A PAC no Brasil
Levando em consideração que um histórico epidemiológico mais detalhado do problema seria muito relevante para guiar medidas mais efetivas de prevenção e tratamento da PAC, o atual estudo teve como objetivo analisar a epidemiologia e os desfechos clínicos de pacientes com PAC internados em hospitais públicos brasileiros durante uma década, de 2011 a 2021.
Para realizar a pesquisa, os autores executaram uma análise retrospectiva das internações por PAC no Sistema Único de Saúde Brasileiro (SUS) entre 2011 e 2021. Os dados foram colhidos principalmente do DATASUS, e continham informações demográficas, causas de internação e os desfechos clínicos dos pacientes com PAC, que consideravam a taxa de mortalidade hospitalar e tempo de internação nas UTIs. O estudo considerou apenas pacientes adultos, totalizando na análise de 3,3 milhões de internações no período selecionado.
Um dos líderes da pesquisa, o Dr. Rodolfo Espinoza, doutorando do IDOR e médico da Rede D’Or e do Instituto Nacional do Câncer, comentou que a pneumonia gera sobrecarga no sistema de saúde, e que cerca de 10% dos pacientes idosos internados apresentam o problema. Contudo, não há informações suficientes para a implementação de medidas de contenção mais efetivas nas UTIs, o que levou o pesquisador e a sua equipe a levantar esses dados no sistema público. “Para identificar os casos no sistema público de saúde, tivemos acesso a microdados de 170 milhões de internações hospitalares do SUS nesse período de dez anos, então filtramos essas informações de acordo com os códigos compatíveis com a pneumonia”, detalha.
Os primeiros resultados apontaram que entre 2011 e 2019 houve uma modesta redução na taxa de internação por PAC nas UTIs do sistema público, porém, no mesmo período, o número de mortes no ambiente hospitalar cresceu em 31,5%.
Observando mais detalhadamente o padrão no crescimento da taxa de mortalidade hospitalar, os pesquisadores identificaram que a letalidade para pacientes internados em UTIs reduziu em 12% no período de 2011 a 2019, sendo que o número de mortes fora da UTI cresceu durante esse mesmo intervalo, aumentando em 27,4%.
Considerando o período de pico da pandemia de covid-19, os anos de 2020 e 2021 demonstraram uma redução nas internações por PAC quando comparados com 2019. Isso pode ter ocorrido devido às medidas de isolamento social adotadas durante a pandemia, que não só retardaram o contágio pela covid-19 como também contiveram a disseminação de outras doenças infecciosas.
Essa redução de internações por PAC durante a pandemia não refletiu, contudo, em outras taxas analisadas: entre 2019 e 2021 houve uma maior ocupação das UTIs por PAC (6,1% em 2019 e 9,8% em 2021) e houve também um aumento da letalidade em pacientes com PAC internados fora das UTI (6,54% em 2019 e 8,16% em 2021).