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Vírus Zika circulou por muitos meses sem ser detectado antes da epidemia

Vírus Zika circulou por muitos meses sem ser detectado antes da epidemia

Nova pesquisa publicada no dia 24 de maio de 2017 na revista científica Nature, uma das mais prestigiadas do mundo, revela aspectos inéditos sobre a circulação e evolução do ZIKV nas Américas, o que pode impactar em futuras estratégias de vigilância de doenças infecciosas emergentes.

Para o Dr. Fernando Bozza, um dos autores do estudo e
pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e da Fiocruz, “a
percepção de que o Zika circulou durante meses em diversos países sem ser
identificado traz questões importantes sobre a capacidade de detecção precoce
de doenças emergentes”.

Se valendo de técnicas avançadas de genômica, os
pesquisadores realizaram uma análise filogenética do ZIKV, que permitiu, pela
primeira vez, reconstruir a rota do vírus pela América Latina, Caribe e sul dos
Estados Unidos, e detectar as mutações genéticas que o vírus acumulou durante
esse trajeto.

O levantamento possibilitou a análise de 110 genomas oriundos de pacientes e mosquitos Aedes aegypti de 11 países e territórios. Em muitas dessas regiões o ZIKV circulou por quase um ano antes da epidemia, sem que fosse detectado. Além disso, diversas mutações foram identificadas no
material genético do ZIKV, o que podem impactar em como a infecção se manifesta,
e ter influenciado na maneira como o vírus se espalhou pelas Américas. Ainda, conhecer tais mutações é essencial para a vigilância do vírus, bem como para o desenvolvimento de melhores testes diagnósticos e vacinas.

No Brasil, os dados foram coletados a partir de um estudo
conduzido pelo IDOR nos hospitais da Rede D’Or São Luiz, em parceria com a
Fiocruz, sob financiamento da FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
do Rio de Janeiro). O material foi analisado em colaboração com o Broad
Institute (MIT e Harvard). Posteriormente, a colaboração envolveu também
centros internacionais de pesquisa em mais 10 países. No Brasil, as ações foram
supervisionadas pelo Dr. Fernando Bozza, e Dr. Thiago Moreno e Dra. Patrícia
Bozza, da Fiocruz.

O trabalho exigiu que os pesquisadores superassem
importantes desafios técnicos. Um dos maiores foi sequenciar o ZIKV, tendo em
vista que a carga viral associada à infecção é muito baixa (menor que vírus
Ebola ou Dengue). Desse modo, encontrar a quantidade necessária para análise do
material genético do vírus nos pacientes e mosquitos inseriu um grau de
dificuldade elevado à pesquisa. Tal característica havia limitado os estudos
anteriores e o entendimento completo da evolução e trajetória do vírus no
mundo.

Outro aspecto relevante do presente estudo envolveu a
cooperação de dezenas de pesquisadores de mais de 30 institutos ao redor do
mundo, o que demonstra que a união dos esforços para entender tais aspectos do
ZIKV é mais importante para a ciência e sociedade do que iniciativas
individuais e pouco eficazes.

“Esse resultado reforça a importância da vigilância epidemiológica
ativa acoplada a técnicas moleculares de diagnóstico e sequenciamento genético,
de forma que situações como essa sejam percebidas antes de levarem a
epidemias”, completa Dr. Bozza.

Sobre a epidemia

A epidemia do vírus Zika (ZIKV) assolou rapidamente a
população brasileira entre 2015 e 2016, infectando também a população de países
vizinhos como Colômbia, Panamá, República, Dominicana, Venezuela, entre outros.
Em março de 2015, os primeiros relatos no Brasil indicavam que se tratava de
uma pequena variação da Dengue ou Chikungunya, caracterizada por febre, erupção
cutânea e dores nas articulações. Mais tarde, os primeiros indícios de que a
infecção parecia estar relacionada a danos ao sistema nervoso central durante o
desenvolvimento fetal começaram a ser publicados.

Um dos trabalhos mais importantes, publicado na revista Science por pesquisadores do IDOR e da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), demonstrou que o ZIKV invade as
células neuronais em formação e as mata, relacionando diretamente a infecção
com a microcefalia. A caracterização radiológica completa da Síndrome Congênita
do ZIKV veio a publico em outubro de 2016, no artigo liderado por pesquisadora
do IDOR na revista científica Radiology,
que indicava que a microcefalia causada pelo vírus era apenas um das alterações
cerebrais dentre tantas outras identificadas pelos cientistas.

Citação completa

Metsky HC, Matranga CB,
Wohl S, Schaffner, SF, et al. Zika virus evolution and spread in the Americas.
Nature. Online May 24, 2017. DOI: 10.1038/nature22402

Financiamento

A pesquisa foi
financiada por Marc and Lynne Benioff; Howard Hughes Medical Institute; Broad
Institute BroadNext10 program; AWS Cloud Credits for Research; Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico and Fundação de Amparo a Pesquisa do
Estado do Rio de Janeiro; MIDAS-National Institute of General Medical Sciences;
AEDES Network and Colombian Science, Technology and Innovation Fund of Sistema
General de Regalías-BPIN; ASTMH Shope Fellowship; PNPD/CAPES Postdoctoral
Fellowship; Fulbright-Colciencias Doctoral Scholarship; NIH training grant; EU
and NIH NCATS CTSA;The Ray Thomas Foundation, and Pew Biomedical Scholarship.

Sobre o IDOR

O Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) é uma
instituição sem fins lucrativos que tem por objetivo promover o avanço
científico e tecnológico na área de saúde, com responsabilidade social. Sua
operação é independente e em sede própria desde 2010, mas as suas origens remontam
ao início da Rede D’Or de Hospitais, sua principal mantenedora. Mais detalhes
em: www.idor.org

11.06.2019

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