Nosso compromisso é com o acolhimento e os melhores atendimento à mãe, bebê e toda família
Publicado em:
Grávida de 36 semanas, Mélany Santos Antoniazzi, 36 anos, de Santo André, São Paulo, começou a passar mal de repente. “Vomitei e veio uma dor muito forte no peito, acompanhada de falta de ar”, lembra. Depois de duas paradas cardíacas, a gestante precisou ser colocada em coma e Enrico nasceu sem que ela soubesse. Felizmente, hoje, os dois estão bem e em casa. “É extremamente raro, e as chances de sobrevivência de mãe e filho, nesse caso, são baixíssimas”, afirma o cardiologista que cuidou do caso do Hospital e Maternidade Brasil, da Rede D’Or, em Santo André, São Paulo.
Em fevereiro de 2024, Enrico completou seu primeiro aninho de vida, mas tanto ele quanto a mãe, Mélany Santos Antoniazzi, 36 anos, de Santo André, São Paulo, ainda se recuperam do parto. O pequeno nasceu com 36 semanas e dentro de uma sala de hemodinâmica, enquanto a mãe sofria duas paradas cardíacas e os médicos tentavam reanimá-la — a situação era extrema.
Do lado de fora, Cleber Santos Antoniazzi, marido de Mélany, rezava pela vida da esposa e do filho. “O médico disse que só um milagre poderia trazer minha esposa de volta”, lembra. E aconteceu. “Em uma análise fria e, de acordo com o cenário e a literatura, era questão de tempo até declarar o óbito. Mas pedidos de oração foram feito nos grupos da igreja, para parentes e amigos. Ficamos sabendo que havia uma corrente de oração com mais de 15 mil pessoas orando por nós, e Deus nunca falha”, disse Mélany. Em entrevista exclusiva à CRESCER, o casal contou em detalhes a experiência.
“O meu primeiro filho nasceu prematuro, com apenas 30 semanas de gestação, em 2019. Ele ficou na UTI por 54 dias e, graças a Deus, hoje é uma criança saudável e sem sequelas. Na época, não sabíamos o motivo pelo qual entrei em trabalho de parto prematuro. Quando começou, eu fiquei internada por mais 24 horas com medicação na tentativa de segurar o bebê por mais tempo, mas não teve jeito e foi feita a cesárea de emergência.
Quando meu esposo e eu resolvemos ter o segundo filho, fizemos todos os exames de rotina e não deu nenhuma alteração — até então, não havia explicação para o parto prematuro. Assim que descobri a gestação, fizemos o acompanhamento pré-natal com obstetra de gravidez de risco e, logo no primeiro ultrassom, o médico observou que o colo do útero estava menor do que deveria para aquela semana gestacional. Foi, então, que descobrimos que meu colo não acompanharia o crescimento do bebê e, por isso, logo no início já foi feito o tratamento com progesterona (hormônio) para tentarmos levar a gestação até o final.
Muitas mulheres sofrem com o colo do útero encurtado, mas este não era meu caso. Meu colo do útero, nos exames pré-gestacionais, sempre estava normal. No entanto, durante a gestação, ele não cresce como deveria. Mesmo assim, a gestação evoluiu bem até 30 semanas, com acompanhamento mensal por ultrassom e consulta pré-natal sem qualquer intercorrência de pressão alta. Mas quando completei 30 semanas, a bolsa estava perto de romper — assim como na primeira gestação. Foi, então, que o médico pediu que eu fizesse repouso absoluto. Cada semana era uma vitória e um prazo a mais que Enrico ganhava dentro da barriga. Minha saúde estava perfeita e não tinha nenhuma queixa até chegarmos às 36 semanas.
No dia 6 de fevereiro de 2023, quando completamos 36 semanas, consultei com meu médico às 17h, estava tudo bem e marcou o retorno em 1 semana. Meu esposo e eu voltamos para casa, só fizemos uma pequena parada no mercado para ele comprar algumas coisas enquanto eu esperava no carro. Ao chegarmos na garagem de casa, senti um mal estar — um enjoou bem forte. Deitei na cama, meu esposo trouxe água e, ali, já comecei a passar mal. Vomitei e veio uma dor muito forte no peito, acompanhada de falta de ar. Meu esposo ligou para o obstetra, que pediu para irmos imediatamente para emergência.
