Em workshop realizado no IDOR, repórter Sônia Bridi defende a divulgação científica como ação política e social.
Na segunda-feira passada, 10 de fevereiro, a jornalista, escritora e repórter da Globo, Sônia Bridi, veio ao Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) compartilhar seus conhecimentos em um workshop voltado para a popularização da ciência. O evento foi o segundo de fevereiro, mês escolhido para abordar a divulgação científica no Instituto. O workshop de Bridi reuniu pesquisadores de instituições parceiras do IDOR, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Academia Brasileira de Ciências e o Instituto Serrapilheira, além de interessados externos que puderam se inscrever através da divulgação nas redes sociais do IDOR. A casa esteve cheia e houve ainda transmissão ao vivo para os mais de 70 inscritos que não puderam estar presencialmente na aula.
Conhecida principalmente por seu trabalho como repórter especial do Fantástico, na Globo, a catarinense Sônia Bridi certamente sabe contar uma história. Seja ela a do percurso cultural do Rio Ganges, na Índia, ou então de grandes questões da geografia humana e das mudanças climáticas no mundo, para a jornalista não existe informação que não possa ser entregue de forma compreensível. E a ciência não foge desse conceito: segundo Bridi, os pesquisadores deveriam agregar a difusão de suas descobertas como atividade essencial em seu trabalho, principalmente pelo cunho social e político de seu ofício. “Para começar, boa parte das pesquisas científicas são financiadas com dinheiro público, logo é direito da população saber desses resultados. Isso aumenta o respeito e o interesse pela ciência e por fazer ciência”, afirma.
Ela argumenta que apesar do conhecimento acadêmico nem sempre enxergar na mídia uma aliada, ambos jornalistas e cientistas são movidos por uma força comum: a curiosidade. “Duvidamos de tudo, questionamos e buscamos uma resposta”, ressalta. Ambos os ofícios possuem antes de tudo uma função muito importante na sociedade. “O conhecimento é o antídoto contra fake news, é um trabalho social que se faz contra o obscurantismo – que é um fenômeno que vem preocupando o mundo inteiro nos dias atuais”.
Baseada no Best Seller de Nancy Baron, Scape from the Ivory Tower, Bridi destacou em tópicos por que divulgar a ciência, seja de forma independente ou com apoio de profissionais da comunicação. Separamos abaixo alguns tópicos que servem como guia para ambos os casos:
Como acessar a mídia tradicional?
-Mande e-mail para repórteres com um assunto criativo que demonstre pessoalidade.
-Faça um follow up com uma ligação para o jornalista. Trabalhe o assunto junto com o jornalista para valorizar os destaques de sua pesquisa.
-Escreva um artigo para um jornal ou veículo falando de forma acessível da sua pesquisa.
Como facilitar o entendimento de uma pesquisa?
-Se puder, desenhe. Sejam processos celulares ou de engenharia, torne visível sua perspectiva.
–A maioria dos órgãos financiadores permitem que você inclua a divulgação científica em seu projeto, aproveite essa oportunidade.
Para ilustrar as sugestões de sua aula, Sônia Bridi convidou para a apresentação os integrantes do Projeto Mantis, iniciativa de dois biólogos e um designer que juntam pesquisa, arte e inovação. Com o inseto louva-a-deus como objeto de estudo, o projeto encontrou uma forma de tornar interessante um conteúdo aparentemente específico, que no final acabou aproximando do público geral imagens fantásticas de espécies raras e originadas no Brasil. “Trazer fascínio e deslumbre é a filosofia de nossa comunicação visual” informa o designer da equipe, que aposta em fotos artísticas de alta resolução, infográficos e outros recursos visuais para dar visibilidade ao conteúdo científico que também é desenvolvido pelo projeto, no caso, a catalogação de louva-a-deus raros e endêmicos da Mata Atlântica.
A partir dos adendos da equipe, Sônia Bridi retomou seu arsenal de estratégias para tornar conteúdos de pesquisa mais palatáveis, dentre elas, a importância da produção de imagens durante o processo, principalmente mostrando a pessoalidade do desenvolvimento de uma pesquisa, como o engajamento pessoal dos envolvidos e os plot twists do percurso. “Já oferecer aos jornalistas imagens de qualidade é muito mais interessante do que a produção gravar simulações artificiais de trabalhos em laboratórios”, relata, “Você está facilitando a narrativa da sua história”. Já para falar oralmente sobre sua ciência, seja para veículos ou para qualquer pessoa na rua, a repórter resume: “Seja coloquial, simplifique, use metáforas, seja colorido, vívido, crie imagens e, principalmente, dê a dimensão humana do que você faz”.
Como conclusão de sua oficina, a palestrante ofereceu seu contato para os participantes lhe enviarem vídeos divulgando suas pesquisas, assim ela poderia melhor assessorar aspectos como a qualidade da gravação e do conteúdo em questão, dando feedback sobre o impacto e transparência da produção. Para Sônia Bridi, esse papel é fundamental para a sociedade e principalmente para o país, tendo em vista o abismo social entre as pesquisas nacionais de ponta e a grande parte de uma população que sequer consegue compreender funcionalmente um texto mais complexo. “Simplificar não significa vulgarizar nem diminuir, ou banalizar, significa tornar acessível para todo mundo. E aí entra outra coisa, este país que produz ciência de altíssima qualidade tem uma grande dificuldade de alfabetizar. Já é uma injustiça terrível que muitas pessoas não tiveram acesso a uma educação de qualidade, aleijá-las do processo de conhecimento seria deixar ainda mais cruel essa realidade. Temos que pensar que as pessoas têm que ter direito de acesso ao conhecimento científico, e como o próprio verbo declara, esse conteúdo deve ser acessível”, concluiu a jornalista.
Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.