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Estudo avalia impacto da Telemedicina em UTIs

Estudo avalia impacto da Telemedicina em UTIs

Estudo com participação do IDOR e centros internacionais investiga o efeito do atendimento multidisciplinar remoto em UTIs brasileiras 

A telemedicina tem sido cada vez mais adotada nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para suprir a escassez de intensivistas e proporcionar um atendimento multidisciplinar mais amplo. Recém-publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA), um estudo com a participação do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e outros centros de pesquisa no Brasil, Reino Unido, Austrália e Espanha, analisou o impacto de uma intervenção baseada em teleatendimento remoto, avaliando se esse modelo de cuidado poderia reduzir o tempo de internação em UTIs. 

O cuidado a pacientes críticos se beneficia de uma abordagem multidisciplinar que une especialistas de diversas áreas para otimizar os diagnósticos e tratamentos. Nos ambientes de UTI, a presença de médicos intensivistas e outros profissionais especializados é essencial para garantir os melhores desfechos clínicos. Contudo, a escassez desses especialistas, principalmente fora dos centros urbanos, representa um grande desafio para a saúde pública global. 

Neste cenário, a telemedicina surge como uma solução para levar o conhecimento desses profissionais a locais mais distantes, permitindo que UTIs recebam apoio remoto de diferentes especialistas. Porém, apesar das promessas, os resultados observados se mostram bastante variados, indicando a necessidade de mais estudos para se compreender sua eficácia. 

Estudo TELESCOPE: uma análise do teleatendimento nas UTIs brasileiras 

Com o intuito de explorar o potencial da telemedicina, os centros de pesquisa de formularam o estudo TELE-critical Care verSus usual Care on ICU PErformance (TELESCOPE). O principal objetivo foi avaliar se uma intervenção estruturada de teleatendimento poderia reduzir o tempo de permanência nas UTIs brasileiras. Essa intervenção consistia em rounds multidisciplinares diários realizadas por um intensivista remoto, além de reuniões mensais para revisão de indicadores de desempenho, ambas por meio de telemedicina. 

O estudo foi realizado em 30 UTIs públicas do Brasil, abrangendo todas as regiões geográficas, entre junho de 2019 e abril de 2021, e envolvendo 17.024 pacientes adultos. Durante o período de intervenção, rounds multidisciplinares diários foram realizados com o apoio de um intensivista certificado, que discutia com a equipe local hipóteses diagnósticas e planos de tratamento. Mensalmente, o intensivista remoto também participava de reuniões virtuais com líderes locais para análise dos indicadores das UTIs. A intervenção foi complementada com a disponibilização de 19 protocolos clínicos em formatos textual e audiovisual, promovendo o uso de diretrizes baseadas em evidências. 

Análise dos dados do estudo e desafios na implementação da telemedicina 

Após comparar os resultados com os dados de outras UTIs que utilizaram procedimentos-padrão (sem uso da telemedicina), os pesquisadores não observaram uma diferença significativa no tempo de internação entre o grupo que recebeu teleatendimento e o que manteve o cuidado usual. A média ajustada de permanência foi de 8,1 dias no grupo teleassistido e 7,1 dias no grupo de cuidado padrão. Outros desfechos, como taxas de mortalidade e incidência de infecções associadas a dispositivos, também não apresentaram diferenças relevantes. 

Os autores comentam que alguns fatores podem explicar esses resultados neutros. Primeiramente, a adesão à intervenção foi variável entre as UTIs participantes, e o envolvimento da equipe local é crucial para a eficácia do teleatendimento. Além disso, as UTIs incluídas apresentavam perfis heterogêneos de pacientes, equipes e recursos, o que pode dificultar a implementação uniforme de intervenções remotas. Outro ponto é que parte do estudo ocorreu durante a pandemia de covid-19, e a combinação de pacientes graves com carência de recursos e de pessoal em algumas UTIs sugere que o modelo de telemedicina testado pode não ser robusto o suficiente para atender à complexidade desses contextos. 

O estudo TELESCOPE reforçou as potencialidades e desafios da telemedicina nas UTIs. Embora essa ferramenta seja promissora para suprir a falta de especialistas em regiões distantes, sua eficácia depende da estrutura e do engajamento locais. Os resultados sugerem que o modelo de telemedicina precisa ser adaptado às especificidades das UTIs para que possa, de fato, melhorar o cuidado aos pacientes críticos. As descobertas do estudo contribuem para uma compreensão mais ampla sobre o papel da telemedicina e a necessidade de modelos personalizados para atender à realidade de diferentes unidades. 

03.12.2024

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