18 de junho é o dia mundial do orgulho autista. Como andam surgindo muitas notícias falsas sobre curas e causas da condição, achamos importante desmistificar a veracidade dessas informações
Recentemente, várias matérias desmascararam uma “pílula mágica”, que prometia a cura de várias doenças como câncer, AIDS, malária e também se dizia uma solução para o transtorno do espectro autista (TEA). O remédio não era aprovado pela Anvisa, mas estava disponível em várias farmácias de manipulação e era conhecido pelo nome MMS, iniciais de solução mineral milagrosa, em inglês. Sua composição consistia em clorito de sódio e ácido clorídrico, substâncias altamente danosas para o organismo, que faziam com que o corpo expelisse fragmentos do próprio trato intestinal.
Apesar de prometer a solução para diversas enfermidades, foi entre os familiares de crianças autistas que o MMS encontrou seu alvo principal. Segundo Walter Valdevino, professor do Departamento de Filosofia da UFRRJ e pai de um filho com TEA, a solução ter prometido atuar no trato digestivo pode ter sido um apelo aos familiares que convivem com crianças na condição. “Quando a gente vê matérias em jornais tratando essa questão, é importante, porque estão explicitando que a substância é tóxica e não deve ser usada. Mas, ninguém se pergunta por que os pais estão fazendo essa ligação entre o caso do autismo e o intestino de seus filhos”.
É comum pessoas com autismo possuírem distúrbios alimentares e irregularidades intestinais, e muitas pesquisas científicas estão começando estudar essa possível relação entre o TEA e a microbiota de seus portadores. A microbiota consiste no conjunto de bactérias e outros microrganismos que habitam nosso trato gastrointestinal, e cujo desequilíbrio pode causar desde sintomas de mal-estar até o surgimento de enfermidades mais graves. Porém, o psiquiatra e coordenador de neurociência do IDOR, Dr. Paulo Mattos, afirma que esse tipo de estudo ainda está no começo, e que não podemos tomar decisões precipitadas. “Estudos recentes mostraram que, quando você consegue modificar a microbiota do indivíduo com autismo com uma composição que veio de um indivíduo sem autismo, os sintomas de autismo melhoram. Esses achados são muito interessantes porque abrem novas perspectivas de estudo, novas possibilidades para entendermos melhor o que está causando o autismo e como podemos tratá-lo de forma mais eficaz. Entretanto, é importante saber que não existe nenhum tratamento aprovado, e não existe pílula mágica que possa ser dada para pessoas com autismo”, informa o especialista.
Dr. Paulo Mattos, que também já deu entrevista sobre a falsa associação entre a vacinação e o surgimento de autismo, é coordenador do Centro de Neuropsicologia Aplicada (CNA), localizado no IDOR. O CNA realiza exames neuropsicológicos detalhados, que podem diagnosticar casos de autismo. Segundo o psiquiatra, outros boatos sobre as causas do TEA já foram desmascarados, a exemplo da reprodução assistida, como a fertilização in vitro e a inseminação artificial, que também foram falsamente acusadas de causar autismo.
De qualquer maneira, é imprescindível contar com profissionais especializados, ainda que o diagnóstico nem sempre seja rápido. “Algo que noto é a dificuldade que você tem de diagnóstico, alguns profissionais sequer conseguem levantar suspeita e encaminhar para outro especialista. Há também o grande problema de que pessoas sem recursos têm mais dificuldade, o sistema público não consegue dar conta disso, os tratamentos são muito caros”, informa Walter Valdevino. Nesses casos, também é muito importante que os familiares de pessoas com autismo estejam em contato com uma rede de apoio, e é ainda mais indicado que essa rede conte com o intermédio de profissionais da área.
Observando o crescente número de diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista e a necessidade de orientar os pais a compreenderem melhor as questões da criança e do adolescente com este diagnóstico, o Hospital Rios D’Or, da Rede D’Or São Luiz, oferece um trabalho de orientação e acolhimento para estas famílias. A iniciativa conta com a participação de profissionais especialistas em Autismo, que a cada mês trazem temas diferentes com objetivo de ampliar a rede de informações para o público, estimulando também a troca de experiência entre os participantes e um melhor relacionamento entre os membros da família.
Se você é ou conhece familiares de pessoas com TEA, o evento é gratuito e aberto para a comunidade, ocorrendo sempre na terceira segunda-feira do mês, às 17h, no Auditório do Hospital. Você pode se inscrever ligando para o número (21) 2448-3646, ou entrando em contato pelo e-mail [email protected].
Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu e Luiza Ugarte.