Promovendo no país a criação de uma rede de pesquisadores interessados neste novo campo da ciência, o Instituto é um dos parceiros fundadores do Centro de Biologia Quântica na UCLA, através do qual grupos de pesquisa brasileiros estarão conectados com pesquisadores de todo o mundo
O Instituto D´Or de Pesquisa e Ensino – IDOR – anuncia uma parceria inédita com a Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA) para a criação do Centro de Biologia Quântica na UCLA. Membro fundador e parceiro estratégico da iniciativa, que é liderada na Califórnia pela engenheira quântica brasileira Clarice Aiello, o IDOR se junta a outras três instituições nesta criação: National Science Foundation (NSF), Kavli Foundation, e Gordon e Betty More Foundation. O Centro de Biologia Quântica ficará sediado no California NanoSystems Institute (CNSI), localizado dentro do campus da UCLA. O projeto vai contribuir para o desenvolvimento da ciência e de talentos brasileiros, posicionando-os para troca de informações e conhecimento com pesquisadores de todo o mundo em um novo ramo da ciência: a biologia quântica. O
“Esta é uma parceria estratégica que o IDOR está estabelecendo, apoiando de maneira pioneira, com o intuito de ser um facilitador da criação de um grupo de pesquisadores de biologia quântica. A parceria do IDOR com o Centro de Biologia Quântica na UCLA passa pela criação de uma rede de cientistas brasileiros que trabalham com o tema e que vão poder trocar conhecimentos e ideias com outros pesquisadores ligados ao Centro”, explica Sergio Ferreira, Professor Titular da UFRJ e Diretor de Parcerias Científicas e Relações Internacionais do IDOR.
“Existe uma expectativa em torno da biologia quântica, se comprovadas certas suspeitas de que processos quânticos possam acontecer em sistemas biológicos. Caso tais fenômenos venham a ser comprovados e possam ser manipulados, isso poderá criar uma outra revolução tecnológica, inclusive na área médica”, destaca Jorge Moll Neto, cofundador do IDOR e Presidente do Conselho Administrativo do Instituto.
A parceria com o Centro de Biologia Quântica na UCLA é um dos projetos que irão compor uma nova iniciativa denominada IDOR Global – Ciência Pioneira. O programa visa a internacionalização da ciência brasileira por meio da criação e do fortalecimento de parcerias do IDOR com instituições internacionais de ponta, criando novas oportunidades para enviar pesquisadores brasileiros para o exterior e para receber cientistas estrangeiros. O investimento em pesquisas em áreas de fronteira da Ciência, que buscam o conhecimento mais profundo da natureza, será o grande diferencial do projeto.
“O IDOR está comprometido com esse campo e com o avanço da ciência brasileira. Este projeto abre oportunidades para um tipo de pesquisa que talvez não seja fomentada por órgãos tradicionais. Mesmo que ainda possam demorar 15, 20 anos para o nascimento de uma indústria de biologia quântica, acreditamos que, atuando desde o início como agora, vamos conseguir abrir oportunidades de carreira para estes cientistas brasileiros pioneiros. Não podemos perder uma linha de pesquisadores nesta área que desejam aplicar seus conhecimentos”, diz Clarice Aiello, líder do Centro de Biologia Quântica na UCLA.
Neste sentido, e já atuando dentro da parceria com a UCLA, o IDOR está sendo precursor no Brasil em fomentar e estimular a formação da comunidade de biologia quântica no País, que já teve uma primeira reunião em agosto. Este encontro contou com a participação de cerca de 100 pesquisadores das áreas de física e biologia, a maioria formada por PhDs (42%), seguidos por alunos de graduação (20%) e doutorandos (14%). Esta comunidade abre, primeiramente, um círculo de discussão com cientistas em todo o Brasil que estão trabalhando em áreas correlatas à biologia quântica. A partir da parceria do IDOR com a UCLA e com a rede internacional, já formada com a liderança da Clarice Aiello, o objetivo é promover a conectividade do grupo brasileiro para fazer colaborações e participar de reuniões conjuntas com grupos estrangeiros também ligados à iniciativa.
