Os pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) em conjunto com outras instituições nacionais e University of Colorado Boulder publicaram na revista científica Hypertension da American Heart Association um estudo que avaliou os efeitos sistêmicos, ou seja, em todo o corpo humano da infecção aguda por SARS-CoV-2, em sobreviventes das formas grave de covid-19. 

Dos participantes do estudo, 19 pessoas não tinham infecções de covid-19 e as outras 19 estiveram hospitalizadas em enfermarias ou unidades de terapia intensiva (UTI) durante a fase aguda (quando o paciente apresenta os sintomas graves) da infecção por covid-19. 

O estudo demonstrou que os pacientes possuem um aumento na atividade nervosa simpática muscular, mesmo 3 meses após a hospitalização, sendo um fator de risco para a sobrevivência em diferentes tipos de doenças, com aquelas que afetam o coração e o sistema respiratório. O sistema nervoso simpático é o responsável por, entre outras funções, regular a pressão arterial, a frequência cardíaca, e a ação do músculo liso presente nos vasos sanguíneos que irrigam os tecidos do nosso corpo. Além disso, os pesquisadores também observaram disfunção vascular, caracterizada por aumento no enrijecimento da artéria aorta e danos no funcionamento das células endoteliais que revestem as paredes interna das artérias, que podem contribuir para o risco de doenças cardiovasculares, como infarto.  

Ao avaliar as alterações cardíacas, o estudo demonstrou que os pacientes apresentaram alteração na função diastólica cardíaca, sendo essa responsável pela entrada do fluxo sanguíneo no coração. Também foi observado que este grupo apresentou outros parâmetros alterados como um maior desempenho do miocárdio e maior dimensão do átrio esquerdo. Vale ressaltar que os pacientes sobreviventes de covid-19 não possuíam doenças cardiovasculares e ambos os grupos apresentavam pressão arterial semelhante. Os autores do estudo sugerem que essas alterações clínicas ainda precisam ser investigadas como transitórias ou se são efeitos de infecção pós-aguda de longo prazo, pois não foram encontradas disfunções no ventrículo direito ou biomarcadores cardíacos como o pró-BNP ou Troponina I, indicativos de insuficiência cardíaca. 

Quando os pesquisadores avaliaram a capacidade de realizar exercício físico em intensidade máxima dos pacientes, foi observado que o consumo máximo de oxigênio no grupo dos sobreviventes é menor quando comparado com o controle, mesmo com o esforço físico semelhante. Esse fato poderia estar ligado à atividade nervosa simpática muscular elevada, a disfunção vascular e alterações na função diastólica do coração, gerando a vasoconstrição que resulta em um comprometimento do fluxo sanguíneo muscular, ou seja, menor oxigenação nos músculos. Visto isso, foi possível demonstrar que a diminuição da capacidade de exercício deste grupo estava relacionada, principalmente, pelo descondicionamento do músculo esquelético já que é este o responsável por executar os movimentos do corpo. 

Os autores ressaltam a importância da avaliação cardiovascular em condições de estímulos ou excitação do sistema cardiovascular, como por exemplo, situações de estresse, já que o estudo foi conduzido em repouso. Porém, mesmo sem essa observação, outros achados da literatura sugerem que os sobreviventes de covid-19 apresentam respostas cardiovasculares anormais frente à um estímulo estressor. Os achados do estudo revelam a maior atividade neural simpática muscular, a rigidez arterial central aumentada, a função do endotélio vascular reduzida, alterações do funcionamento cardíaco associado a redução da capacidade de realizar exercício aeróbico.  

O próximo passo do estudo é avaliar se estes pacientes permanecem com essas alterações, após 12 meses da alta hospitalar. Além disso, esse grupo participará de uma reabilitação cardiopulmonar, visto que o treinamento físico melhora a função vascular. Essa terapia pode trazer respostas importantes para a reabilitação de pacientes com Covid longa, podendo colaborar para a melhoria da qualidade de vida nessa população, informam os pesquisadores.