A ativação ou desativação de genes pode ocorrer por experiências adversas na vida, e essas configurações podem ser passadas dos pais para os filhos
Entender o desenvolvimento infantil desde a concepção, descobrir o impacto de infecções e outros agravos durante a gestação e buscar otimizar a qualidade do atendimento hospitalar infantil são algumas das principais linhas da pesquisa em pediatria no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR). Engana-se, porém, quem entende que o campo investiga apenas a saúde e o bem-estar de bebês e recém-nascidos.
Há um novo cenário científico compreendendo que, na época em que nosso organismo está em desenvolvimento – como nos períodos embrionário, fetal e pós-natal –, a ocorrência de determinados fatores adversos pode aumentar a nossa suscetibilidade a doenças crônicas na idade adulta, como diabetes, obesidade, problemas cardiovasculares e até transtornos mentais. Essa vertente de estudo é chamada de DOHaD (acrônimo para o que no inglês significa “origens desenvolvimentistas da saúde e doença”), e um dos temas mais investigados dentro do campo é a epigenética, a ciência que pesquisa como o ambiente em que vivemos interage na nossa expressão gênica, ou seja, na ativação ou silenciamento de determinados genes.
“Quando a gente fala em alteração genética, implica necessariamente em uma mutação, uma mudança na sequência das bases que compõem o DNA. A epigenética não é isso”, inicia o Dr. Arnaldo Prata, médico pediatra, docente, pesquisador e coordenador da área de pediatria do IDOR. “Se todas as células do nosso corpo têm todos os genes, o nosso DNA completo, como se transformam em células específicas, seja um cardiomiócito no coração, ou um neurônio? Para isso, são desativados os inúmeros genes que não são de interesse para a função daquela célula específica, e só funcionam os genes gerais de funcionamento celular e os relativos àquela especificidade. Essa ativação e desativação é um processo que não causa mutação do DNA, mas ainda assim é capaz de causar impactos relevantes, que podem ser inclusive transmitidos de pais para filhos. Isso é epigenética.”, explica.