Ferramenta já é implementada há uma década e segue mostrando eficácia na caracterização de risco de pacientes em centros de urgência pediátrica
Ferramenta já é implementada há uma década e segue mostrando eficácia na caracterização de risco de pacientes em centros de urgência pediátrica
Uma emergência pediátrica possui muitos desafios. Como ela é destinada a bebês, crianças e jovens, há uma grande variedade de pacientes que, a depender da idade, nem sempre conseguem expressar os sintomas que estão sentindo, o que torna mais difícil determinar a prioridade e o tempo de espera adequado de alguns casos. Nesse cenário, a triagem — avaliação inicial para a classificação do nível de urgência — desempenha um papel crucial para que o atendimento das emergências seja mais rápido e eficiente, principalmente em países de baixa e média renda, como o Brasil, que possuem um sistema de saúde heterogêneo e que muitas vezes é carente de recursos. “Os sistemas de triagem pediátrica utilizados em outros países, muitos adaptados de sistemas originalmente desenvolvidos para adultos não pareciam adequados para o nosso meio: ou eram muito extensos e complexos, de difícil aplicabilidade, ou não contemplavam algumas particularidades pediátricas”, comenta a autora do estudo e pesquisadora do IDOR, Dra. Maria Clara de Magalhães-Barbosa.
Levando esses desafios em consideração, pediatras e pesquisadores do IDOR em pareceria com o Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ) desenvolveram, em 2012, uma ferramenta de triagem para a classificação de risco pediátrico em emergências, que buscava ser simples e objetivo, mas suficientemente completo, para garantir a adesão dos profissionais e a segurança dos pacientes. O instrumento, batizado de Clariped (Classificação de Risco em Pediatria), sugere a realização de triagens de 2 a 5 minutos, e seu sistema de classificação se baseia em critérios clínicos específicos à faixa etária, atribuindo um nível de urgência a cada paciente e associando cada nível a uma meta de tempo máximo de espera para o atendimento médico.
A ferramenta, que teve início como prontuário impresso e agora já está em sua terceira versão digital, é objetiva e de fácil uso, e diversos estudos vêm validando e aprimorando seu impacto e confiabilidade no atendimento pediátrico de urgência.
Como o desempenho da ferramenta já foi avaliado em estudos conduzidos em centros terciários na cidade de criação do Clariped, o Rio de Janeiro, os pesquisadores também se interessaram em investigar se a ferramenta estava mostrando o mesmo êxito em outras capitais brasileiras, como em São Paulo, e em diferentes infraestruturas hospitalares.
Para alcançar esse objetivo, uma análise prospectiva e observacional foi conduzida de setembro de 2018 a agosto de 2019, incluindo 24.338 pacientes pediátricos de 0 a 18 anos triados pelo Clariped digital em um centro pediátrico privado na cidade de São Paulo. O centro era de atenção secundária, ou seja, possuía mais infraestrutura que um posto primário de saúde, mas menos recursos que um centro de atendimento terciário, que costuma ter centros cirúrgicos e capacidade para a realização de exames mais complexos.
Segundo a análise final do estudo, a distribuição dos níveis de urgência na unidade secundária de saúde pediátrica foi:
🔴 VERMELHO (emergência): 0,02%
🟠 LARANJA (muito urgente): 0,9%
🟡 AMARELO (urgente): 23,5%
🟢 VERDE (pouco urgente): 47,9%
🔵 AZUL (sem urgência): 27,7%
Os pesquisadores ressaltam que os desfechos clínicos dos pacientes foram compatíveis com a urgência classificada pelo Clariped, com os pacientes mais urgentes (vermelho, laranja e amarelo) apresentando maior probabilidade de internação e uso de recursos hospitalares. A ferramenta demonstrou uma alta sensibilidade para distinguir os pacientes mais urgentes dos menos urgentes, e também alcançou alto valor preditivo e baixa taxa de subtriagem no serviço de emergência de nível secundário.
O Clariped também mostrou ser suficientemente simples para garantir uma boa adesão e um processo de triagem rápido, não ultrapassando o tempo estimado de 2 a 5 minutos durante as triagens observadas no estudo. No hospital, mais de 85% das visitas foram classificadas quanto ao risco com o uso do Clariped, representando uma excelente adesão à ferramenta e garantindo maior fluidez no atendimento de pacientes nas unidades de emergência.
Os pesquisadores destacam ainda que outros estudos seguem em andamento para aprimoramento do instrumento e maior garantia de sua validade e confiabilidade em diferentes contextos de saúde. O Clariped já foi adotado por serviços de emergência pediátrica de diversos hospitais da Rede D’Or em diferentes estados brasileiros. Esforços têm sido feitos para sua adoção em âmbito nacional, o que também servirá de base para padronização de dados nas unidades de emergência pediátrica em todo o país.
Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.