Cor pulmonale é uma complicação cardíaca séria causada por doenças pulmonares que aumentam a pressão nas artérias pulmonares
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O Cor pulmonale é uma condição cardíaca que ocorre devido a problemas nos pulmões ou na circulação pulmonar. Esse termo se refere ao aumento e à falência do ventrículo direito do coração em resposta a uma pressão anormalmente alta nas artérias dos pulmões, muitas vezes causada por doenças pulmonares crônicas.
A palavra “Cor pulmonale” vem do latim e significa “coração pulmonar”, destacando a conexão direta entre os pulmões e o coração. O Cor pulmonale é uma complicação cardíaca séria causada por doenças pulmonares que aumentam a pressão nas artérias pulmonares.
Embora seja uma condição grave, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Conheça o que é o Cor pulmonale e saiba a importância da prevenção e o controle de doenças pulmonares para reduzir o risco de desenvolvimento dessa condição.
Dr. Danilo Fernandes, integrante da equipe de Cardiologia do Hospital DF Star, define o Cor pulmonale como uma condição em que o ventrículo direito do coração, responsável por bombear sangue para os pulmões, falha ou perde sua capacidade de funcionar adequadamente, geralmente devido à hipertensão pulmonar.
O cardiologista explica que nessa condição ocorre um aumento da pressão nas artérias pulmonares, o que faz com que o lado direito do coração precise trabalhar mais para bombear o sangue pelos pulmões. Isso leva ao enfraquecimento do ventrículo direito, que é uma câmara menos musculosa e menos adaptada à pressão, resultando em sua falha.
Em corações normais, o sangue venoso retorna dos órgãos pelas veias até o átrio direito e deste segue para o ventrículo direito. Depois, segue para os pulmões, onde capta oxigênio, retorna para o átrio esquerdo, ventrículo esquerdo e deste é bombeado para todas as células, seguindo através da artéria aorta.
“O lado direito basicamente vai receber o sangue que já foi extraído o oxigênio dele, ou seja, é aquele sangue do organismo que já foi utilizado, volta para o coração pelo lado direito. Desse lado direito, ele vai até os pulmões para ser oxigenado, então, essa falha do bombeamento do lado direito prejudica todo o funcionamento do coração e toda a oxigenação”, descreve Dr. Danilo Fernandes.
A falta de oxigênio pode afetar os órgãos vitais, levando à disfunção de múltiplos órgãos. Essa baixa oxigenação resulta da sobrecarga no ventrículo direito do coração, que não consegue bombear sangue de forma eficaz para os pulmões. Como resultado, o sangue não é adequadamente oxigenado, comprometendo sua capacidade de perfundir os órgãos. Isso pode agravar o quadro clínico, fazendo com que o paciente desenvolva insuficiência renal, hepática e outras complicações.
A principal causa dessa falha é a hipertensão pulmonar, que gera pressões elevadas sobre o ventrículo direito, que não consegue suportar, levando à sua dilatação e perda de função.
O Cor pulmonale é causado por doenças que geralmente aumentam a pressão arterial nos pulmões. Isso força o ventrículo direito do coração a trabalhar mais para bombear sangue para os pulmões. Com o tempo, a sobrecarga pode levar ao aumento do ventrículo direito e, eventualmente, à sua falência.
Dr. Fernandes destaca que a hipertensão pulmonar é uma das principais causas, e doenças pulmonares crônicas, sejam elas estruturais ou não, podem levar ao aumento da pressão no lado direito do coração. Um exemplo é o tromboembolismo pulmonar, conhecido como embolia, que pode ser agudo ou crônico. Quando ocorre uma trombose no pulmão de forma repetida, isso pode elevar a pressão na artéria pulmonar, resultando em sobrecarga nas câmaras direitas do coração.
As principais condições que podem levar ao Cor pulmonale incluem:
Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou Enfisema pulmonar: A DPOC danifica as vias aéreas e dificulta o fluxo de ar nos pulmões, aumentando a pressão nas artérias pulmonares, que associada à obstrução das vias aéreas, resultam em dificuldade respiratória e diminuição da oxigenação do sangue.
Enfisema pulmonar: O enfisema pulmonar leva à obstrução das vias aéreas, resultando em dificuldade respiratória e diminuição da oxigenação do sangue.
Casos graves de asma: Durante crises asmáticas severas ocorre constrição das vias aéreas, o que dificulta a respiração e reduz a oxigenação do sangue, o que pode levar ao aumento da pressão nas artérias pulmonares.
Fibrose pulmonar: A fibrose pulmonar provoca cicatrizes nos pulmões, dificultando a respiração e elevando a pressão pulmonar.
