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Atividades físicas moderadas e dieta rica em vegetais e óleo de peixe podem contribuir para o controle de sintomas obsessivos e compulsivos

Atividades físicas moderadas e dieta rica em vegetais e óleo de peixe podem contribuir para o controle de sintomas obsessivos e compulsivos

Estudo coordenado pelo IDOR buscou entender como o estilo de vida afeta os sintomas dentro do espectro obsessivo-compulsivo, como o TOC e o transtorno dismórfico corporal

Publicado na revista Australian & New Zealand Journal of Psychiatry, um novo estudo apontou que sintomas do espectro obsessivo-compulsivo podem ser reduzidos por meio da adoção de um estilo de vida considerado mais saudável, que incorpora uma alimentação anti-inflamatória (rica em vegetais, peixes oleosos e prática regular de atividades físicas moderadas). A pesquisa foi coordenada pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com as universidades de Monash e Deakin, na Austrália.

Já sabemos que um estilo de vida saudável, com boas rotinas de sono, alimentação e exercícios físicos, é um modelo amplamente recomendado por médicos para a prevenção de doenças crônicas e especialmente de problemas cardíacos, influenciando também a longevidade e a qualidade de vida das pessoas.  Quando falamos em saúde mental, é ainda pouco explorada a relação entre o estilo de vida e os sintomas de transtornos psicológicos e psiquiátricos, mas o tema vem emergindo de forma progressiva na comunidade científica.

Embora já existam muitas evidências de que intervenções no estilo de vida podem aliviar sintomas da depressão e da ansiedade, não há ainda muitos estudos que abordam como diferentes hábitos podem impactar os sintomas do espectro obsessivo-compulsivo, que se caracterizam por comportamentos repetitivos subclínicos ou por diagnósticos como o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), o transtorno de acumulação, o transtorno dismórfico corporal, a tricotilomania (extração compulsiva de cabelos e pelos) e a dermatilomania (escoriação compulsiva da pele).

Estilo de vida e sintomas obsessivos-compulsivos

Algumas expressões acima podem até parecer raras, porque não ouvimos esses termos no dia a dia, mas os comportamentos compulsivos são mais comuns do que se imagina. É estimado que 13 a 21% da população experiencie sintomas obsessivo-compulsivos, e mesmo que esses traços não cheguem a caracterizar o diagnóstico de um transtorno, eles já são significativamente onerosos para a vida das pessoas, causando angústias e problemas em aspectos pessoais e profissionais da vida.

Para saber mais sobre como elementos do estilo de vida pode afetar a população clínica que é acometida por esses problemas, os autores do estudo analisaram respostas de mais de 800 pessoas da comunidade, com ou sem sintomas do espectro obsessivo-compulsivo. Esses dados foram coletados em duas etapas através de questionários on-line, que avaliavam a intensidade dos sintomas e os hábitos diários dos participantes com 3 meses de diferença entre as primeiras e as últimas respostas. As perguntas tinham principal interesse em quatro aspectos da rotina dos participantes: qualidade do sono, apoio social, alimentação e prática de exercícios físicos.

O grupo do IDOR e outros pesquisadores da área já haviam demonstrado que pessoas com sintomas obsessivo compulsivo apresentam uma tendência a praticar menos exercícios físicos e a apresentar comorbidades cardiovasculares e metabólicas, assim como menor longevidade em comparação com quem não possui distúrbios de saúde mental. Essas inclinações, segundo os pesquisadores, foram um ponto de partida para a hipótese de que os hábitos desses indivíduos poderiam agravar ou atenuar seus sintomas.

A suposição estava correta. Os resultados do questionário confirmaram que uma dieta de baixa qualidade, sono ruim, falta de atividade física e apoio social insuficiente estavam associados a uma maior gravidade dos sintomas obsessivo-compulsivos a longo prazo. Contudo, a alimentação e a prática de exercícios se mostraram ainda mais relevantes que os outros hábitos para essa população clínica.

Alimentação saudável reduz sintomas obsessivos-compulsivos

As respostas dos questionários revelaram que o consumo excessivo de comidas gordurosas foi associado ao aumento de comportamentos repetitivos e invasivos entre os participantes do estudo. Além disso, o baixo consumo de vegetais e de peixes oleosos (como atum, salmão e truta) também estiveram relacionados a uma maior gravidade dos sintomas obsessivo-compulsivos, enquanto a presença recorrente desses alimentos no cardápio mostrou uma redução dos mesmos sintomas.