“Primeiro, queremos criar um senso de comunidade a respeito do tema no Brasil. Queremos que as pessoas tomem conhecimento de que este movimento está sendo feito. Em seguida, a ideia é usar esta conectividade com a UCLA para abrir portas para estes grupos brasileiros fazerem contribuições para fora, se assim desejarem, e gerar oportunidades para estudantes de doutorado e pós-doutorado que venham a trabalhar na área, seja no IDOR, em instituições parceiras nacionais ou na UCLA”, ressalta Sergio Ferreira.
Como parte das atividades da comunidade brasileira está o ciclo de palestras Quantum Bio Brasil Talks, realizado mensalmente, na última sexta-feira do mês, com abordagens de temas de interesse da área. A primeira palestra, realizada pela Clarice Aiello, abordou aspectos gerais da física de spins. Os encontros são abertos e gratuitos, mediante inscrição pelo site https://bit.ly/QuantumBioBR.
O Centro de Biologia Quântica na UCLA
Liderado pela brasileira Clarice Aiello, professora assistente de engenharia elétrica e da computação na Samueli School of Engineering da UCLA e membro do California NanoSystems Institute (CNSI), onde o projeto está sediado dentro do campus da UCLA; o Centro de Biologia Quântica pretende formar uma rede internacional de pesquisadores multidisciplinares e com interesses em biologia quântica para promover encontros para troca de ideias e favorecer o desenvolvimento de projetos de pesquisa na interface da física com a biologia.
A missão do California NanoSystems Institute (CNSI) é impulsionar os investimentos públicos e privados para pesquisas em nanociência nas interfaces entre disciplinas, traduzir as descobertas em conhecimento orientado para aplicações comerciais e formar a próxima geração de cientistas e engenheiros.
“Queremos responder a seguinte pergunta: a natureza usa ou não usa mecânica quântica para processos biológicos importantes? As evidências sugerem que, em curtos espaços de tempo, certos processos parecem ser influenciados pela mecânica quântica, e de um jeito que faz diferença macroscópica e que ajuda no funcionamento biológico”, explica Aiello.
A biologia quântica, uma área nova da ciência e que ainda está se estabelecendo no mundo, é o encontro de duas áreas de conhecimento: a biologia, que estuda a vida e os organismos vivos, e a física quântica, que trata de fenômenos que ocorrem na esfera atômica ou subatômica, ou seja, abaixo do átomo, como elétrons, prótons, e fótons.
Já existem evidências de que a mecânica quântica rege fenômenos no campo biológico, como, por exemplo, no funcionamento de enzimas, que catalisam reações químicas no organismo. E parece que processos como o controle metabólico dos tecidos e a respiração celular também sofrem implicações quânticas. As aplicações biológicas dos achados destes estudos, que não estarão disponíveis tão cedo pela novidade da área, podem ir desde diagnóstico a novos tratamentos médicos.
“É muito importante começar a pensar que, ao que parece, temos ‘botões’ quânticos endógenos e que, talvez, possamos aprender a fazer uma sintonização desses botões para que possamos orientar processos fisiológicos. Por exemplo, os radicais livres. Parece que eles podem ser controlados no campo magnético, em um processo que é consistente com um fenômeno quântico. Será que conseguimos entender como controlar a produção de radicais livres com campos magnéticos e ter implicações fisiológicas no caso de processos inflamatórios no organismo?”, destaca Aiello
Fenômenos essencialmente quânticos já estão presentes em nosso dia a dia com contribuições importantes e vitais, por exemplo, na área da medicina diagnóstica como a ressonância magnética – um processo quântico que foi instrumentalizado para a área médica, provocando uma grande revolução no imageamento de órgãos e estruturas biológicas.
“Da mesma forma que alguns fenômenos quânticos já serviram de base para o desenvolvimento de uma área de diagnóstico, pode ser que estudos a partir da óptica e da biologia quântica e a criação de novos detectores quânticos permitam, por exemplo, o desenvolvimento de novas técnicas de imagem para detectar diretamente proteínas alteradas em tumores. É uma área que também pode vir a auxiliar no entendimento de como os nossos sentidos funcionam, como o olfato e a visão”, completa Sergio Ferreira.
Escrito por Mayara Benatti.