A minha dor era tão forte que pedi para que ele me levasse para o Hospital e Maternidade Brasil, que era o mais próximo, e não para a maternidade onde fazia o acompanhamento pré-natal — ainda bem! Pois, mais tarde, fiquei sabendo que a maternidade não tinha hemodinâmica — sala que trata problemas cardíaco —, e tempo de atendimento foi o diferencial em toda a situação.
Cheguei ao hospital consciente. Lembro do enfermeiro que me atendeu, pedindo para que me acalmasse, mas eu estava com muita dor no peito e sem ar. Ele me deitou na maca, fez um eletro e começou a me dar vários remédios — não fazia ideia do que estava acontecendo. Falaram que a dor já iria passar e lembro de ouvir pessoas dizendo que “iriam me descer”. Ali, imaginei que poderia ser alguma dor pela gravidez. Depois, lembro de terem me movido de maca e não lembro mais nada.”
Relato do marido, Cleber Santos Antoniazzi, sobre os dias seguintes:
“Foi uma situação terrível — a mais difícil da minha vida. Demos entrada às 19h30 no hospital, e lembro da Mélany sentir muita dor. Os enfermeiros estavam calmos (deram morfina e várias medicações para dor) até o momento em que fizeram e eletrocardiograma. Eles me chamaram e falaram: ‘A sua esposa está tendo um infarto. Você precisa ter calma e não permitir que ela saiba’. O meu coração apertou e o desespero atingiu o meu corpo e minha mente. A dor na Mélany não passava e, então, eles a levaram para a hemodinâmica. Pediram para que eu ficasse do lado de fora e aguardasse informações.
O tempo e o desespero tomaram conta do corpo — senti muita ansiedade. Entrei em contato com a família, pedi auxílio e oração porque estava sozinho passando por toda aquela situação. Mais tarde, meu irmão chegou e me deu forças. Algum tempo depois, passou por mim um ‘batalhão’ de médicos e enfermeiros com uma incubadora de UTI e, ali, pressenti que meu filho iria nascer. Em seguida, passaram alguns médicos e enfermeiros com Enrico entubado para a UTI Neo Natal.
Pediram para que eu acompanhasse e ouvi um sussurro de uma médica pedindo para que não me deixassem ali — era para me segurar lá em cima, com o bebê. Subi porque queria saber onde meu filho iria ficar, mas meu coração estava na hemodinâmica. Ao entender que meu filho estava bem e com cuidados, pedi para descer e saber da minha esposa. As médicas pediram para eu esperar e disseram que, mais tarde, iriam me dar notícias. Eu não aceitei, sai rapidamente da UTI Neonatal e fui para hemodinâmica saber da minha esposa. Ao chegar lá, clamei por notícias e o desespero bateu. Os médicos me chamaram e me levaram para próximo da sala que Mélany estava.
Ali, me disseram uma das piores notícias que poderia receber — um grupo grande de médicos ficou à minha volta, e o diretor geral de cardiologia disse que minha esposa teve uma ‘dissecção da artéria coronária e que o entupimento da artéria precisava ser rompido’, mas que ele havia tentado duas vezes, sem sucesso. E que ‘agora, só um milagre poderia trazer minha esposa de volta’. Disse que a situação era muito delicada e cada minuto se tornava mais difícil porque parte do coração dela não estava sendo alimentado por oxigênio e fluxo sanguíneo. Devido à sua fraqueza, ela não tinha condições de mais uma tentativa de desobstrução.
A Mélany, naquele momento, precisava melhorar suas condições, algo que era quase impossível devido ao cenário. Então, os médicos a levaram para a UTI e, sob muitos medicamentos e aparelhos, ela ainda tinha vida. Uma médica chamou meu irmão de canto durante a conversa e falou para ele ficar perto de mim porque a qualquer momento as coisas iriam ficar muito difíceis, pois não havia mais nada que poderia ser feito. Ele me abraçou e, juntos, começamos a orar e chorar sem parar. O meu irmão, que dificilmente chora e me passava força a todo tempo, desabou. Ali, senti que realmente estava perdendo o amor da minha vida. Foram momentos de angústia e desespero.
