As consequências da obesidade infantil ao coração na vida adulta
A obesidade infantil pode causar alterações na estrutura do coração elevando o risco de desenvolver doenças cardíacas prematuras.
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A obesidade infantil é caracterizada pelo excesso de gordura corporal. Em crianças e adolescentes, essa condição vai além de uma questão estética. A obesidade infantil pode acarretar vários problemas para a saúde cardiovascular, com consequências que se estendem até a vida adulta.
O Atlas Mundial da Obesidade 2024 aponta que até 50% das crianças e adolescentes brasileiros entre 5 e 19 anos poderão estar com obesidade ou sobrepeso até 2035. Ainda segundo as projeções, em 2035, cerca de 3,3 bilhões de adultos serão afetados pela obesidade, o que representará 54% da população mundial.
Em 2023, o Ministério da Saúde apontou, através do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), que 14,2% das crianças brasileiras com menos de cinco anos têm excesso de peso ou obesidade, a prevalência é quase três vezes maior que a média global de 5,6% registrada em 2022.
O Dia da Conscientização contra a Obesidade Infantil, celebrado em 03 de junho, destaca a importância de prevenir e tratar a obesidade desde a infância para evitar complicações futuras. Este texto aborda como a obesidade infantil afeta o coração ao longo da vida e as medidas que podem ser tomadas para combater essa condição.
Como a obesidade infantil pode afetar o coração na vida adulta
A obesidade infantil está associada a diversos fatores, incluindo dieta inadequada, falta de atividade física, predisposição genética e influências ambientais. Quando não tratada, a obesidade infantil pode levar a uma série de complicações de saúde, especialmente no sistema cardiovascular.
A obesidade pode causar inflamações no corpo e alterações na estrutura do coração, como o aumento de tamanho. Além disso, eleva o risco de desenvolver doenças cardíacas prematuras como doença coronariana, aumentando consequentemente a probabilidade de infarto.
Os efeitos da obesidade infantil podem se manifestar ao longo da vida adulta de várias maneiras. Pessoas que foram obesas na infância, na idade adulta, apresentam maior risco de:
•Hipertensão:
A hipertensão arterial que começa na infância muitas vezes persiste na vida adulta, contribuindo para o desenvolvimento de doenças cardíacas e renais. “O excesso de peso força o coração a trabalhar mais, aumentando a pressão nas artérias, elevando o risco de hipertensão”, explica a endocrinologista pediátrica da Rede D’Or Dra. Paula Gouvêa.
•Colesterol alto:
A obesidade na infância pode levar a níveis elevados de colesterol no sangue, aumentando o risco de doenças cardiovasculares.
•Infarto:
A obesidade infantil está associada a um maior risco de desenvolver doenças cardíacas, incluindo infarto do miocárdio, na idade adulta.
•Derrame (AVC):
A obesidade na infância pode aumentar o risco de derrame cerebral na idade adulta, devido aos efeitos prejudiciais sobre os vasos sanguíneos e a saúde cardiovascular.
•Resistência insulínica e diabetes tipo 2:
A obesidade infantil pode causar resistência à insulina, aumentando o risco de diabetes tipo 2. Ambas as condições são fatores de risco significativos para doenças cardiovasculares, pois podem danificar os vasos sanguíneos e o coração.
•Síndrome metabólica:
A obesidade infantil aumenta o risco de síndrome metabólica na vida adulta, uma condição que inclui hipertensão, dislipidemia, resistência à insulina e obesidade abdominal.
“O excesso de gordura no corpo aumenta a pressão arterial, os níveis de colesterol ruim e resistência insulínica. O acúmulo de placas nas artérias dificulta o fluxo de sangue; quando uma dessas placas se rompe, pode bloquear o fluxo de sangue para o coração, causando infarto, ou para o cérebro, causando derrame”, descreve Dra. Paula Gouvêa, endocrinologista pediátrica.
Com relação à resistência à insulina, a médica explica que a insulina é um hormônio responsável por facilitar a entrada de glicose (açúcar) nas células para ser utilizada como fonte de energia.
“Quando há resistência à insulina, o corpo precisa produzir mais insulina para manter os níveis de glicose normais. Com o tempo, o pâncreas não consegue acompanhar essa demanda e os níveis de glicose no sangue aumentam, levando ao diabetes tipo 2. Manter um peso saudável é essencial para prevenir esses problemas”, aconselha.
De acordo com o artigo “Obesidade infantil e risco de doenças cardiovasculares,” publicado em maio de 2023 na revista Current Atherosclerosis Reports, a obesidade infantil está diretamente associada a um aumento no risco de problemas cardiovasculares. “No estudo destaca-se a epidemia global de obesidade infantil e seus impactos na saúde. Evidencia a importância de fatores sociais e ecológicos, novas abordagens de diagnósticos e tratamento, além de ressaltar a importância de mais pesquisas para encontrar soluções inovadoras para esse problema de saúde”, complementa a especialista.
Prevenção e tratamento da obesidade infantil
Dra. Paula Gouvêa, que atua na Rede D’Or como plantonista da emergência e da Unidade de Internação Pediátrica, destaca que o pilar do tratamento da obesidade, seja ela infantil ou em adultos, é a mudança no estilo de vida.
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“É primordial a mudança no estilo de vida e que a família entenda que toda prevenção e tratamento na infância levam a um adulto saudável, ou seja, sem doenças relacionadas à obesidade”, ressalta.
A prevenção da obesidade infantil auxilia na proteção da saúde cardiovascular ao longo da vida. A Dra. Paula listou algumas estratégias eficazes para prevenção e tratamento da obesidade infantil como:
- adotar hábitos saudáveis desde cedo através de uma alimentação balanceada rica em frutas, legumes e proteínas magras;
- limitar o consumo de alimentos processados e açucarados;
- promover a prática regular de atividades físicas, como brincar ao ar livre e praticar esportes.
“É fundamental manter um ambiente familiar que apoie esses hábitos”, orienta.
A endocrinologista afirma que o tratamento da obesidade infantil é multidisciplinar e envolve uma equipe composta por pediatras, endocrinologistas pediátricos, nutricionistas, psicólogos e profissionais de educação física. O principal foco do tratamento é promover mudanças no estilo de vida da criança e de sua família, visando a melhoria geral da saúde.
“Após um período de seis meses a um ano, se tais mudanças não forem vistas através de avaliação clínica e laboratorial, pode ser instituído tratamento medicamentoso se essa criança tiver acima de 12 anos”, complementa.
A obesidade infantil tem consequências duradouras para a saúde cardiovascular, aumentando o risco de doenças cardíacas na vida adulta. A prevenção e o tratamento precoce são essenciais para evitar essas complicações.
Se você tem um filho ou filha com obesidade, é de fundamental importância adotar hábitos saudáveis desde a infância para garantir uma vida adulta com um coração saudável. Agende uma consulta com um de nossos especialistas e garanta um acompanhamento eficaz.
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