Os pesquisadores comentam que essa relação corrobora outros achados científicos que defendem uma dieta anti-inflamatória como um recurso para a redução de sintomas em pessoas com sintomas do espectro obsessivo-compulsivo. Uma alimentação ideal para essas pessoas seria, portanto, um cardápio essencialmente natural, rico em vegetais, gorduras boas, como as encontradas nos peixes e no abacate, e reduzida em carnes vermelhas e alimentos processados ou ricos em sódio e açúcar.

A pesquisa indica que os profissionais de saúde mental nem sempre atentam para a sugestão de mudanças alimentares como uma intervenção relevante para a redução dos sintomas de seus pacientes, e resultados como esses podem servir como um estímulo para que o apoio a um estilo de vida saudável faça parte da prescrição e tratamento das pessoas com o problema.

Exercícios físicos moderados são mais eficientes que os intensos

Se as pessoas que não praticavam atividades físicas mostraram sintomas obsessivo-compulsivos mais severos, isso significa que quanto mais intensos os exercícios, mais brandos serão os seus sintomas, correto?

Segundo a pesquisa, não é bem assim que essa relação funciona. No caso dessa população clínica, os exercícios de intensidade moderada, como caminhar, dançar e fazer hidroginástica são mais recomendados que as atividades intensas, como correr ou pedalar em alta intensidade.

Os cientistas explicam que, embora todas essas atividades tragam benefícios de saúde, a atividade vigorosa tem a característica de causar mais estresse ao organismo e maior perda calórica, enquanto a moderada melhora funções cognitivas, o fluxo sanguíneo no cérebro e o poder de inibição de impulsos, que são aspectos mais relevantes para a redução de sintomas do espectro obsessivo-compulsivo. As respostas mostraram que a duração dessas atividades moderadas também era importante, pois os participantes que praticavam esses exercícios por mais tempo durante a semana relataram uma redução ainda maior dos seus sintomas no segundo questionário, realizado ao fim de 3 meses.

Mudança no estilo de vida pode fazer parte de tratamentos

A pesquisa revela suas limitações, sendo uma delas a redução dos participantes na segunda etapa do questionário, que resultou em uma amostra 30% menor após os 3 meses do estudo. Ainda assim, os resultados da publicação têm implicações clínicas muito importantes e reiteram a importância de hábitos saudáveis de alimentação e exercício físico como intervenções a serem consideradas no controle de sintomas obsessivo-compulsivos.

É sempre importante lembrar que culpabilizar os indivíduos por seus estilos de vida é uma ação injusta, pois desconsidera as particularidades da realidade de cada pessoa, entre elas condições financeiras, disponibilidade de tempo e até fatores como segurança do ambiente e acessibilidade a diversos recursos.

O estudo não busca forçar padrões ideais de comportamento para pessoas com que já sofrem com problemas obsessivos-compulsivos. Segundo os autores, seu principal objetivo é conscientizar os profissionais de saúde sobre a importância de intervenções no estilo de vida, pois mostram resultados reais e sem efeitos adversos, que podem ser um recurso adicional a tratamentos tradicionais como a terapia cognitivo-comportamental e a prescrição de inibidores da recaptura de serotonina, que são terapias muito comuns para pessoas com diagnósticos como o TOC.

Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)

Para problemas do espectro obsessivo-compulsivo, é cientificamente comprovado que a terapia cognitivo-comportamental (TCC) consegue trazer melhora para boa parte dos pacientes. Mas você sabia que a TCC também tem diferentes especialidades?

A terapia de aceitação e compromisso, também chamada de ACT, é uma terapia cognitivo-comportamental cujo objetivo é aumentar a flexibilidade psicológica de seus pacientes. Essa terapia é baseada em estratégias de aceitação, mindfulness e compromisso com os valores importantes para a pessoa, a fim de obter mudanças de comportamento que podem também ser mudanças de estilo de vida.

A ACT acredita que o sofrimento humano surge a partir de uma inflexibilidade psicológica, e isso pode fazer com que as pessoas tenham dificuldade em agir de acordo com as decisões que consideram as melhores para si.

Na Graduação em Psicologia do IDOR, os alunos aprendem sobre todos os caminhos que podem trilhar como futuros profissionais da saúde, e se beneficiam de todo o corpo docente e infraestrutura tecnológica de uma instituição internacionalmente reconhecida por suas pesquisas científicas.

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Escrito por Maria Eduarda Ledo Martins de Abreu.

28.02.2024

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