Na manhã de terça-feira, aproximadamente 12 horas após o incidente, eu procurei os médicos e fui informado que Mélany teve uma ‘pequena melhora’, mas que a situação ainda era delicada e perigosa. Devido ao tempo e as condições, eles decidiram tentar desobstruir a artéria mais uma vez — e pediram a minha autorização. Afinal, tudo poderia acontecer. Após reunir a família, decidimos tentar mais uma vez. Fui informado que um médico especialista em cateter iria assumir a situação e fazer de tudo para conseguir um resultado positivo. Ele me levou para um corredor ao lado da sala de hemodinâmica e pediu para que esperasse ali. Fiquei orando sem parar, pedindo à Deus um milagre, e avisei as pessoas para orar naquele momento tão importante.
Passado 21 minutos, o médico volta feliz, chorando, ajoelhou ao meu lado e falou que ela iria sobreviver! Ao agradecer ele, o médico disse que nada foi feito. Ele explicou que, ao inserir o contraste para saber onde estava o ponto exato do entupimento da artéria, percebeu que o fluxo estava indo direto para o coração e tudo fluía de maneira perfeita. Ele me disse: ‘Hoje presenciei um milagre!’, pois os exames anteriores demonstravam claramente a dissecção da artéria e, durante a sessão e inserção do contraste, estava claro que não havia mais nada. Então, a levaram para a UTI novamente e disseram que ela iria se recuperar. No entanto, agora, precisaríamos entender em quais condições — se iria falar, andar ou quais sequelas esperar, porque não se sabia quais eram os possíveis danos causados pelo período em que o problema estava ocorrendo.”
Continua o relato de Mélany:
“Nós demos entrada no hospital em uma segunda feira às 19h30, e acordei na quarta-feira à tarde, sem saber o que tinha acontecido. Como se eu tivesse apenas dormido e acordado. Não lembro como aconteceu o parto, mas meu esposo e os médicos contaram que, durante o procedimento de desobstrução da artéria, eu tive duas paradas cardíacas, o que comprometeu a vida do bebê. Não havia possibilidade de tentar desobstruir pela terceira vez e decidiram tirar o Enrico da minha barriga. Assim, os médicos realizaram o parto de maneira rápida e desesperadora, pois o bebê entrou em sofrimento fetal devido as paradas cardíacas e às tentativas de reanimar com choques no coração. Enrico foi o primeiro bebê a nascer em uma sala de hemodinâmica do Hospital Brasil.
Lembro também que a médica que realizou meu parto foi me visitar na UTI e falou que não deu tempo de aplicar a anestesia para cesárea, o parto foi realizado apenas com a anestesia geral. Então, não sabia se eu tinha sentido dor. Logo que sai do coma e pude falar, meu esposo mostrou fotos do Enrico, mas os médicos não puderam me liberar para vê-lo pessoalmente devido as medicações e também devido ao fato de eu não poder sair do leito. Consegui visitar o Enrico apenas quatro dias depois do nascimento, mas só pude pegá-lo no colo no dia 13 — sete dias depois do parto.
Os médicos tentaram de todas as formas me salvar até que, devido as minhas condições físicas, ficaram sem opções e decidiram salvar a vida do bebê. Neste momento, depois de tentaram de tudo, falaram ao meu esposo que só um milagre poderia salvar a minha vida. Eles disseram que foi feito tudo, mas não foi possível desobstruir a artéria, e que a cada segundo que passava, as células do meu coração estavam morrendo. Em uma análise fria e de acordo com o cenário e a literatura, era questão de tempo até declarar o óbito. Mas como meu esposo disse, pedidos de oração foram feito nos grupos da igreja, para parentes e amigos. Ficamos sabendo que havia uma corrente de oração com mais de 15 mil pessoas orando por nós. E Deus nunca falha! “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.” (Mt 18,20)
Depois de tudo, o meu prazo de recuperação era, em média, de quinze dias a um mês, mas acordei na quarta-feira, às 15h, e, na sexta-feira, já queria ir ao banheiro sozinha. Os médicos ficaram surpresos como tudo foi conduzido por Deus. A única preocupação era o coração, que trabalhava com 33% da sua capacidade. No momento em que tive as paradas cardíacas, o Enrico ainda estava na minha barriga e, com a falta de oxigenação, ele sofreu um AVC isquêmico. Ele também é um milagre de Deus, pois, segundo os médicos, ele poderia ter entrado em óbito. Graças a Deus, ele está com saúde e fazendo todo acompanhamento e tratamento necessário. Tem dificuldades de mobilidade do lado esquerdo do corpo e passa por muitos acompanhamentos. Mas esperamos que possa continuar sendo saudável e vencendo suas batalhas.
