A arritmia cardíaca é caracterizada por batimentos cardíacos irregulares que podem levar à morte súbita. Aprenda a identificar a arritmia em você
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A arritmia cardíaca é uma condição em que o ritmo normal do coração é interrompido, resultando em batimentos cardíacos irregulares. Afeta milhões de pessoas em todo o mundo, independentemente de idade, e muitas delas nem mesmo sabem que a têm. Se não tratada, pode causar doenças cardíacas e a morte súbita.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC), ao longo da vida, aproximadamente 1 em cada 4 pessoas terá arritmia cardíaca. Das mortes súbitas decorrentes de condições cardiovasculares no Brasil, aproximadamente 80% a 90% delas são causadas por algum tipo de arritmia, totalizando cerca de 300 mil óbitos anuais no país.
É vital reconhecer os sinais e sintomas da arritmia para buscar tratamento adequado e proteger sua saúde cardíaca.
Continue lendo e entenda como você pode saber se tem arritmia, quais os sinais e o que fazer quando notar uma alteração no seu ritmo cardíaco.
A arritmia cardíaca refere-se a qualquer anormalidade nos batimentos cardíacos, que podem ser rápidos, lentos ou irregulares. Essas irregularidades podem ser inofensivas ou potencialmente perigosas.
Em um coração saudável, os batimentos cardíacos ocorrem em um padrão regular, mas em pessoas com arritmias, isso pode ser desordenado.
“Costumo dizer que as arritmias cardíacas são como cores, temos as cores claras e escuras e as tonalidades. Nas arritmias temos aquelas que são rápidas, chamadas taquicardias,e aquelas que são lentas, chamadas bradicardias. E dentro desses dois grandes grupos temos outros vários tipos, como as tonalidades, variando de acordo com sua forma de apresentação, mecanismo, local de origem no coração, hereditariedade, entre outros”, exemplifica a eletrofisiologista, especialista em estimulação cardíaca Dra. Érika Olivier Vilela Bragança, que atua na área das arritmias no Hospital Vivalle da Rede D’Or em São José dos Campos (SP).
A frequência cardíaca varia normalmente de acordo com a sua atividade. O ritmo cardíaco regular situa-se entre 60 batimentos por minuto (bpm) e 100 bpm.
De acordo com a Dra. Érika, as arritmias cardíacas podem se manifestar sem apresentar nenhum sintoma ou resultar em grande limitação física, por esse motivo, quando se trata de reconhecer uma arritmia cardíaca, é fundamental prestar atenção aos sintomas como:
“É a sensação de o coração bater diferente, seja mais rápido, mais lento ou descompassado”, aponta.
“Principalmente um cansaço/falta de ar desproporcional à atividade que a pessoa está fazendo ou um cansaço/falta de ar novo, que antes não existia”, explica.
– Dor no peito: (H3)
“Essa dor pode se manifestar de várias formas, seja em pontada, queimação ou aperto”, exemplifica.
“Esses são sinais de alerta que podem estar associados a condições de maior gravidade. É importante estar atento a modificações no nosso corpo que podem estar relacionados a problemas cardíacos”, alerta a especialista.
De acordo com a Dra. Érika, o diagnóstico das arritmias cardíacas pode ser inicialmente suspeitado pela própria pessoa ao tomar uma medida do seu pulso, mesmo que não tenha nenhum sintoma. Veja o passo a passo:
1 – Coloque a polpa dos dedos indicador e médio no pulso contralateral, logo abaixo do polegar da outra mão;
2 – Sinta o pulso na região;
3 – Conte os batimentos com o auxílio de um relógio durante 1 minuto.
Após realizar esse passo a passo, podem ser observados batimentos irregulares ou frequências anormais:
– Acima de 100 batimentos em um minuto é a taquicardia;
– Abaixo de 50 batimentos em um minuto é a bradicardia.
“Uma ferramenta bastante útil nos dias atuais são os smartwatchs que também podem contar esse número de batimentos e até mesmo fazer um eletrocardiograma simples e devem ter seus diagnósticos validados por um médico”, orienta.
Uma observação importante é que às vezes nossos batimentos podem estar altos ou baixos e isso não ser uma doença. No exercício e no estresse, por exemplo, os batimentos comumente sobem, enquanto que dormindo, podem chegar em 40 bpm.
