A demência vascular é o segundo tipo mais comum de demência, seus sintomas podem comprometer as atividades de vida diária e instrumentais. Saiba quais os tratamentos.
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A demência vascular é uma das formas mais comuns de demência, caracterizada pela perda progressiva das funções cognitivas devido a falhas no fornecimento de sangue para o cérebro, que pode ser resultado de diversos problemas de circulação sanguínea.
De acordo com uma pesquisa publicada na Revista Fapesp, no Brasil, aproximadamente 2 milhões de pessoas têm algum tipo de demência. A demência vascular é o segundo tipo mais comum da enfermidade em muitos países.
Um outro estudo, apresentado na Conferência Internacional da Associação Americana de AVC de 2024, revelou que um AVC (acidente vascular cerebral) pode aumentar o risco de demência em até 80%.
Compreender as causas, sintomas e tratamentos da demência vascular é essencial para o diagnóstico precoce e a gestão eficaz dessa condição. Continue lendo e entenda.
A demência vascular é causada por problemas no suprimento de sangue ao cérebro, geralmente devido a uma série de pequenos derrames ou um grande derrame (AVC).
Esses eventos interrompem o fluxo sanguíneo para áreas do cérebro, resultando em danos que afetam a memória, o raciocínio, a linguagem e outras habilidades cognitivas. Ao contrário de outras formas de demência, como a doença de Alzheimer, a demência vascular é diretamente ligada a eventos vasculares que prejudicam a circulação sanguínea cerebral.
A demência vascular também pode ser nomeada como comprometimento cognitivo vascular (CCV). Segundo o neurologista Dr. Fernando Cardoso, supervisor médico da Unidade Neurointensiva do Hospital Copa D’Or, essa condição engloba toda gama de alterações cognitivas associadas direta ou indiretamente à doença cerebrovascular (AVC isquêmico ou AVC hemorrágico).
“A demência vascular resulta em grave comprometimento das atividades básicas e instrumentais de vida, como por exemplo, higiene, alimentação, deambulação, gerando um grau de dependência relevante”, destaca.
O médico ainda ressalta que a depender das manifestações neurológicas e neuropsiquiátricas associadas, pode haver risco para quedas e insultos infecciosos, como infecções respiratórias em paciente com disfagia e potencial broncoaspiração e infecções urinárias em pacientes com alterações autonômicas e esfincterianas.
A demência vascular ocorre devido a uma interrupção no fornecimento de sangue ao cérebro, que pode ser resultado de diversos problemas de circulação sanguínea e causa danos às células cerebrais.
Dr. Fernando Cardoso destaca que a demência vascular pode ser decorrente de lesões cerebrais vasculares, tanto isquêmicas quanto hemorrágicas.
“Essas lesões causam danos neuropatológicos que podem resultar em CCV, como comprometimento de áreas estratégicas para as funções cognitivas, alterações da cascata de coagulação, dos oligodendrócitos e modificações das células endoteliais gerando comprometimento da perfusão sanguínea cerebral”, explica Dr. Cardoso, que também é coordenador do serviço de Neurovascular do Hospital Copa D’Or e do serviço de Neurologia do Hospital Glória D’Or, ambos no Rio de Janeiro.
Elementos importantes para o desenvolvimento da demência vascular incluem a localização, o número e a extensão das lesões cerebrais. “Não é necessário um grande número de lesões para o desenvolvimento de alterações cognitivas. A localização das lesões é um importante fator de demência. Lesões situadas em regiões límbicas-paralímpicas, em áreas associativas e estruturas subcorticais estão associadas com maior prevalência de alterações cognitivas”, complementa.
A demência vascular pode ser prevenida através do gerenciamento adequado dos fatores de risco para essa condição, que são:
– idade avançada;
– sexo masculino;
– hHipertensão arterial sistêmica (“Pressão alta”);
– dislipidemia (“Colesterol alto”);
– AVC prévio (“Derrame”);
– obesidade;
– homocisteína elevada;
– alcoolismo;
– tabagismo;
– sedentarismo;
– baixa escolaridade;
– depressão;
– aspectos genéticos, entre outras.
Os sintomas da demência vascular podem variar dependendo da parte do cérebro afetada e da gravidade dos danos. “Sintomas neuropsiquiátricos podem variar desde quadro hiperativos com agitação psicomotoras e desorientação, até estágios de hipersonolência com apatia e prostração”, explica Dr. Cardoso.
De acordo com ele, o CCV pode ser dividido em:
“A fase pré-clínica corresponde ao paciente assintomático, mas que apresenta alterações nos exames de imagem como uma grande carga de lesões de substância branca e fatores de risco clínico para doenças cerebrovasculares. Esses pacientes apresentam elevado risco para demência”, ressalta.
O neurologista explica que o CCV não demência consiste no grupo de pessoas com alterações cognitivas leves, mas que não preenchem critérios para demência (comprometimento das atividades de vida diária e instrumentais). “Qualquer função cognitiva pode ser afetada tanto corticais quanto subcorticais. Assim, pode haver alterações amnésicas, executivas, percepção visuoespacial, linguagem, orientação temporal e espacial, além de outras. Neste caso, as atividades básicas e instrumentais de vida estão preservadas”, aponta o médico, sobre os sintomas de CCV não demência.
No CCV tipo demência, o médico ressalta que o paciente apresenta grave déficit cognitivo afetando as atividades básicas de vida, como: comprometimento cognitivo, sintomas neuropsiquiátricos, manifestações neurológicas variadas e disfunção autonômica. “A localização das lesões influencia na apresentação clínica”, reforça.
Dr. Cardoso explica que o diagnóstico de CCV é baseado em uma cuidadosa anamnese, exame físico, avaliação neuropsicológica, funcional e psiquiátrica minuciosas, além de exames complementares.
O tratamento da demência vascular abrange desde a identificação e controle dos fatores de risco até o uso de terapia farmacológica direcionada ao transtorno cognitivo e manejo das comorbidades.
“É recomendado para todo paciente com CCV o controle da pressão arterial, da glicemia, o uso de terapia antitrombótica (questionável se não houver AVC isquêmico prévio), e de estatinas, prática de atividade física e uma dieta adequada/equilibrada”, orienta o especialista.
O médico neurologista explica que o tratamento inclui o uso de remédios que ajudam a melhorar os sintomas em pacientes com demência mista.
“No CCV puro as evidências cientificas mostram pouca eficácia dos inibidores da colinesterase. A memantina não foi aprovada para seu uso na demência vascular, pois seus benefícios são limitados. Estímulo neuropsicológico deve ser associado a terapia farmacológica com objetivo de controlar as alterações cognitivas e neuropsiquiátricas”, destaca.
Dr. Cardoso aponta que a prevenção da demência vascular consiste no controle dos fatores de risco já descritos, associados à prática de atividade física regular, mudanças de hábitos de vida, controle nutricional, além de, quando indicado, administração de terapia antitrombótica adequada e uso de estatinas.
Se você ou um ente querido está apresentando sinais de demência vascular, agende uma consulta com um de nossos especialistas para realizar um diagnóstico assertivo e iniciar um plano de tratamento eficaz, se necessário.
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