Hoje me sinto muito bem. Passei pelo processo de fisioterapia e, hoje, por recomendação médica, faço exercícios três vezes por semana com acompanhamento de um personal trainer. Quando recebi alta, meu coração estava com 33% de “funcionamento” e, após 6 meses, foi para 37%. Agora, com 1 ano, meu coração está em 45%. Sei que é um longo caminho, mas sou grata à Deus por ter colocado profissionais tão dedicados em meu caminho. Eles são anjos e instrumentos que Deus usa diariamente. A gente tem orado pela vidas deles todos os dias, porque Deus é maravilhoso e ama a todos.
Mélany e Enrico, que completou 1 ano — Foto: Arquivo pessoal
Se eu acho que foi um milagre o que aconteceu comigo? Não tenho dúvidas! Sei que Deus tem planos maravilhosos para todos os seus filhos e se hoje estou aqui fazendo essa entrevista é porque Deus tem um propósito. E você está sendo um ser usado por Ele para mostrar ao mundo que precisamos amar mais e sentir a presença de Deus. Afinal, Ele me permitiu ser um milagre para que eu possa ajudar a mudar a vida de outras pessoas, demonstrando esse amor que Ele tem por mim e por todos.”
O cardiologista Gilberto Giovanelli Junior, que atua na área de Cardiopatia e Gestação e é membro do CIAGESTA (Centro Integrado de Acolhimento à Gestante) do Hospital e Maternidade Brasil – Rede D´Or, explicou que Mélany sofreu um “infarto de grandes proporções”. “A paciente foi encaminhada para a sala de hemodinâmica imediatamente para exame de cateterismo, onde apresentou arritmia seguida de parada cardíaca. Ela foi reanimada e passou por uma cesárea de urgência, realizada pela equipe de obstetrícia e assistida pela equipe da UTI. Portanto, neste caso, ocorreu dissecção espontânea da coronária descendente anterior correlacionada com a gestação associada ao fato de ter dislipidemia importante (elevação de colesterol)”, disse.
Segundo o especialista, trata-se de um caso “extremamente raro”. “A chance de sobrevivência de mãe e filho são baixíssimas”, afirmou. “Os riscos tradicionais para o infarto são obesidade, sedentarismo, alterações de colesterol, diabetes, hipertensão e tabagismo. Nas mulheres, acrescentamos fatores específicos como ovários policísticos, uso de anticoncepcionais, eventos adversos prévios da gestação, terapia de fertilização e multiparidade. Durante a gestação, ocorre ação dos hormônios estrógeno, elastase circulante e relaxina na camada íntima das artérias, podendo ocorrer o seu rompimento espontâneo que corresponde a 43% dos casos de infarto na gestação”, continuou.
A recuperação de Mélany exigiu assistência especializada, disse o médico, pois houve “perda de uma grande área do coração”. “Foi necessária a introdução de medicamentos específicos e, por isso, ela também não pode amamentar. Foi iniciada a reabilitação cardíaca com prescrição de exercício para esta condição especial. Gostaria de mencionar que a Doença Cardiovascular da Mulher e a Cardiopatia na Gestação são áreas de extrema importância. A sua ação começa na pré-concepção, onde podemos avaliar os riscos e tentar minimizá-los por meio do pré-natal”
E finaliza, dizendo: “Quando me perguntam se o caso da Mélany foi um milagre, eu respondo que ‘ela estava no lugar certo na hora certa’. Mas permitam um avaliação pessoal: Deus estava no comando — ele não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos”.
Fonte: Matéria Revista Crescer