Durante uma consulta cardiológica de rotina ou mesmo em um serviço hospitalar de urgência ou não, o especialista pode realizar exame para diagnóstico de uma arritmia através da realização do eletrocardiograma. “Essa ferramenta é uma das mais importantes para o diagnóstico das arritmias”, destaca.
A médica explica que outros exames derivados do eletrocardiograma também podem ser utilizados em uma investigação de sintomas na qual existe a suspeita de uma arritmia. São eles:
“No holter podemos gravar os batimentos cardíacos por 24h, 48h ou até mesmo 7 dias. É muito importante na avaliação das arritmias por esse método que se faça a correlação entre os sintomas e alterações eletrocardiográficas encontradas”, orienta.
“O teste ergométrico será muito útil para avaliação de pacientes com sintomas aos esforços. Além desses métodos, para o diagnóstico das arritmias”, atesta.
“Podemos usar também esse método invasivo, no qual há a colocação de cateteres dentro do coração em posições estratégicas e se faz a avaliação do ritmo cardíaco por meio de impulsos elétricos externos. O estudo eletrofisiológico, na maioria das vezes, é utilizado para confirmar uma arritmia previamente registrada em um eletrocardiograma e auxiliar no tratamento das arritmias por meio da ablação”, aponta.
“Também podemos utilizar esse pequeno dispositivo com circuito elétrico e bateria, implantado no subcutâneo na região do tórax e que pode registrar eventos de arritmias de forma automática ou acionados pela própria pessoa”, explica.
De acordo com a médica, é de suma importância compreender a anatomia do coração da pessoa com arritmia, pois isso pode influenciar o tratamento e o prognóstico. “Portanto nestes casos podemos precisar de alguns exames como o ecocardiograma, a angiotomografia das artérias coronárias/cateterismo cardíaco, cintilografia miocárdica ou até mesmo uma ressonância magnética de coração”, complementa.
A prevenção da arritmia cardíaca envolve uma série de medidas que visam reduzir o risco de desenvolver essa condição ou de agravar arritmias existentes.
De acordo com a Dra. Érika, as arritmias podem ser congênitas e não estarem relacionadas a nenhum fator de risco específico. Nesses casos, quando a pessoa já nasce com arritmia cardíaca, é importante acompanhar os sinais e sintomas apresentados por essas arritmias e se submeter a acompanhamento médico regular.
A médica destaca ainda que existe um grupo de arritmias que são hereditárias e estas, sim, o fator de risco seria a presença da arritmia em outros membros da família. Nestes, deve-se avaliar inclusive o risco de morte súbita.
Há ainda as arritmias adquiridas ao longo da vida. “Existem arritmias que são mais propensas de existir dependendo do estilo de vida de cada pessoa, podendo a arritmia fazer parte de um contexto cardiovascular”, explica a médica.
Vários fatores de risco podem aumentar a probabilidade de uma pessoa desenvolver arritmias cardíacas. É importante reconhecê-los para tomar medidas preventivas e buscar cuidados médicos adequados.
– Abandonar o tabagismo;
– Restringir o consumo de bebidas alcoólicas;
– Deixar de ser sedentário;
– Controlar o peso corporal.
– Ter um adequado controle dos fatores de risco tradicionais das doenças cardiovasculares como a hipertensão arterial (pressão alta), o diabetes melitus (“açúcar alto no sangue”) e as doenças do colesterol.
“A idade maior que 60 anos e histórico de doença cardiovascular na família são também fatores de risco para as arritmias. Nesses cenários é muito importante a prevenção como um todo das doenças cardiovasculares, devendo procurar assumir um estilo de vida mais saudável”, diz.
– Infarto do miocárdio (IAM) prévio;
– Insuficiência cardíaca (“coração fraco”);
– Doenças na estrutura do coração (como as valvas cardíacas, por exemplo);
– Cirurgia cardíaca prévia;
– Infecções.
A especialista destaca para a adoção de uma dieta com alimentos frescos em abundância, ingesta substancial de frutas, verduras e legumes, evitando alimentos processados e ultraprocessados que são nocivos à saúde.
