Pesquisadores brasileiros desenvolveram um escore que permite prever o risco de desenvolvimento de Lesão Renal Aguda (LRA) em pacientes com Covid-19. O estudo foi realizado em parceria entre o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), a Rede D’Or (Hospital Vila Nova Star e Hospital São Luiz Itaim), Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/FIOCRUZ e a Faculdade de Medicina do ABC e publicado na revista científica BMC Nephrology. 0. Do time de pesquisadores do IDOR participaram da pesquisa o Dr. Thiago Romano, coordenador da pós-graduação Lato Sensu em Terapia Intensiva da Faculdade IDOR e o Dr. Fernando Bozza, médico e pesquisador em saúde pública da Fiocruz e coordenador de pesquisa em Terapia Intensiva no IDOR.
Frequentemente usados na avaliação clínica de um paciente internado em unidades de terapia intensiva (UTI), o escore prognóstico permite prever a evolução e gravidade de um paciente desde o momento de sua admissão. As complicações sistêmicas causadas pela Covid-19, como por exemplo a LRA contribuem para uma maior complexidade do tratamento e estão associadas à maior mortalidade nesses pacientes.
O estudo incluiu 1131 pacientes com Covid-19 internados na UTI em 23 hospitais diferentes no Brasil, no período de 10 de janeiro a 30 de agosto de 2020. “Contamos com a colaboração das UTIs da Rede D’Or nacionalmente, demonstrando que, além da questão de excelência assistencial há um gerenciamento de dados e potencial de pesquisas como esta que tem o potencial de melhorar o cuidado de nossos doentes”, resume o Dr. Romano, que também coordena a UTI Geral do Hospital Vila Nova Star e a UTI Oncológica do Hospital São Luiz Itaim.
As variáveis selecionadas para a elaboração do escore prognóstico foram idade, diabetes, uso de inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA), doença renal crônica e hipertensão. O critério utilizado para definir a LRA foi o aumento da creatinina presente no sangue em 0,3 mg/dL em 48 horas ou uma alteração da creatinina ≥ 1,5 vezes o valor da faixa normal em 1 semana.
É importante relembrar que a enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2) atua no sistema renina-angiotensina-aldosterona, um importante regulador da pressão arterial e da estabilidade renal. Porém, os receptores de angiotensina também foram reconhecidos como porta de entrada do SARS-CoV-2 nas células. O IECA e o BRA atuam no sistema, protegendo as células renais.
A idade média dos pacientes foi em torno dos 52 anos e 60% eram homens. As comorbidades mais comuns incluíam a hipertensão e diabetes. Os resultados mostraram que 33% dos pacientes desenvolveram LRA, dos quais 78% não necessitaram de diálise. A mortalidade geral foi de 11%, enquanto a taxa de mortalidade para os pacientes com LRA foi de 21%.
O Escore foi intitulado de COV-AKI (Covid-19-AKI, do inglês, acute kidney injury) e apresentou um bom desempenho na análise de calibração, indicando resultados semelhantes entre o risco previsto pelo escore e o realmente observado nos pacientes com Covid-19 para o desenvolvimento de LRA.
O escore deve permitir aos médicos identificar precocemente os pacientes com Covid-19 o maior risco de desenvolver LRA, possibilitando intervenções prévias para minimizar o impacto da lesão renal. Os autores destacam que ainda é necessário avaliar a eficácia da escore em outros cenários de internação, como as enfermarias.
A pesquisa ressalta a importância do monitoramento e da identificação precoce de pacientes com Covid-19 que estão em maior risco de desenvolver uma lesão renal aguda, uma vez que essa complicação pode levar a um aumento da morbidade e mortalidade. O Escore COV-AKI pode ser facilmente calculado à beira do leito, sem a necessidade de testes laboratoriais complexos ou variáveis clínicas difíceis de calcular diariamente, tornando-o também apropriado para aplicação em países com recursos limitados.
Escrito por Manuelly Gomes
Supervisão: Dr. Claudio Ferrari