Pesquisa entrevistou diferentes representantes de classe sobre melhorias nos vídeos da plataforma e pesquisadores visionam conteúdos mais curtos e que reflitam realidade das comunidades
Pesquisa entrevistou diferentes representantes de classe sobre melhorias nos vídeos da plataforma e pesquisadores visionam conteúdos mais curtos e que reflitam realidade das comunidades
Antes da pandemia de covid-19, o Brasil já não apresentava um amplo nem homogêneo acesso ao acompanhamento profissional relacionado a problemas de saúde mental, com muitas pessoas enfrentando dificuldades para acessar atendimento psicossocial, especialmente nas regiões mais desfavorecidas e em classes sociais mais baixas. Com a chegada da pandemia, o aumento dos casos de estresse, depressão e ansiedade exacerbou a falta de acesso a profissionais qualificados, intensificando um desafio que já existia na saúde pública do país.
Considerando o cenário, psicólogos e psiquiatras pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) acharam imperativo o desenvolvimento de soluções acessíveis que permitissem à população lidar com suas questões emocionais de forma autônoma e rápida. Foi então que surgiu a ideia inovadora de criar uma plataforma digital gratuita focada na promoção da saúde mental da população brasileira.
Lançada no final de 2020, em plena época de isolamento social, a plataforma disponibilizou 15 vídeos de curta duração, além de podcasts e textos abordando temas como controle da ansiedade, estratégias de terapia cognitivo-comportamental, psicologia positiva, mindfulness e terapia de aceitação e compromisso. Tendo os vídeos como principal conteúdo, durante as gravações os profissionais de saúde do IDOR ofereciam instruções autoguiadas, permitindo que os usuários realizassem intervenções rápidas e eficazes em casa. Essas gravações eram então editadas com animações para dar mais dinamismo e ilustração ao que estava sendo falado.
Toda a produção de conteúdo não faria muito sentido se não estivesse cumprindo o seu objetivo de informar a população, portanto os cientistas realizaram uma pesquisa para entender a recepção dos vídeos em diferentes grupos sociais, considerando participantes com idade de 19 a 69 anos.
Inicialmente foram entrevistados representantes de uma região menos favorecida socioeconomicamente, o Complexo da Maré, na cidade do Rio de Janeiro. Nesse grupo, foram considerados 12 agentes comunitários de saúde, 16 articuladores da Redes da Maré e 4 líderes da associação de moradores da Maré.
Posteriormente, foram entrevistados mais 7 participantes que se enquadravam em uma amostra mais favorecida socioeconomicamente, representando as classes A e B. Os resultados dessas pesquisas proporcionaram insights valiosos sobre a eficácia dos conteúdos para diferentes estratos sociais.
Embora em linhas gerais a recepção dos vídeos tenha sido positiva, os diferentes grupos trouxeram questões importantes para otimizar esse processo informativo. Um ponto relevante apontado pela população mais jovem e de classe mais alta era a duração dos vídeos, que tinham em média 8 minutos.
Já os representantes do complexo da Maré se sentiram mais desconectados do conteúdo devido à falta de representatividade racial nos vídeos, já que os pesquisadores que apresentam o conteúdo são brancos. Fora isso, algumas situações citadas nas intervenções não pareciam englobar a realidade da comunidade em que viviam, com acesso limitado a alguns recursos.
Outras críticas foram relacionadas à formalidade dos roteiros, que embora tenham linguagem acessível, estavam estruturados de maneira letiva, pouco natural, o que rendia pouco apelo ao conteúdo; e também foi mencionada a falta de representação em Libras nos conteúdos.
As sugestões dos entrevistados podem parecer detalhes para alguns, mas os pesquisadores apontam que ter um conteúdo adequado ao público é crucial para alcançar os objetivos de uma comunicação eficaz em saúde. Se alguém achar que o vídeo está longo demais, não vai o assistir até o fim, e o mesmo vai ocorrer se a pessoa não achar que o que está sendo dito reflete a sua realidade, e nessa desconexão é perdida também a oportunidade e impactar positivamente a saúde mental de grandes grupos da população.
O Portal IDOR de Saúde Mental não foi apenas uma resposta às urgências da pandemia, mas também um legado valioso para futuras ações em saúde mental no país. A plataforma contribuiu para a compreensão de como os materiais audiovisuais devem ser adaptados para atender às diversas necessidades culturais e sociais do país. E novos conteúdos adaptados às sugestões dos entrevistados já estão em produção para garantir que mais pessoas tenham acesso a intervenções com embasamento científico para desenvolver o autoconhecimento e autocontrole em situações que desafiam a saúde mental.
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