Apneia do sono: Problemas respiratórios durante o sono podem aumentar a pressão nos pulmões e, com o tempo, afetar o coração.
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Hipertensão pulmonar idiopática: “Nessa situação o paciente apresenta elevação da pressão da artéria pulmonar e o médico não consegue identificar a causa exata”, afirma Dr. Danilo Fernandes.
Tromboembolismo pulmonar: A trombose pulmonar gera coágulos de sangue que bloqueiam as artérias pulmonares e podem causar um aumento súbito ou crônico da pressão e levar ao Cor pulmonale.
O especialista explica que, em estágios mais avançados da DPOC, a doença progride a ponto de ser necessário o uso contínuo de oxigênio. Devido à queda na oxigenação, a pressão nas artérias pulmonares pode aumentar, sobrecarregando o lado direito do coração e levando ao desenvolvimento do Cor pulmonale.
“Há doenças autoimunes que também podem cursar com o Cor pulmonale, como esclerose sistêmica, vasculites, entre outras doenças conhecidas como colagenoses que podem afetar também a circulação pulmonar e sobrecarregá-la”, esclarece.
Os sintomas do Cor pulmonale podem variar dependendo da gravidade da condição e da fase da doença. No estágio inicial, os sintomas podem ser leves ou até inexistentes. No entanto, à medida que a doença progride, de acordo com o Dr. Fernandes, os sinais mais comuns incluem:
Dr. Danilo Fernandes aponta que a sobrecarga das câmaras direitas do coração pode comprometer a circulação sistêmica, fazendo com que o abdômen desses pacientes fique inchado, tornando necessário o uso de diuréticos e outros medicamentos para controlar esse efeito. “Alguns deles precisam até controlar a quantidade de líquidos, muitas vezes não pode haver um grande exagero”, diz.
A qualidade de vida de pacientes com Cor pulmonale é significativamente afetada, pois muitos desses pacientes dependem do uso contínuo de oxigênio e de tratamentos que, em alguns casos, envolvem medicamentos de alto custo.
Esses sintomas afetam de forma significativa a qualidade de vida desses pacientes até para realizar atividades diárias, como tomar banho, caminhar, subir escadas ou carregar peso. “Dependendo do tipo de doença de base, a condição pode piorar ao longo do tempo, levando a um prognóstico mais delicado”, alerta.
Além disso, os pacientes costumam ter outras doenças crônicas e comorbidades complexas, o que exige um cuidado médico mais atento e delicado. Esses pacientes também apresentam um risco elevado de internações frequentes, principalmente devido a infecções como pneumonia, já que seus pulmões estão mais vulneráveis.
“O Cor pulmonale é uma condição que pode causar uma redução significativa da qualidade de vida dos pacientes. Esses pacientes acabam internando frequentemente por complicações, têm muitas infecções, então são pacientes que precisam de um acompanhamento médico muito próximo, com muita frequência”, destaca.
O diagnóstico de Cor pulmonale geralmente começa com uma avaliação clínica detalhada dos sintomas e histórico médico do paciente. Exames complementares são usados para confirmar a condição e avaliar a gravidade do comprometimento cardíaco e pulmonar.
Dr. Danilo Fernandes explica que exames clínicos, como eletrocardiograma, ecocardiograma, radiografia de tórax (raio-X) e testes de função pulmonar, são ferramentas importantes para a avaliação do paciente.
“O ecocardiograma é um exame muito utilizado. É o famoso ultrassom do coração, porque ele consegue avaliar exatamente como está a função desse ventrículo direito, das câmaras direitas, se existe realmente aumento de pressão pulmonar. Ele é um exame muito importante e às vezes já confirma o diagnóstico”, ressalta.
O médico destaca que em alguns casos, para dar continuidade à investigação e avaliar se o paciente responderá ao tratamento com medicamentos vasodilatadores, pode-se recorrer ao cateterismo cardíaco das câmaras direitas, especificamente das câmaras direitas. Esse procedimento permite medir com precisão a pressão nas artérias pulmonares e avaliar a função cardíaca em tempo real, sendo especialmente útil para realizar as chamadas medições hemodinâmicas.
“Avaliar a responsividade e a resistência dessa artéria também para guiar o tratamento depois. São exames tanto para diagnóstico quanto para avaliar se o paciente é candidato a um tratamento ou outro”, explica.
O tratamento do Cor pulmonale depende da causa subjacente e da gravidade da condição. O principal objetivo é tratar a doença pulmonar que está causando o problema e melhorar a função do coração.
O Cor pulmonale não tem cura. Dr. Danilo Fernandes esclarece que, embora não seja uma condição que possa ser completamente resolvida, é possível controlar a doença por meio de tratamento adequado.
