A angina se manifesta como dor ou desconforto no peito e pode causar infarto. Os dois principais tipos de angina são: angina instável e angina estável. Entenda a diferença entre elas.
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A angina é um sintoma de doença cardíaca coronária que se manifesta como dor ou desconforto no peito devido à falta de fluxo sanguíneo adequado para o coração. Existem dois tipos principais: angina instável e angina estável.
Dados da Pesquisa Nacional de Saúde apontam a prevalência da angina em mais de 10% da população brasileira acima de 18 anos. Essa condição pode ser passageira ou causar danos ao funcionamento do coração ao longo do tempo.
As anginas instável e estável possuem características distintas que exigem abordagens de tratamento específicas. Compreender essas diferenças é muito importante para o manejo correto dessas condições. Continue lendo e entenda.
“Angina é o sintoma de dor no peito, percebida como pressão, aperto, pontada ou queimação, que pode irradiar para ombro, pescoço ou braço esquerdo e atenuada por repouso ou por uso de medicamento”, descreve o coordenador do Serviço de Cardiologia e Residência Médica do Hospital Barra D’Or – RJ, Dr. João Luiz Petriz.
Segundo Dr. Petriz, a angina ocorre devido a um desequilíbrio entre a quantidade de fluxo sanguíneo e oxigênio que o coração está recebendo e o que ele realmente necessita para funcionar adequadamente, dependendo da intensidade do esforço físico, estresse mental, ou condições ambientais, como exposição ao frio intenso.
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Algumas situações podem levar à angina, como o entupimento das artérias coronárias por placas de gordura (ateromas) (incluir texto: Ateromatose: o que é, quais os sintomas e tratamento? Quando entrar), que reduzem o fluxo sanguíneo para o coração, ou uma diminuição na oferta de oxigênio em casos graves de anemia.
“Outra causa desencadeante de angina é o aumento do esforço realizado pelo coração pela elevação de pressão arterial, intensa aceleração do coração durante atividade física ou estresse emocional em pessoas que já possuem uma condição limitante do fluxo de sangue coronariano necessário para essa situação”, explica Dr. João Luiz Petriz.
As duas formas principais de angina, instável e estável, possuem cada uma características distintas que exigem abordagens de tratamento específicas.
A angina estável ocorre em padrões previsíveis, muitas vezes desencadeada em condições de aumento do esforço cardíaco, como pela prática de atividade física ou estresse emocional que o coração não está apto, ou pela deficiência de fluxo coronariano. “Essa condição tem duração limitada, pois melhora com repouso ou com o uso de medicamentos”, ressalta.
“As pessoas portadoras de angina estável geralmente conhecem seu sintoma e o nível de esforço que costuma desencadear a crise. Sabem como ‘gerenciar’ as medidas para aliviar o desconforto e cessar a angina”, destaca.
“Apesar de ser uma forma mais benigna, a angina estável sinaliza a ocorrência de uma situação desfavorável ao coração, que pode ao passar do tempo em alguns casos causar alteração no seu funcionamento, reduzindo sua capacidade de bombear o sangue de forma eficiente e manifestar sintomas de cansaço e falta de ar”, explica o especialista.
Embora desconfortável, a angina estável não representa um risco iminente de infarto, mas é necessária a devida atenção para o tratamento. “Essa condição estável pode se instabilizar e progredir para a forma de angina instável”, alerta o Dr. Petriz.
A angina instável ocorre de forma repentina que pode se manifestar como um novo sintoma de angina recente (em menos de 2 meses) ou como um agravamento repentino da angina estável anteriormente existente. Isso pode incluir o desencadeamento de angina com esforços menores, aumento na intensidade ou duração da dor.
“A forma mais característica da angina instável é a manifestação súbita de angina em repouso prolongado, geralmente com duração superior a 10 min e que não alivia com repouso”, alerta o cardiologista.
A angina instável é uma condição de maior gravidade e potencialmente fatal. Caracteriza-se por dores no peito que ocorrem de forma imprevisível e geralmente em repouso ou com esforço mínimo. Os sintomas podem se intensificar rapidamente e com maior frequência ao longo do tempo.
“Ocorre geralmente um entupimento importante de uma artéria coronariana pela formação de um trombo (agregado de plaquetas e hemácias), que restringe de forma mais intensa o fluxo de sangue ao coração”, descreve.
Esse tipo de angina indica um aumento no risco de um evento cardíaco grave, como um infarto do miocárdio, quando acontece uma lesão aguda no músculo cardíaco que pode causar sequelas importantes. “Arritmias importantes ou parada cardíaca podem acontecer como complicações maiores e ameaçadoras à vida durante a angina instável”, complementa.
Tanto a angina estável quanto a angina instável possuem alguns fatores de risco comuns, que são aqueles associados ao desenvolvimento de ateromas (placas de gordura) nas artérias coronarianas.
Dr. João Luiz Petriz aponta que os fatores de riscos clássicos da angina são:
– Diabetes;
– Tabagismo;
– Sedentarismo;
– Histórico familiar de doença coronariana;
– Obesidade;
– Aumento do colesterol e triglicerídeos;
– Fragilidades psicossociais como depressão e baixa renda familiar.
Dr. Petriz destaca que a angina instável tem fatores adicionais próprios relacionados a instabilização da placa de gordura coronariana e formação do trombo. “Uma situação aguda de grande estresse emocional, ambiental, esforço físico ou uma condição de inflamação ou infecção importante (como aconteceu em algumas pessoas acometidas pela COVID 19) podem ser ‘gatilhos’ que deflagram uma crise anginosa instável”, afirma.
O diagnóstico para diferenciar a angina instável e a angina estável é realizado por meio de histórico clínico detalhado, exame físico e testes como eletrocardiograma (ECG), teste ergométrico e exames de imagem cardíaca. O tratamento varia de acordo com o tipo de angina diagnosticada.
O tratamento da angina envolve ações fundamentais para controlar os fatores de risco, com uma abordagem multidisciplinar que inclui orientação nutricional, estímulo à atividade física e suporte psicossocial.
Além dessas medidas gerais, o uso de medicamentos desempenha um papel vital no controle da pressão arterial, na moderação da frequência cardíaca e na promoção da dilatação das artérias coronárias para reduzir as crises de dor no peito. Medicações para reduzir o colesterol e evitar formação de trombos são também indicados conforme avaliação médica.
“Nos casos de angina que não respondem adequadamente ao tratamento clínico e existe importante comprometimento da qualidade de vida, dispomos de recursos eficazes para restaurar o fluxo coronariano e reduzir ou interromper a angina”, apresenta o médico.
Dr. Petriz explica que esses recursos são geralmente empregados com maior frequência nos casos de angina instável, em que há uma súbita redução do fluxo sanguíneo coronariano. Pacientes com maior gravidade necessitam de medidas para restaurar o suprimento de sangue ao coração e prevenir complicações como infarto do miocárdio ou angina persistente.
“Após realizar o exame de cateterismo, que faz um filme das artérias coronárias, podemos identificar a localização, o número e o tipo de obstrução coronariana. A partir dessa informação será escolhida a melhor maneira de restaurar o fluxo coronariano”, destaca.
O tratamento pode incluir a realização da desobstrução da artéria coronária por meio do implante de um pequeno tubo metálico (stent) para mantê-la aberta e prevenir novo entupimento. Em outros casos, pode ser indicada a realização de cirurgia cardíaca, utilizando pontes de vasos arteriais, como a artéria mamária ou radial, ou enxertos de veia safena para desviar e restaurar o fluxo sanguíneo ao coração.
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