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Estudo explora a possibilidade de diagnóstico precoce da doença de Alzheimer pela análise da forma do cérebro

Estudo explora a possibilidade de diagnóstico precoce da doença de Alzheimer pela análise da forma do cérebro

Pesquisa do IDOR utiliza método inovador e preciso para identificar demência através de imagens de ressonância magnética

A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência em todo o mundo. Apesar de ser muito estudada há décadas, não há ainda uma cura ou tratamentos eficazes para a contenção da doença. Entretanto, quando diagnosticada em estágio inicial, aumentam as chances de se conseguir retardar seu avanço e proporcionar mais qualidade de vida aos pacientes.

Do ponto de vista clínico, em sua fase inicial, o Alzheimer se caracteriza por um comprometimento cognitivo leve, uma condição que também pode estar presente em muitos idosos e que não obrigatoriamente evoluirá para uma demência. O diagnóstico precoce da neurodegeneração continua sendo bastante desafiador, demandando uma avaliação neuropsicológica, e pelo menos um marcador alterado em exames de neuroimagem ou em análises do fluido cerebrospinal (líquido presente no cérebro e a medula espinhal).

Considerando os desafios para a identificação da doença de Alzheimer e os benefícios que o diagnóstico precoce pode proporcionar, pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) exploraram uma abordagem promissora para discernir os cérebros saudáveis daqueles afetados pela doença, por meio da análise de suas características morfológicas. O estudo foi publicado na revista Scientific Reports.

O Conceito das Dobras Corticais

A abordagem em questão direciona um olhar específico para as dobras corticais, que são responsáveis pela textura enrugada que conhecemos no cérebro. Essas características morfológicas da superfície cerebral podem ser estudadas para indicar as possíveis alterações estruturais associadas a condições neurodegenerativas através da métrica “K”, uma variável específica para o estudo das dobras corticais em diferentes espécies animais, incluindo os humanos.

A métrica K − que foi desenvolvida pelos pesquisadores brasileiros Dr. Bruno Mota e Dra. Suzana Herculano-Houzel, em 2015 −, nada mais é do que uma lei natural que demonstra que o número de dobras do cérebro não depende do tamanho do órgão nem está relacionado à quantidade de neurônios. Segundo essa teoria, a formação de dobras no cérebro é determinada pela espessura e pela extensão da superfície do córtex cerebral, que é a área mais externa do cérebro, também conhecida como massa cinzenta.

Como a métrica é capaz de discriminar características morfológicas no cérebro de pacientes com Alzheimer, os pesquisadores do IDOR decidiram testar o quão eficiente seria essa discriminação, comparando com os resultados de indivíduos saudáveis e de pessoas com comprometimento cognitivo leve, que poderiam ou não desenvolver Alzheimer no futuro.

Detalhando o Estudo

Para o estudo foram incluídos 121 voluntários idosos, que realizaram exames de ressonância magnética para avaliação das dobras corticais. Dos participantes, 13 tinham Alzheimer, 31 apresentavam comprometimento cognitivo leve e 77 compunham o grupo controle formado por indivíduos saudáveis.

Sabe-se que a doença de Alzheimer é caracterizada pela atrofia cerebral e perda de massa cinzenta, resultando na redução da espessura cortical. Essas reduções de volume são particularmente aparentes no lobo temporal (associado à memória e linguagem) e no hipocampo (relacionado ao aprendizado). Na pesquisa, essas diferenças nas dobras corticais ficaram muito claras nos indivíduos com Alzheimer, mostrando diferenças também no lobo parietal (responsável por informações sensoriais) dos pacientes com a demência.

Esses resultados apontam que a métrica K tem excelente precisão para indicar pacientes com a doença de Alzheimer, distinguindo-os dos controles saudáveis ou daqueles com comprometimento cognitivo leve. Contudo, essa acuidade não se mostrou a mesma para diferenciar os indivíduos saudáveis daqueles com comprometimento leve, conseguindo apenas apontar uma diferença significativa na análise do lobo temporal desses participantes. Mas ainda que sutil, essa alteração já poderia configurar um marcador importante para a prática clínica.

Correlação morfológica do Alzheimer com sintomas cognitivos e marcadores clínicos

Para enriquecer a investigação, os pesquisadores verificaram ainda se as mudanças morfológicas relacionadas à doença de Alzheimer também estariam correlacionadas com variáveis clínicas e biomarcadores encontrados no fluido cerebrospinal. Eles encontraram correlações significativas entre as dobras corticais e a função executiva, a memória e a cognição global dos pacientes, de forma que a gravidade dos sintomas cognitivos foi associada à diminuição da espessura cortical.

Em avaliação do fluido cerebrospinal, os marcadores tradicionais do Alzheimer − a concentração das proteínas tau e beta-amilóide – também estavam relacionados aos resultados encontrados através da métrica K. A diminuição da dobra cortical (K mais baixo) foi associada a concentrações elevadas de tau e de sua razão com a beta-amiloide nos exames.

Dobras corticais são indicadores relevantes para a identificação do Alzheimer

Os resultados do estudo evidenciam que a métrica K é capaz de distinguir pacientes com a doença de Alzheimer daqueles com comprometimento cognitivo leve e de indivíduos saudáveis. Além disso, os pesquisadores comprovam que os danos estruturais indicados por K se correlacionam com outras características da demência, como o declínio cognitivo e as alterações bioquímicas no fluido cerebrospinal.

Essas descobertas sugerem que a métrica K pode ser uma alternativa viável como indicador de neurodegeneração, ainda que os cientistas enfatizem a importância de expandir o estudo com um maior número de participantes para investigar mais a fundo esse recurso na prática clínica.

A primeira autora do trabalho, Dra. Fernanda Hansen, destaca que a atual pesquisa foi a primeira a estudar a métrica em um contexto clínico. Pós-doutoranda da UFRJ em parceria com IDOR, a pesquisadora explica que a partir da métrica foi criada uma linha investigativa completamente nova no IDOR, que pretende estudar em outras patologias e malformações, como as acarretadas pela zika e agenesia do corpo caloso.

Para além de indicar a possibilidade de maior facilidade para o diagnóstico da doença de Alzheimer, esse estudo lança luz sobre o potencial de estudos envolvendo as dobras corticais para fornecer insights clínicos e de pesquisa, não apenas sobre as bases biológicas da doença de Alzheimer, mas também sobre o envelhecimento saudável.

Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.

10.03.2024

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