“O foco geralmente está na causa, na etiologia de base. Iremos tratar a condição de base, ou seja, uma doença específica. Por exemplo, o enfisema, tratamos isso, mas tratamos a síndrome como um todo, tratamos a causa, mas tratamos a consequência também”, destaca Dr. Fernandes.
Segundo o médico, o paciente pode tratar e controlar o problema, sendo possível até reverter parcialmente as condições subjacentes das doenças pulmonares. O tratamento ajuda a controlar os sintomas, melhorar significativamente a qualidade de vida e, quando necessário, reduzir a frequência das internações. Além disso, pode contribuir para retardar a progressão da doença.
De acordo com o cardiologista clínico, o tratamento do Cor pulmonale pode incluir o uso de medicações, de oxigênio, de broncodilatadores e de vasodilatadores, para aliviar a sobrecarga de pressão sobre as câmaras direitas. “Existem medicações que são vasos dilatadoras específicas para essas artérias”, aponta.
Diuréticos também são frequentemente utilizados para controlar e reduzir o edema que os pacientes apresentam, tornando necessário o seu uso regular para ajudar a tratar esses sintomas.
Em alguns casos, como na embolia e tromboembolismo agudo ou crônico, o uso de anticoagulantes é essencial. Para pacientes que não respondem ao tratamento convencional, pode-se considerar a indicação de transplante pulmonar ou transplante cardíaco. Às vezes, esses transplantes são realizados em conjunto.
A reabilitação pulmonar e cardíaca também desempenha um papel fundamental, ajudando a melhorar a qualidade de vida dos pacientes e orientando-os a prevenir e tratar fatores de risco modificáveis como dispilemia e tabagismo. “Por exemplo, incentivamos os pacientes que fumam a abandonar o tabagismo e oferecemos suporte para aqueles com alta dependência dessa substância, o que é fundamental para o tratamento”, exemplifica.
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Prevenir o Cor pulmonale envolve o tratamento das doenças de base e controle dos fatores de risco, (ex: tabagismo), praticar exercícios físicos e realizar a reabilitação tanto do coração quanto dos pulmões. Manter um peso saudável e controlar comorbidades, como hipertensão arterial e diabetes, é fundamental para garantir o sucesso do tratamento.
É fundamental seguir as orientações médicas e realizar acompanhamento periódico, tanto para tratar as condições subjacentes quanto o Cor pulmonale. Controlar a pressão arterial e garantir uma oxigenação adequada, nos casos selecionados seja com suporte ou não, também são medidas essenciais para a saúde do paciente.
“A detecção precoce da hipertensão pulmonar pode ajudar também a prevenir o Cor pulmonale, então se identificada a hipertensão pulmonar e tratada precocemente de forma efetiva, é possível evitar que a doença se desenvolva e evolua para o Cor pulmonale”, alerta.
Quando não tratada, as consequências da Cor pulmonale são preocupantes. O prognóstico para esses casos é bastante desfavorável, levando a complicações como internações frequentes e descompensação cardíaca, resultando em insuficiência cardíaca direita. Isso se manifesta pelo edema nas pernas e no abdômen (aumento do fígado e, em alguns casos, do baço), o que pode dificultar a digestão e a alimentação.
“Esses pacientes ficam com o apetite reduzido pela insuficiência cardíaca. Existe uma fase, inclusive, que isso pode se tornar irreversível, então é muito importante o tratamento para tentar frear esse processo, ou pelo menos retardar a progressão da doença”, explica.
O aumento da pressão na artéria pulmonar pode agravar ainda mais a função do ventrículo direito do coração. Além dos sintomas de inchaço e retenção de líquidos, podem surgir arritmias, que podem ser potencialmente graves e até resultar em morte súbita.
“Algumas arritmias às vezes vão atrapalhar o funcionamento do coração, mas não necessariamente vão levar à morte súbita, entretanto isso tudo aumenta o risco e a mortalidade com o passar do tempo”, alerta.
Dr. Fernandes aponta que pacientes que possuem Cor pulmonale causados por enfisema (DPOC), podem apresentar uma sobrevida em torno de cinco anos. “Em geral, 30% desses pacientes com enfisema e Cor pulmonale sobrevivem em 5 anos.”
“50% dos pacientes com insuficiência cardíaca podem evoluir para o óbito em 5 anos. É uma doença mais grave do que o câncer, então são necessários o tratamento e a identificação precoces”, atesta.
O prognóstico do Cor pulmonale depende da causa e da rapidez com que o tratamento é iniciado. Se a condição pulmonar que leva ao Cor pulmonale for controlada, o paciente pode viver com uma boa qualidade de vida por muitos anos. Se você tem algum dos sintomas indicados neste texto, agende sua consulta com um de nossos cardiologistas.
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