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Quando se discute o avanço do novo coronavírus no Brasil, geralmente vem junto o debate sobre a quantidade de leitos de UTI e de respiradores. Isso porque, ainda que 80% dos casos de COVID-19 sejam considerados leves, há um grupo em que a doença evoluiu para quadros mais graves.
Estima-se que, de cada 1.000 pessoas infectadas pelo vírus Sars-CoV-2, cerca de 50 precisarão de cuidados intensivos e 30, de respiradores mecânicos.
Veja abaixo algumas dúvidas comuns sobre UTIs, que foram respondidas por Fernando Bozza, coordenador de pesquisa em Medicina Intensiva do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), e Rodrigo Amancio, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A Unidade de Terapia Intensiva é uma área dedicada a pacientes críticos, gravemente enfermos. O ambiente conta com extenso parque tecnológico, possibilitando um controle rigoroso dos parâmetros vitais.
Uma vasta equipe interdisciplinar trabalha contínua e intensamente para o funcionamento de uma UTI, incluindo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem, técnicos de laboratório, funcionários que dão suporte ao funcionamento da unidade, além dos pacientes.
Precisa haver ao menos um médico especializado em Medicina Intensiva para responder pela UTI e coordenar o trabalho da equipe. Além disso, há uma série de equipamentos essenciais, como ventiladores mecânicos e monitores cardíacos dos sinais vitais (pressão arterial, saturação de oxigênio e frequência cardíaca).
Vários hospitais têm políticas de UTIs abertas a visitas, a maioria deles em horários determinados. A ideia é manter um rigoroso controle de infecções, especialmente porque os pacientes estão com o sistema imunológico deprimido.
No entanto, neste momento de pandemia, é recomendado que não haja visita nas UTIs, para conter a disseminação da COVID-19, uma vez que o acompanhante será exposto a um risco muito grande de contrair o novo coronavírus. Geralmente, nesse caso, a equipe médica passa as informações ao familiar responsável.
O uso da ventilação mecânica é um modo de auxiliar o paciente a respirar, ou seja, o aparelho “respira pelo paciente” por meio de um tubo que passa pela garganta (tubo endotraqueal).
No caso da COVID-19, os primeiros sintomas se assemelham a uma gripe, mas podem evoluir para falta de ar. A partir desse momento, é recomendada a internação para acompanhamento e suplementação de oxigênio, o que é feito com cateter nasal e máscara de oxigênio.
Se mesmo com esses cuidados a saturação (quantidade de oxigênio no sangue) não atingir níveis satisfatórios (>95%), o paciente passa a ser elegível para um procedimento de intubação e ventilação mecânica.
A sedação ajuda na adaptação do paciente ao uso da ventilação mecânica. Dessa forma, evita-se que o paciente e a máquina respirem de maneira descompassadas.
Além disso, embora essa seja uma estratégia bastante utilizada, ela não é confortável. Por isso, a sedação aumenta o conforto do paciente.
De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil possui 55 mil leitos de UTI (números do começo de março). Esse número equivale, em média, a 2,62 leitos a cada 10 mil habitantes, taxa maior do que países como Itália, França, Espanha e Japão.
Ainda assim, algumas regiões já passam por saturação do sistema de saúde – ou seja, estão com 90% a 100% dos leitos ocupados. Isso ocorre, entre outros motivos, por causa do crescimento rápido do número de casos de COVID-19, da longa permanência hospitalar dos pacientes internados com coronavírus e da distribuição irregular desses leitos pelos estados brasileiros.
Por esse motivo, governos, isoladamente e em associação com a iniciativa privada, têm investido em alternativas, como a construção de hospitais de campanha, visando a abertura de novos leitos.
Hoje o maior desafio está em conseguir profissionais de saúde capacitados para uma operação de tamanha complexidade. Os pacientes com COVID-19 que estão em UTIs precisam de uma equipe interdisciplinar altamente capacitada, o que leva tempo para se formar.
Além de não termos como formar esses Recursos Humanos rapidamente, há uma parcela considerável de profissionais que estão afastados por problemas de saúde, acometidos pelo próprio coronavírus.
Uma série de iniciativas têm sido tomadas por estados e municípios para que isso não ocorra. Instituições privadas têm atuado em conjunto com as autoridades locais para dar apoio, inclusive financeiro, a essas ações. É importante lembrar que doenças cardíacas, câncer e outras condições seguem acometendo milhares de pessoas que também precisam de hospitalização e Terapia Intensiva.
Deste modo, como o paciente com COVID-19 tem uma perspectiva de uma internação prolongada, o que superlotaria o sistema de saúde, é preciso ter cautela e manter as políticas de isolamento de acordo com a orientação específica de cada estado, visando o achatamento da curva de disseminação do vírus e possibilitando, assim, que o sistema de saúde, comporte a demanda nesta pandemia.
A Rede D’Or não atende ao SUS (Sistema Único de Saúde). No entanto, investiu cerca de 100 milhões de reais na construção e gestão de dois hospitais de campanha no Rio de Janeiro, totalizando 400 leitos, sendo 150 deste de UTI. Também já disponibilizou recursos e equipamentos para a restauração de leitos na Santa Casa de São Paulo e para outras iniciativas públicas e privadas.
Para atendimento aos seus clientes, a Rede D’Or opera com leitos em seus hospitais nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Maranhão, Sergipe e também no Distrito Federal. Os leitos intensivos do grupo estão operando muito próximos à sua capacidade máxima.
No Rio de Janeiro, segundo estado mais afetado pelo coronavírus, foi antecipada a abertura do hospital Gloria D’Or. O lançamento desse hospital havia sido postergado porque parte dos equipamentos de UTI comprados para lá foram disponibilizados para o hospital de campanha do Leblon.