O estudo avaliou a eficácia e segurança do medicamento em pacientes com translocação do gene RET
O estudo avaliou a eficácia e segurança do medicamento em pacientes com translocação do gene RET
O Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) teve uma importante participação no estudo multicêntrico de fase III LIBRETTO-431, que avaliou a eficácia e segurança do selpercatinibe em comparação ao tratamento controle, que consistia em quimioterapia à base de platina associado ou não ao pembrolizumabe (inibidor de ponto de checagem imune) em câncer do pulmão de células não pequenas (CPCNP). A pesquisa foi publicada no New England Journal of Medicine (NEJM), uma das mais importantes publicações científicas na área médica e contou com a Dra. Milena Perez Mak, pesquisadora do IDOR e oncologista clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
O câncer de pulmão é um dos mais comuns no mundo todo e se destaca pela alta letalidade. Dentre os subtipos de câncer de pulmão, o CPCNP é o mais frequente, respondendo por aproximadamente 85% dos casos. Ele se origina nas células dos brônquios e alvéolos dos pulmões.
O estudo avaliou a eficácia de selpercatinibe em pacientes com CPNPC que possuíam alterações genômicas no gene RET. A terapia em questão foi baseada em um inibidor de RET, cujo objetivo é bloquear a ação do gene anormal responsável pela proliferação de células cancerígenas. A associação da quimioterapia ao pembrolizumabe é o tratamento padrão para pacientes com CPNPC avançado, no entanto, sua eficácia é incerta em pacientes com translocação do gene RET. Desta forma, foi realizada a comparação entre ambas as terapias, com o objetivo de determinar qual dos tratamentos é mais eficiente quando utilizados em primeira linha.
Foram incluídos no estudo 261 pacientes de 23 países que possuíam CPNPC avançado com translocação do gene RET, no período de março de 2020 a agosto de 2022. Estes pacientes foram randomizados, isto é, distribuídos aleatoriamente nos grupos de tratamento ou controle. Com a randomização, os pesquisadores podem ter mais confiança de que qualquer diferença observada nos resultados é devido ao tratamento em estudo e não a diferenças preexistentes entre os grupos.
Os resultados mostraram que pacientes que receberam o selpercatinibe apresentaram um ganho significativo na sobrevida livre de progressão do câncer, alcançando 24,8 meses, comparado a 11,2 meses no grupo controle.
Os pesquisadores também avaliaram a eficácia dos medicamentos em lesões intracranianas, pois muitos pacientes com CPCNP avançado podem desenvolver metástases no cérebro. No início do estudo, foram identificados 42 pacientes com metástases cerebrais. O selpercatinibe foi capaz de tratar metástases existentes no sistema nervoso central e prevenir a formação de novas metástases intracranianas. Este dado é relevante, uma vez que o tratamento de metástases cerebrais é um desafio, devido à presença da barreira hematoencefálica que impede a ação de grande parte dos medicamentos oncológicos em lesões no cérebro.
Outro ponto avaliado foi a segurança do tratamento. Os pacientes tratados com o selpercatinibe apresentaram uma efeitos adversos diferentes da quimioterapia, incluindo aumento de enzimas hepáticas, com controle após ajuste de doses e hipertensão.
Os autores destacaram a importância de realizar testes moleculares no momento do diagnóstico para viabilizar a escolha mais adequada da terapia em primeira linha para essa população de pacientes.
“Este estudo representa a importância da seleção adequada de tratamento para pacientes com câncer de pulmão conforme a característica molecular do tumor. Através do emprego da medicina de precisão é possível obter melhores resultados conforme demonstrado por este estudo. Além disso, a participação de nosso centro reforça a qualidade da pesquisa no Brasil e possibilidade de inclusão de pacientes brasileiros em estudos clínicos internacionais”, declara a Dra. Milena Mak.