Em sua 5ª Nota Técnica, NOIS avalia progressão de casos em março de 2020 e compara taxas de duplicação entre países.
Em quinta nota técnica, lançada hoje, 1º de abril de 2020, o Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS) elaborou um relatório sobre a evolução da epidemia de COVID-19 no Brasil durante o mês de março. O NOIS, o qual o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) compõe, já lançava desde meados do mês passado outras notas técnicas com projeções de crescimento no número de casos da doença, assim como a necessidade de leitos para pacientes com coronavírus nos estados de Rio de Janeiro e São Paulo.
Até ontem, a Organização Mundial de Saúde (OMS) havia divulgado um total de 856.356 casos de coronavírus no mundo, sendo 5.717 destes casos confirmados no Brasil, com maior concentração no Rio de Janeiro (708) e em São Paulo (2.339). Em sua nota técnica anterior, o NOIS projetava o avanço do número de casos brasileiros até o dia 30/03, considerando vertentes média, pessimista e otimista para o país e para os principais estados afetados (RJ e SP).
Como pode-se observar na figura abaixo, as predições demonstraram uma acurácia significativa de mais de 80% para a projeção no Brasil. Os valores estimados para o país ficaram, em média, entre as projeções medianas e otimistas, reportadas no estudo anterior.
Nas projeções para RJ e SP, o estado do Rio de Janeiro apresentou resultado similar, com progressão estabelecida entre as linhas média e otimista. São Paulo, no entanto, seguiu completamente pela margem otimista, mas a nota técnica atual afirma que alguns fatores podem ter influenciado esses resultados, que podem estar reportando um número de casos consideravelmente menor que o verdadeiro.
Antes de tudo, todas as projeções de casos são proporcionalmente limitadas às mensurações oficiais do país, que apresentam dificuldades de precisão devido à ausência de uma política de testagem ampla e pelo atraso na obtenção dos resultados e notificações. No caso de São Paulo, esses obstáculos somaram-se a uma mudança na metodologia de notificação instituída pelo Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do estado, fazendo com que as notificações por meio do Sistema de Agravo de Notificação (SINAN) passassem a reportar apenas casos graves da COVID-19. Além disso, há relatos de um grande número de exames em atraso no estado, chegando a mais de 10.000 possíveis casos não analisados.
Esses fatores podem ter levado a uma subnotificação em SP, cujo número real de casos deve estar mais próximo da linha mediana das projeções, veja na Figura 3. No entanto, no dia 30 de março, o Ministério Público de Contas solicitou ao estado que não testasse somente os casos graves. Este fato pode ser uma das razões para o aumento ocorrido no dia 31 de março (2.339 casos), representando um crescimento de 54% em relação ao dia anterior.
Comparando o Brasil com outros países
Como um dos seus principais levantes, a nota técnica atual também buscou analisar a evolução da epidemia no Brasil comparando sua taxa de duplicação de casos com outros países. A Taxa de duplicação refere-se ao intervalo de dias levados para o número de casos dobrar em um país. Quanto maior essa taxa, mais sob controle está a progressão da epidemia. Para fazer essa comparação, o estudo considera como o Dia 0 (primeiro dia da epidemia) a data que cada país atingiu o 50º caso de coronavírus testado. Observamos isso na tabela abaixo.
Notam-se comportamentos bem diferentes entre cada país da tabela. Nos países orientais (China e Coreia do Sul) – que foram os primeiros a sofrer com a epidemia da COVID-19 – a doença tem uma taxa de duplicação muito rápida no início, mas, a partir do 11º dia, passa a ser mais lenta do que os outros países. Além disso, no 20º dia a Coreia do Sul já havia controlado o crescimento de casos, apresentando taxa de duplicação de 31 dias (seguida de dois dias com taxa de duplicação a cada 45 dias), e a China estava próxima disso, com duplicação a cada 27 dias.
Analisando os países europeus (Itália, Espanha, França e Alemanha), observa-se uma dificuldade em controlar a evolução da doença, de forma que no 20º dia essas nações ainda possuem taxas de duplicação relativamente baixas (duplicação a cada 3 a 5 dias, em alguns países).
A evolução da COVID-19 no Brasil se diferencia dos outros países da tabela. Nos 12 primeiros dias, o Brasil teve uma evolução rápida do número de casos confirmados. Esse crescimento, entretanto, foi um pouco mais lento do que o dos países europeus. A partir do 13º dia, o país passou a reduzir a taxa de duplicação e chegou no dia 19 com uma taxa de duplicação de 13,6 dias, enquanto os países europeus ainda apresentavam uma taxa de duplicação de 4 dias (Itália e Alemanha), 6 dias (França) e 7 dias (Espanha). Contudo, no último dia (D20), a taxa de duplicação do Brasil diminuiu de 13,6 para 4 dias, em virtude do aumento do número de casos confirmados em relação ao dia anterior. Ainda assim, nos últimos 3 dias (D18, D19 e D20), a taxa média no Brasil foi de 9,5 dias, seguindo melhor do que os países ocidentais no mesmo período.
Como defendido anteriormente, na terceira nota técnica do NOIS, a progressão positiva do Brasil em comparação aos países europeus e aos EUA pode ser um efeito das medidas de contenção, que foram tomadas em alguns estados brasileiros logo no início da pandemia. Entretanto, cabe ressaltar que a dissipação da doença ainda não está controlada, visto que o crescimento de casos confirmados segue notório, especialmente em direção à periferia das grandes cidades e das capitais para o interior. Destaca-se ainda que, diferentemente dos outros países, o Brasil determinou que em alguns de seus estados não fossem mais reportados os casos menos graves da doença. Este fato, além da falta de testes e da demora para obter os resultados, pode interferir em uma visão mais precisa da evolução da epidemia no país.
Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.