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O crescimento de uma operação na área de saúde é fundamental para diluir os custos e tornar os produtos e serviços de maior qualidade e também mais acessíveis. Isso porque a economia de escala está diretamente relacionada com a possibilidade de aumentar a capacidade de investimento em todas as frentes de atuação. Todavia, nas discussões sobre os desafios da saúde, não é comum que se mencione essa questão com a relevância que ela deve ter.
Fala-se muito sobre o fortalecimento da atenção primária, modelos assistenciais, modelos de pagamento, qualidade assistencial, desperdício, custos, eficiência, mas muito pouco sobre a economia de escala.
Todos os aspectos acima que têm sido discutidos são, sem dúvida, fundamentais. Entretanto, para que sejam adequadamente aprimorados, é preciso que estejam presentes as condições estruturais mínimas –e, dentre essas, a economia de escala tem grande relevância.
Só para ilustrar o desafio que temos no país, os números do CNES (Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde) mostram que grande parte dos hospitais tem menos de 60 leitos. Temos mais de 4.400 estabelecimentos em um setor extremamente fragmentado, em que o líder tem 8% do mercado.
Essa infraestrutura básica da rede hospitalar brasileira se assemelha à norte-americana de cem anos atrás, como podemos conferir no livro “Social Transformation of American Medicine”, do sociólogo Paul Starr. Sem economia de escala não há eficiência, não se reduz custos e a qualidade assistencial fica comprometida.
É difícil precisar qual o tamanho necessário para atingirmos o ponto certo da tal escala, mas em nossa empresa os hospitais têm em média 150 leitos e com as expansões e obras em desenvolvimento alcançaremos mais de 240 leitos em média nos próximos anos.
Para melhorarmos a escala e a nossa eficiência, tiramos de dentro dos hospitais tudo o que não fosse relacionado ao cuidado do paciente e transferimos essas atividades para um centro de serviços compartilhados, o que levou nossos custos administrativos a patamares inferiores a 5% das receitas.
O ideal é que os hospitais possam cuidar das pessoas, com os dirigentes dentro das unidades dedicados exclusivamente à assistência. A redução dos custos administrativos e financeiros permite liberar mais recursos para serem investidos nos melhores equipamentos, no treinamento das equipes, nas condições de trabalho dos profissionais de saúde e na própria qualidade técnica da assistência, por consequência. Sem escala, é muito difícil diluir custos e gastos administrativos. Em muitos lugares, essas despesas chegam a responder por 15% das receitas dos hospitais, limitando o investimento em qualidade assistencial, em processos de acreditação, em protocolos de segurança e em protocolos clínicos padronizados.
Escala assistencial traz repetição e repetição traz eficiência, experiência e qualidade. Economia de escala é, portanto, um tema fundamental e deve ter grande peso nas agendas nacionais. Na próxima discussão sobre saúde a que você assistir, avalie como será tratada a questão da escala. Se o assunto não for abordado, estará prejudicada a discussão sobre eficiência e qualidade.
Fonte: Folha de São Paulo