Esteatose Hepática: você sabe o que é?
Publicado em:
Popularmente conhecida como gordura no fígado, a esteatose hepática tem se tornado cada vez mais frequente no país e no mundo. As principais causas deste aumento nos casos estão relacionadas aos números cada vez maiores de sedentarismo e obesidade. “O que chama mais atenção hoje é que a esteatose deixou de ser apenas uma condição hepática de adulto e está atingindo crianças e adolescentes sedentários, e isso pode ter um impacto na taxa de sobrevida das pessoas”, afirma o hepatologista, Superintendente Médico do Hospital Aliança e presidente da Associação Latino-Americana para Estudo do Fígado, Dr. Raymundo Paraná.
No total, cerca de 55% das pessoas que fazem ultrassom de abdômen no Brasil apresentam a gordura no fígado, que pode evoluir para doenças de maior gravidade, como a esteato-hepatite não alcóolica, que pode ter como consequências casos de cirrose hepática ou desenvolvimento de câncer. Para se prevenir deste perigoso indício, hábitos alimentares saudáveis e práticas regulares de atividade física são essenciais.
“O que todo mundo quer hoje é perder peso de forma fácil e, com isso, acabam buscando soluções mágicas como dietas desbalanceadas, anabolizantes para perda de peso e os famosos chás milagrosos. E não enfrentam o sedentarismo. O grande problema disso é que esse uso equivocado, ao invés de melhorar, piora o quadro do indivíduo por hepatotoxicidade, que são os danos causados por estas toxinas”, reforça Dr. Paraná. Entre os chás prejudiciais lembrados por Dr. Paraná e que, atualmente, são motivo de grande volume de indivíduos com problemas no fígado, estão a erva cavalinha, o chá de espinheira santa, carqueja e o chá verde, que afeta principalmente as mulheres.
Confira o artigo no nosso Superintendente Médico, Dr. Raymundo Paraná. (Hepatologista, Professor Livre-Docente de Hepatologia Clinica da Universidade Federal da Bahia, Professor Titular de Gastro-Hepatologia da Universidade Federal da Bahia).
ESTEATOSE HEPÁTICA (GORDURA NO FÍGADO)
A doença gordurosa não alcoólica do figado, chamada NAFLD (Non-Alcoholic Fat Liver Disease), é uma condição comum, cuja principal característica é o depósito de lipídios nos Hepatócitos.
A esteatose hepática, sem evidencias de sofrimento do fígado, é um sinal de alerta, pois cerca de 10 a 20% estes indivíduos podem desenvolver sofrimento do fígado. Neste caso, passa a ser chamada de esteato-hepatite não alcoólica, conhecida pela sigla NASH (Non-Alcoholic Steato Hepatitis). Essa última tem potencial de evoluir para cirrose e câncer de fígado. Assim, a doença hepática gordurosa não alcoólica é espectral, desde formas leves até formas mais agressivas.
A esteatose – gordura no fígado – geralmente é resultado de alterações metabólicas do organismo, tais como:
- Redução da fração HDL colesterol ,
- Aumento da fração LDL colesterol
- Aumento de Triglicerideos no Sangue
- Resistência Insulínica ou Diabetes tipo 2
- Hipertensão Arterial
- Sobrepeso corporal, principalmente às custas de obesidade central
A esteatose pode também ser resultado do consumo regular de álcool, uso de alguns medicamentos (Inclusive Chás e Fitoterápicos), hipogonadismo e doenças genéticas de depósito.
Pode acometer mais raramente não obesos dislipidêmicos e com Resistência Insulínica. Neste caso, a doença costuma ser mais agressiva.
Geralmente, o diagnóstico é incidental durante um exame ultrassonográfico. Estima-se que 30 a 40% da população adulta no ocidente tenha esteatose Hepática, mas, destes, não mais do que 10 a 20% evoluirão para uma doença com potencial de gravidade: ESTEATO HEPATITE NÃO ALCOÓLICA.
Esta patologia lembra, em muitos aspectos, a doença do fígado induzida pelo álcool. Por isso o seu diagnóstico só deve ser firmado face à ausência ou diminuto consumo alcoólico. O volume abdominal, medido pelo diâmetro da cintura ou pelo índice cintura/quadril define a obesidade central como fator de risco para esta condição.
A esteatose hepática tem a sua fisiopatologia explicada pelo stress metabólico no fígado, cuja conseqüência é o aumento da peroxidação de lipídios. De forma simplificada, o figado produz gordura acima da sua capacidade de liberação, gerando o acumulo nas suas células.
Os Pacientes com Esteatose Hepática por resistência insulínica têm maior risco para Diabetes tipo 2 e doença coronariana.
A esteatose, assim como a esteato-hepatite, habitualmente, melhora o tratamento do fator causal. Deste modo, caso exista história de ingestão alcoólica em faixa de risco, a mesma deve ser suspensa. No caso da obesidade, a correção do peso corporal se faz necessária, desde que seja lenta e progressiva, uma vez que a rápida perda de peso corporal está associada com maior risco de progressão da doença.
Por isso, não se recomenda perda de peso rápida, por dietas muito restritivas.
A dieta deve ser balanceada, com redução do consumo de frutose e preparada para reeducação alimentar. Dietas modistas só atrapalham, enquanto os chamados sucos e alimentos DETOX não possuem mínima consistência científica.
Uso de medicamentos anabolizantes/outros hormônios para induzir perda de peso rapidamente é um risco à saúde de pacientes esteatóticos e mesmo para qualquer individuo normal. Estas terapêuticas hormonais podem piorar a doença hepática.
Os modistas suplementos proteicos são hoje abusivamente consumidos, por mero interesse comercial, baseado na falsa promessa de induzir perda de peso e/ou ganho de massa muscular. O seu potencial de malefícios também não é conhecido pela ausência de estudos científicos críveis em longo prazo.
Os chás emagrecedores, fitoterápicos e alguns Shakes que substituem refeições devem ser evitados pelo seu potencial de induzir hepatite tóxica. Os compostos que contêm Chá Verde, Espirulina, Erva Cavalinha, Espinheira Santa, Óleo de cartamo, Centelha Asiática, Noni e Babosa são particularmente perigosos.
Por outro lado, a atividade física aeróbica com moderada musculação têm excelentes resultados, desde que o paciente seja acompanhado por profissional competente e que tenha adesão às atividades. Este aspecto nem sempre é observado pela dificuldade das pessoas alterarem os seus sedimentados comportamentos.
Na maioria dos pacientes, a resolução da obesidade, o controle do diabetes e do colesterol se acompanha de completa resolução da esteatose e, muito provavelmente, da esteato-hepatite. Há um subgrupo minoritário de pacientes no qual a agressão hepática pode permanecer a despeito da correção do suposto fator causal. O mecanismo que perpetua a agressão hepática nesta situação ainda é desconhecido, mas provavelmente, tem base em polimorfismos de alguns genes.
Uma vez diagnosticada a Esteatose, num exame ultrassonográfico, é recomendável que o paciente procure o seu médico para que o mesmo faça a avaliação das provas bioquímicas hepáticas. Uma investigação invasiva só será necessária, habitualmente, nos paciente que apresentarem alterações destas provas laboratoriais.
Ao médico caberá definir se a esteatose cursa ou não com agressão hepatocelular (esteatose simples x esteato-hepatite) e descortinar a causa do distúrbio metabólico, corrigindo-a em seguida.