Pereira, pessoas com diabetes quando sofrem um evento coronariano têm um risco maior de morte em comparação com aquelas sem a doença. A presença de diabetes também triplica a mortalidade por acidente vascular cerebral.
Os fatores específicos da diabetes que contribuem para o aumento do risco cardíaco são:
– idade do paciente: “Idade maior do que 49 anos para homens e 56 anos para mulheres”, aponta.
– duração do diabetes mellitus;
– história familiar de doença coronariana prematura: “Eventos cardiovasculares em parentes de primeiro grau antes dos 55 anos de idade em homens e 65 anos de idade em mulheres”, descreve.
– Diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica;
– tabagismo;
– lesões de órgão-alvo relacionadas à diabetes: “A exemplo de retinopatia diabética, neuropatia autonômica cardiovascular, nefropatia diabética”, explica.
– síndrome metabólica, uma associação de obesidade abdominal (na cintura) associada com aumento da pressão arterial, das gorduras do sangue e da glicose.
“Estudos demonstram que os diabéticos apresentam chance muito maior de desenvolver doença cardiovascular do que pacientes não diabéticos. Além disso, os diabéticos que desenvolvem doença cardiovascular apresentam prognóstico pior que não diabéticos. Estima-se que 20% dos diabéticos apresentam algum grau de doença arterial coronariana assintomática”, aponta, Dr. Pereira.
O endocrinologista destaca que os sintomas cardíacos a que o paciente diabético deve estar atento são:
Os sintomas de doenças cardíacas podem ser menos evidentes em pessoas com diabetes porque a neuropatia diabética pode mascarar os sinais de alerta. “Nem sempre o paciente diabético irá apresentar sintomas cardíacos, assim o médico deve considerar os fatores de risco específicos do diabetes que contribuem para o aumento do risco cardíaco e estratificar de forma individualizada o risco de evento cardiovascular”, orienta o médico.
A estratificação de risco no paciente diabético é eficaz para orientar as medidas terapêuticas. Isso se deve ao fato de que intervenções terapêuticas baseadas na avaliação do risco cardiovascular estão associadas à redução de eventos cardiovasculares, como infarto, AVC e morte.
O gerenciamento eficaz da diabetes é crucial não apenas para controlar os níveis de glicose no sangue, mas também para prevenir eventos cardiovasculares graves, como ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais.
“As recomendações em termos de prevenção de complicações cardíacas são as mesmas para prevenção das demais complicações crônicas do diabetes mellitus, que são: manter o bom controle da glicemia, dos níveis pressóricos e do colesterol. Atualmente, bom controle glicêmico, níveis pressóricos dentro da normalidade”, destaca o médico.
O controle da glicemia deve ser adaptado de acordo com a condição clínica de cada paciente. Os principais parâmetros de avaliação incluem a hemoglobina glicada e as medições de glicemia capilar ou plasmática realizadas em diferentes momentos do dia.
“Mais recentemente, com o advento da monitorização contínua de glicose, foram incorporados novos parâmetros, como o tempo no alvo, o tempo em hipoglicemia, o coeficiente de variação e a glicemia média estimada”, destaca.
O médico ressalta que o controle do colesterol deve ser feito de acordo com o risco cardiovascular de cada pessoa e seus níveis de colesterol no sangue. O objetivo é usar medicamentos para reduzir o colesterol a níveis saudáveis e diminuir o risco de problemas cardíacos. “Uma vez que há indicação desse medicamento, seu uso deve ser mantido por tempo indeterminado, sempre com o objetivo de atingir as metas lipídicas e reduzir o risco cardiovascular, conforme a categoria de risco”, explica.
O médico aponta que, segundo a Diretriz Brasileira de Diabetes, a recomendação para pacientes com diabetes é manter a pressão abaixo de 140×90 mmHg. No entanto, isso pode variar dependendo das outras condições de saúde do paciente e dos riscos associados ao tratamento. Pacientes com alto risco para doença cardíaca devem manter a pressão menor, abaixo de 130×80 mmHg.
“É importante salientar que o bom controle metabólico, incluindo glicemia, pressão arterial e lípides, dentro dos valores referenciais para pacientes com diabetes depende da adesão do paciente às mudanças de estilo de vida e ao tratamento medicamentoso com seguimento multidisciplinar regular com endocrinologista, cardiologista, nutricionista e educador físico”, ressalta.
A dieta recomendada para pessoas com diabetes mellitus deve ser variada e equilibrada, visando satisfazer as necessidades nutricionais, alcançar metas glicêmicas, manter um peso saudável e ajudar no controle da pressão arterial e do colesterol.
O exercício físico, quando realizado de forma adequada e supervisionada, oferece benefícios significativos e é uma ferramenta essencial para o controle metabólico. “Avaliar o risco cardiovascular do indivíduo com diabetes tipo 2 que vai iniciar exercício é fundamental para a segurança e prevenção de eventos adversos”, orienta Dr. Pereira.
O médico recomenda uma orientação descrita na Diretriz Brasileira de Diabetes (2021) que apresenta a estratégia ideal de exercício físico para pessoas com diabetes: que deve envolver a combinação de exercício aeróbico com exercício resistido, sem permanecer mais do que dois dias consecutivos sem atividade.
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“Após o exercício prolongado, a captação da glicose permanece aumentada por até duas horas, por mecanismos independentes da insulina, e por até 48 horas, por meio de mecanismos dependentes da insulina, o que contribui para o controle glicêmico adequado”, explica.
A diabetes é um importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, por esse motivo, é altamente recomendável que pessoas com diabetes também sejam acompanhadas por um cardiologista, além do endocrinologista.
Um cardiologista pode ajudar a monitorar e tratar problemas cardiovasculares, além de fornecer orientações sobre prevenção e estilo de vida saudável. Essa abordagem multidisciplinar é essencial para garantir uma gestão abrangente e eficaz da saúde cardiovascular em pessoas com diabetes.
“O diabetes mellitus é uma doença que possui várias interfaces, portanto um time multidisciplinar deve estar engajado no seguimento de pacientes com diabetes. Desta forma, é bem estabelecido na prática clínica que o diabético se beneficia de uma avaliação multidisciplinar e global da sua doença”, destaca Dr. Francisco Pereira.
Consultar-se regularmente com um profissional de saúde para monitoramento e ajustes no tratamento da diabetes é fundamental para a prevenção de complicações cardiovasculares. Agende sua consulta com um especialista da Rede D’Or.
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