A sepse, infecção hospitalar generalizada e comumente adquirida em UTIs, é foco de pesquisa do Dr. Fernando Bozza no IDOR
Hoje em dia, e principalmente após o pico de uma crise sanitária mundial como a pandemia de covid-19, é muito difícil desconsiderar os perigos que seres microscópicos como vírus, germes e bactérias são capazes de nos posicionar. O que por sua vez não é um conhecimento tão popular é que, muito antes da pandemia, esses agentes invisíveis já causavam outros problemas gravíssimos de saúde pública a nível internacional. Um desses grandes desafios sanitários que persistem até hoje é o controle da sepse, uma infecção generalizada que acomete muitos pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é responsável por 11 milhões de óbitos anualmente.
A sepse, causada principalmente por bactérias, é uma infecção sanguínea grave caracterizada por inflamação generalizada (sistêmica), que faz com que o sistema imune reaja de forma intensa, afetando vários órgãos e tecidos do paciente. Em uma UTI, é comum encontrar pacientes em tratamento, com o sistema imune fragilizado e diversas doenças concentradas no espaço. Isso é benéfico por várias razões, já que a os centros de tratamento intensivo possuem maior monitoramento, além mais profissionais e máquinas de suporte em prontidão para controle de emergências. Contudo, o ambiente também se torna propício para bactérias e germes perigosos, precisando de um controle restritivo para conter as possíveis infecções por esses agentes, além de constantes pesquisas e aprimoramentos no atendimento para reduzir ainda mais essas contaminações. Entender as implicações da sepse a longo prazo na vida dos pacientes e buscar maneiras de reduzir a mortalidade da doença em UTIs são dois dos principais temas de pesquisa do Dr. Fernando Bozza, coordenador de pesquisa em Terapia Intensiva no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz.
O Dr. Bozza, cientista de reconhecimento internacional no tema, está em quarto lugar no ranking de pesquisadores que mais publicam sobre a sepse, segundo a plataforma da Elsevier que permite levante de dados sobre desempenho de publicações e benchmarks de instituições de pesquisa, o Scival. Seu grupo de pesquisa possui diferentes focos de investigação na doença, sendo um deles as disfunções que ela acarreta ao Sistema Nervoso Central. Os pesquisadores buscam detalhar como o processo ocorre e sugerir estratégias terapêuticas e para os pacientes com comprometimento psicológico e cognitivo gerado por infecções graves.
A outra linha de investigação do grupo tem como objetivo o melhor entendimento das infecções causadas por germes multirresistentes em UTIs brasileiras, buscando otimizar a prescrição de antibióticos, que ainda são a principal forma de tratamento para doenças bacterianas mais graves. Nesses estudos, a equipe de Bozza utiliza técnicas modernas de machine learning e grandes bases de dados (big data) de UTIs. Funciona da seguinte forma: dados de centenas e de UTIs são fornecidos por diversos hospitais colaboradores. Essas informações são então interpretadas por uma inteligência artificial que define padrões estatísticos e consegue, por exemplo, identificar pacientes com maior risco de contrair infecções por germes multirresistentes. A partir dessas informações os pesquisadores passam a desenvolver protocolos e ferramentas de apoio para melhor utilização de antibióticos nesse grupo de risco.
“No momento, nosso grupo trabalha na integração de grandes bases de dados clínicos, visando melhorar a utilização de antibióticos e identificar mais precocemente os pacientes de risco para essas infecções por germes multirresistentes. Também buscamos com isso otimizar o atendimento prestado pelas equipes de medicina intensiva e fornecer um cenário epidemiológico sobre germes multirresistentes nas UTIs brasileiras”, comenta o Dr. Fernando Bozza, que revela que suas pesquisas também trabalham uma interface prática e educacional, voltada para as equipes de atendimento em UTIs.
“Esse modelo educacional possui módulos de treinamento e capacitação, educação quanto às principais recomendações nacionais para prescrição de antibióticos (através dos algoritmos obtidos em estudos de big data) e um módulo voltado para exposição do cenário em tempo real de sepse nas UTIs do país”, conclui o pesquisador, informando que o modelo educacional ainda está sendo construído e que seu grupo foca atualmente no estudo analítico da sepse em UTIs brasileiras.
Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.