Estudo brasileiro publicado na
edição de 09 de outubro de 2017 da revista Scientific
Reports (do grupo Nature)
identificou mudanças na função sináptica e plasticidade neural causadas por um
composto da família das dimetiltriptaminas, conhecido como 5-MeO-DMT.
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“Pela primeira vez foi possível
descrever alterações nas proteínas do tecido cerebral humano exposto a uma substância
psicodélica”, afirma Stevens Rehen, líder da pesquisa, professor titular da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Diretor de Pesquisa do
Instituto D’OR de Pesquisa em Ensino (IDOR).
Estudos recentes têm demonstrado que
substâncias como LSD (dietilamida do ácido lisérgico), MDMA
(metilenodioximetanfetamina), além da bebida ayahuasca, que contém DMT,
apresentam potencial terapêutico. Em particular, compostos da família da DMT
estão relacionados à redução da resposta inflamatória e efeitos
antidepressivos, conforme revelado por pesquisas científicas em animais e
humanos.
Para desvendar os efeitos do 5-MeO-DMT
sobre as proteínas do cérebro, duas pesquisadoras, Vanja Daki? do IDOR e
Juliana Minardi Nascimento, também do IDOR e Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), expuseram minicérebros humanos, estruturas tridimensionais de tecido
neural, a uma única dose do psicodélico. Minicérebros, organoides cerebrais
criados a partir de células-tronco reprogramadas, estão entre as grandes
novidades para o estudo do tecido neural humano em laboratório.
Utilizando análise proteômica de
última geração, as pesquisadoras identificaram que quase mil proteínas
cerebrais estavam alteradas após exposição à substância psicodélica. O passo
seguinte foi mapear quais seriam essas proteínas e as funções que desempenham
no cérebro humano.
Vanja Daki? e Juliana Nascimento identificaram
que proteínas importantes para a formação e manutenção de sinapses estavam
presentes em maior quantidade. Dentre elas, algumas envolvidas em fenômenos de
aprendizado e memória, essenciais para o funcionamento do cérebro.
Por outro lado, proteínas envolvidas
com inflamação, degeneração e lesão cerebral foram encontradas em quantidades
reduzidas, indicando um potencial de neuroproteção do 5-MeO-DMT a ser estudado.
“Os
resultados sugerem que psicodélicos clássicos são poderosos ativadores da
plasticidade neural, uma ferramenta de transformação psicobiológica que apenas
começamos a entender” comenta Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e co-autor do estudo. “Além da relevância para a
compreensão dos mecanismos terapêuticos dos psicodélicos, a pesquisa demonstra
a vanguarda da ciência brasileira no estudo desse tipo de substância”, completa
Draulio Araujo, professor titular da UFRN e também co-autor.
“Nossos resultados ratificam o
potencial clínico de substâncias banidas por questões políticas e que merecem
total atenção da comunidade médica e científica”, finaliza Stevens Rehen.
O estudo é fruto da colaboração
entre o IDOR, UFRJ, UNICAMP e UFRN, e foi financiado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundações de Amparo à Pesquisa
dos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo (FAPERJ e FAPESP), Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Agência Financiadora de Estudos e Projetos
(FINEP), e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Referência: Short term changes in the
proteome of human cerebral organoids induced by 5-MeO-DMT. Disponível online: www.nature.com/articles/s41598-017-12779-5