Alta densidade mamária: um fator de risco relevante no câncer de mama

A densidade mamária elevada é um fator de risco relevante para o diagnóstico de câncer de mama, mas pouco conhecido entre as mulheres.

Essa característica refere-se à quantidade de tecido fibroglandular em comparação com o tecido adiposo nas mamas, observada nas mamografias. Mamas mais densas contêm mais tecido glandular e menos gordura, o que pode dificultar a detecção de tumores em exames de imagem, além de estar associado a um risco maior de desenvolvimento de câncer de mama.

O que são mamas densas ou alta densidade mamária?

As mamas são compostas por diferentes tipos de tecido: glandular, fibroso e adiposo. Uma mama é considerada densa quando contém uma maior quantidade de tecido fibroglandular (glandular e fibroso) em comparação ao tecido adiposo.

Na mamografia, o tecido fibroglandular aparece como áreas brancas, assim como os tumores, o que pode dificultar a detecção precoce do câncer de mama, já que ambos são visualizados de forma semelhante. Esse fator torna a identificação de pequenos nódulos ou anormalidades mais complexa em mamas densas.

Quando a mamografia revela uma proporção elevada de tecido glandular e fibroso, as mamas são classificadas como fibroglandulares ou com alta densidade mamária. A densidade mamária é dividida em quatro categorias, de A a D, sendo as categorias C e D indicativas de mamas densas.

Estima-se que cerca de 40% das mulheres acima dos 40 anos apresentem mamas densas, e esse percentual pode chegar a 60% entre mulheres mais jovens

Fatores que influenciam a densidade mamária

  • Idade: Como já comentado, a densidade mamária tende a diminuir com a idade, especialmente após a menopausa.
  • Hormônios: O uso de terapias hormonais, como reposição hormonal na menopausa, pode aumentar a densidade das mamas.
  • Fatores genéticos: Há uma predisposição genética para a alta densidade mamária.

Como identificar e lidar com a alta densidade mamária?

Para mulheres com esse perfil, a realização de exames complementares, como a ultrassonografia mamária e a ressonância magnética (RM), torna-se essencial para aumentar a precisão no diagnóstico.

A mamografia, embora seja o exame padrão para o rastreamento do câncer de mama, tem suas limitações em pacientes com mamas densas, especialmente devido à presença de fibrose mamária, que também contribui para a obstrução das imagens. Essas características tornam o rastreamento mais complexo e podem retardar a identificação de pequenos tumores.

“É fundamental que mulheres com tecido mamário denso tenham um acompanhamento regular e mais criterioso. Além da mamografia, a associação com a ultrassonografia pode melhorar significativamente o diagnóstico, pois amplia a capacidade de detectar pequenas lesões que podem passar despercebidas na mamografia”, ressalta a médica Ellyete Canella, coordenadora do Centro de Mama do Hospital Quinta D’Or, no Rio de Janeiro.

Segundo a especialista, o ideal é que ambos os exames — mamografia e ultrassonografia — sejam realizados em centros especializados, focados no atendimento integral em radiologia mamária. “Quando os exames são feitos em clínicas diferentes, os médicos podem não ter acesso às imagens completas, o que limita a capacidade de interpretar os resultados de forma precisa. Fazer os dois exames no mesmo local e sob o acompanhamento do mesmo médico melhora o desempenho dos métodos e reduz a chance de falsos positivos ou diagnósticos incompletos”, explica Canella.

Risco aumentado de câncer de mama

Mulheres com mamas densas têm um risco significativamente maior de desenvolver câncer de mama, sendo até quatro a seis vezes mais propensas à doença em comparação com mulheres cujas mamas apresentam menor densidade. Esse risco aumentado está relacionado a dois fatores principais que interagem de maneira complexa: a predisposição biológica e a dificuldade de detecção precoce.

Predisposição biológica: O tecido denso é caracterizado por uma maior atividade celular e uma maior proliferação de células epiteliais, fatores que podem facilitar mutações e o crescimento de células malignas. Além disso, há evidências de que as mamas densas estão associadas a um microambiente mais inflamatório, o que pode contribuir para a progressão tumoral.

Dificuldade na detecção: a mamografia, exame padrão para rastreamento do câncer de mama, tem menor sensibilidade em mamas densas, aumentando a chance de lesões passarem despercebidas.

Um estudo publicado na revista Radiology revelou que mulheres com mamas predominantemente densas apresentaram maiores taxas de câncer detectado no rastreamento e casos de câncer de intervalo (tumores diagnosticados entre mamografias de rotina) em comparação com aquelas com mamas menos densas. Esse achado reforça a complexidade de identificar lesões em mamas densas, onde a menor sensibilidade da mamografia contribui para diagnósticos tardios.

Além disso, o estudo apontou a densidade mamária como um dos fatores de risco mais significativos para o câncer de mama, superando até mesmo outros fatores clássicos, como histórico familiar de câncer de mama e idade avançada. Isso coloca a alta densidade mamária no centro da discussão sobre a necessidade de estratégias de rastreamento mais eficazes e personalizadas para mulheres com esse perfil.

Diagnóstico precoce e medidas de prevenção

Dada a dificuldade na detecção do câncer em mamas densas, é fundamental que as mulheres nessas condições realizem exames complementares além da mamografia tradicional. Métodos como ultrassonografia mamária, ressonância magnética e a tomossíntese (mamografia 3D) têm mostrado eficácia superior na identificação de tumores em tecidos densos.

“A tomossíntese é um software avançado que gera imagens da mama em ‘fatias’ de um milímetro, permitindo uma visão mais precisa e tridimensional, o que melhora significativamente o desempenho na detecção precoce de lesões iniciais”, explica a médica Ellyete Canella, coordenadora do Centro de Mama do Hospital Quinta D’Or. Essa tecnologia não só facilita a identificação de pequenos tumores que poderiam ser perdidos em uma mamografia tradicional, mas também reduz o número de chamadas para exames adicionais, diminuindo a ansiedade e o risco de diagnósticos incorretos.

Além do rastreamento avançado, manter hábitos saudáveis, como a prática regular de atividades físicas e uma dieta balanceada, é uma medida preventiva importante. Embora a densidade mamária não possa ser diretamente modificada, essas práticas ajudam a reduzir o risco de câncer de mama e de outros tipos de câncer. Um estilo de vida saudável atua em fatores modificáveis, como o controle do peso e o equilíbrio hormonal, ambos associados à redução do risco de câncer.

A realização de exames frequentes e completos em clínicas especializadas, com profissionais experientes em radiologia mamária, é essencial para um acompanhamento eficaz. A combinação de exames avançados e cuidados preventivos oferece a melhor estratégia para o diagnóstico precoce e a detecção de lesões que poderiam passar despercebidas em mamas densas.

Revisão médica:

Dra. Fernanda Frozoni Antonacio

Oncologista Clínica

Compartilhe este artigo