Desconhecimento do número real de infectados pode aumentar estimativas sobre fatalidade da doença.

Os dados divulgados em jornais e artigos científicos apontam que a taxa de mortalidade do coronavírus (Sars-COV-2) varia de 2% a 4%, informação que é confirmada pela própria Organização Mundial da Saúde. Todavia, em um artigo publicado nesta terça-feira (24/03) no Wall Street Journal, dois médicos acadêmicos da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, levantaram uma pergunta aparentemente óbvia, mas que questiona a certeza do índice de fatalidade do vírus.

Pois bem, para qualquer cidadão está claro que o número de casos confirmados é sempre menor do que o número correto de infectados, porém, quão maior? Considerando que os casos confirmados só são determinados via testagens e que, na maioria dos países, estas só ocorrem para pacientes com sintomas mais graves ou nos grupos de risco, podemos estar falando de um número de infectados dezenas ou centenas de vezes maior do que o número de casos confirmados. 

Fazendo esse cálculo, se 2% a 4% foi o número de mortes causadas pela doença, e considerando que sob os óbitos é mais possível se ter controle de dados, a taxa de mortalidade do vírus está se baseando apenas no pequeno número de casos confirmados, quando, se dissolvida no total de infectados, essa taxa seria na realidade muito reduzida.

Para exemplificar esse argumento, os médicos de Stanford informaram que amostras populacionais como a de cidadãos evacuados de Wuhan para seus países natais, em 31 de janeiro, mostraram um percentual de infecção de 0,9% para o coronavírus. Se essa era a prevalência na região de Wuhan na época, então, com uma população de cerca de 20 milhões, a área deveria ter em média 178.000 infecções, número que seria cerca de 30 vezes maior que o número de casos relatados na época. A taxa de mortalidade, então, seria pelo menos 10 vezes menor do que as estimativas baseadas nos casos confirmados.

Isto não significa porém, que a COVID-19 não confere um problema a ser levado muito a sério. Vemos em países como Itália e Espanha os esforços diários de contenção frente a milhares de mortes que seguem ascendentes. Porém, o que os médicos buscam informar é que uma epidemia que causa milhares de mortes é muito menos severa do que uma que causa milhões, e que talvez as medidas de contenção tomadas por vários países, como a adoção de quarentenas, possam ser mais danosas social e economicamente do que o investimento na obtenção de dados claros e do consequente mapeamento da doença.

O argumento dos especialistas nos traz novas perspectivas, até mesmo positivas, sobre as prospecções do coronavírus e sobre a fatalidade de suas infecções. Ainda assim, é importante lembrar que os médicos fizeram a análise baseados em referências sociais e econômicas dos Estados Unidos, e suas conclusões não poderiam ser aplicadas cegamente em países subdesenvolvidos.

Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.