“Buscar nos alimentar mais de alimentos vindos da feira e menos dos alimentos que vêm do mercado, onde encontramos muitos produtos empacotados e enlatados, que facilitam a nossa vida, mas que cobrarão um preço muito caro no futuro de quem os consome”, alerta Dra. Érika.
A médica destaca que os exercícios são cruciais para a saúde cardiovascular. “Não deveria ser um algo a mais nas nossas vidas, e, sim, fazer parte dela como algo natural e prazeroso. Com o exercício, principalmente aqueles realizados ao ar livre, mantemos nosso corpo saudável com uma boa produção de vitamina D, liberação de substâncias calmantes e manutenção de um peso adequado”.
É durante o sono que o organismo recupera o desgaste físico e mental, e ainda cumpre tarefas essenciais para o seu bom funcionamento. A médica destaca que as alterações no sono também podem estar relacionadas com algumas arritmias como bradicardias e fibrilação atrial.
“A Associação Brasileira do Sono recomenda para um sono de boa qualidade em adultos aproximadamente 8 horas por noite sem interrupções ou perturbações. Além da quantidade adequada, a qualidade do sono também é essencial”, afirma.
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De acordo com a Diretriz Brasileira de Prevenção Cardiovascular de 2019, 80% da população mundial possui alguma afiliação religiosa ou crença. A fé, independente da religião, tem sido reconhecida como uma influente força motivadora e positiva na vida das pessoas.
De acordo com o Grupo de Estudos em Espiritualidade e Medicina Cardiovascular (GEMCA), da Sociedade Brasileira de Cardiologia, a espiritualidade é descrita como um conjunto de valores morais, mentais e emocionais que norteiam pensamentos, comportamentos e atitudes nas circunstâncias da vida de relacionamento intra e interpessoal.
“O que se observa entre as pessoas com espiritualidade é um comportamento mais positivo, com mais esperança, perdão e amor, e isso muitas vezes se traduz em melhores níveis de pressão arterial, menor risco de doença cardiovascular, diabetes, doenças do colesterol e outros marcadores de inflamação e imunidade”, destaca.
O tratamento da arritmia cardíaca varia de acordo com o tipo de arritmia, sua gravidade, as causas subjacentes e as características individuais do paciente. Dra. Érika explica que as arritmias assintomáticas, que não causam prejuízo na função do coração ou que não estão associadas à doença estrutural ou não são de origem hereditária e ainda que não causam risco de morte súbita, não necessitam de nenhum tratamento específico, elas são acompanhadas através de um seguimento de longo prazo.
“Algumas arritmias podem ser tratadas de forma curativa por meio de um procedimento chamado ablação por cateter, localizando o foco dessa arritmia no coração, ‘cauterizando-o’ e eliminando-o”, explica.
De acordo com a médica, a ablação por cateter pode ser considerada como uma alternativa mais eficaz de tratamento em comparação com muitos medicamentos para algumas arritmias. Essa abordagem pode resultar em melhorias significativas nos sintomas, na redução do risco de acidente vascular cerebral, na diminuição das internações hospitalares e na melhoria do funcionamento cardíaco.
“Outra forma às vezes necessária de tratamento, seja de forma emergencial ou eletiva, é o choque elétrico aplicado no tórax para reverter uma arritmia, chamado cardioversão elétrica”, aponta.
No tratamento das arritmias, podem ser utilizados dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis, incluindo marca-passos para bradicardias, ressincronizadores coadjuvantes no tratamento da insuficiência cardíaca e desfibriladores para prevenir a morte súbita por arritmia em pacientes de alto risco ou que já sofreram uma morte súbita ressuscitada.
“Em algumas situações iremos fazer uso de vários desses tratamentos, que deverão ser muito bem avaliados por um especialista e individualizados de acordo com a necessidade de cada paciente”.
Existem arritmias que são assintomáticas, não afetam a função cardíaca e não estão relacionadas a doenças estruturais. Por outro lado, algumas arritmias podem causar sintomas variados que podem ser leves ou debilitantes e podem ou não estar interligados.
Algumas arritmias ainda têm o potencial de prejudicar a função cardíaca, podendo resultar em desmaios e suas consequências, levando até mesmo à morte súbita.
Conte com os especialistas da Rede D’Or para realizar seu check-up e cuidar da saúde do seu coração.
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